Câmara do Porto responsabiliza Governo pela segurança pública

Presidente da Junta do Bonfim condena “actos de justiça popular” e espera que a investigação seja “célere”. Rui Moreira falará sobre o ataque a imigrantes amanhã de manhã na reunião do Executivo.

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Rui Moreira remete para amanhã de manhã uma declaração sobre os ataques a imigrantes no Porto Nelson Garrido
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A Câmara Municipal do Porto lembra que não detém competências em matéria de segurança pública e que esta é "uma responsabilidade do Ministério da Administração Interna e das autoridades policiais sob sua tutela".

"Ainda assim, fruto da forte visibilidade da Polícia Municipal [PM] na cidade do Porto e dentro do princípio de complementaridade e articulação de esforços com a PSP, a PM executa policiamentos de visibilidade nas zonas mais críticas da cidade, onde existe forte afluência e permanência de pessoas no espaço público, bem como nos cenários onde existe recorrência de fenómenos criminais", referiu, em declarações à Agência Lusa, acrescentando que nestes casos, como o que aconteceu na madrugada de sexta-feira no Porto, com um ataque a imigrantes, "os contornos são outros", competindo também à Polícia Judiciária investigar, uma vez que está em causa a suspeita de crimes de ódio.

O presidente da Junta de Freguesia do Bonfim, onde na madrugada de sexta-feira ocorreram os ataques contra migrantes no Porto, condenou este domingo os "actos de justiça popular" e disse esperar que as investigações policiais sejam céleres.

"Condeno este tipo de justiça popular acima de tudo. Não faz sentido nenhum", afirmou o presidente da junta. Em declarações à Lusa, João Aguiar esclareceu que os desacatos e assaltos no Bonfim começaram no final do ano passado, mas que desde o início deste ano se agudizaram.

O autarca, que em Março se reuniu com os comerciantes e moradores devido "a vaga" de assaltos nos estabelecimentos comerciais e na via pública, afirmou que a PSP se mobilizou e respondeu prontamente aos pedidos da junta, reforçando a sua acção em determinadas zonas, como no Campo 24 de Agosto.

“Depois dessa reunião fiquei mais alerta. Falei com a polícia e o comandante prontificou-se a destacar efectivos para o terreno. A partir daí as coisas começaram a acalmar um pouco”, referiu, acrescentando, no entanto, que os comerciantes relatam que quando a polícia se ausenta os desacatos permanecem.

Saudando a polícia pelo “trabalho célere”, João Aguiar defendeu, no entanto, a necessidade de o efectivo ser reforçado. “Neste momento, como as coisas estão a escalar é preciso reforçar”, considerou, dizendo também esperar que as investigações policiais às agressões “sejam céleres”.

“Vamos aguardar pelo desfecho das investigações”, salientou, dizendo “não querer alimentar o racismo e o ódio”.

“Somos a freguesia mais multicultural que existe na cidade do Porto”, dando como exemplo a Rua Fernandes Tomás, onde coexistem há vários anos “uma loja turca, cabeleireiro africano, supermercado coreano e um restaurante brasileiro”.

“Todos eles a queixarem-se da segurança por parte de determinado grupo”, acrescentou.

Na madrugada de sexta-feira, ocorreram três ataques e agressões a imigrantes na zona do Campo 24 de Agosto, na Rua do Bonfim e na Rua Fernandes Tomás. Segundo a PSP, os ataques foram feitos por vários grupos, tendo cinco imigrantes sido encaminhados para os hospital devido aos ferimentos.

Até ao momento, as vítimas dos ataques não contactaram a junta de freguesia, afirmou João Aguiar, acrescentando que tenciona, na segunda-feira, destacar duas assistentes sociais para visitar os migrantes e acompanhar a situação.

Na sequência das agressões, seis homens foram identificados e um foi detido pela posse ilegal de arma.

À Lusa, João Aguiar adiantou estar prevista uma reunião entre a junta, comerciantes, moradores e o Comando Metropolitano da PSP do Porto para a segunda quinzena deste mês.

A Câmara do Porto adiantou hoje, em comunicado, que o presidente, Rui Moreira, irá pronunciar-se sobre os ataques no início da reunião do executivo de segunda-feira, agendada para as 09h30. Os ataques "racistas" foram condenados pelo primeiro-ministro e pelo presidente da República, bem como por líderes de vários partidos políticos, que pediram uma punição "exemplar" e apontaram o dedo ao perigo da normalização da extrema direita radical.