Espanha acaba com o Prémio Nacional de Tauromaquia (pelo menos deste ano)

O Ministério da Cultura espanhol, tutelado por Ernest Urtasun, não vai entregar o Prémio Nacional de Tauromaquia deste ano. O objetivo é eliminar definitivamente a distinção.

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Prémio Nacional de Tauromaquia foi entregue pela primeira vez em 2013 Miguel Manso
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O Prémio Nacional de Tauromaquia espanhol não vai ser entregue este ano e o objectivo do Ministério da Cultura do país é que seja definitivamente suprimido. A notícia é adiantada pelo El Diario e foi entretanto confirmada pelo El País. Com este feito, Ernest Urtasun considera, numa publicação na rede social X, que foi dado um passo importante para adaptar as nossas instituições à Espanha 2024”.

As críticas às touradas por parte do ministro não são novas. Ainda durante a campanha eleitoral já tinha expressado que, em caso de vitória, privilegiaria a protecção e o bem-estar animal e a vontade de proceder “à revogação da Lei 18/2013 sobre a protecção cultural e patrimonial da tauromaquia”, limitando a participação de menores “em espectáculos cruéis com animais” e a “supressão do financiamento público de espectáculos tauromáquicos com a morte do animal”.

A 10 de Março, em entrevista ao El País, o próprio sublinhou que a sua posição sobre assunto era muito clara e que embora reconhecesse que a prática é um símbolo da tradição espanhola, considera que as “tradições evoluem” e que “há uma maioria social de espanhóis cada vez mais consciente do bem-estar animal”, como voltou a frisar esta manhã na rede social X.

Já a 4 de Janeiro deste ano, o movimento “No Es Mi Cultura” registou uma Iniciativa Legislativa Popular para pôr em marcha um processo que, a partir da subscrição dos cidadãos, levaria a debater no Congresso a proibição ou a regulação de espectáculos tauromáquicos. Em apenas seis meses, a iniciativa juntou meio milhão de assinaturas. Em Fevereiro, a mesa do Congresso aceitou a tramitação. A iniciativa conta com o apoio de organizações de protecção animal e do ambiente e ainda de protecção de crianças e associações culturais.

Segundo o relatório de Estatística dos Assuntos Taurinos de 2022, inserido no Ministério da Cultura, apenas 1,9% dos espanhóis assistiu aos espectáculos de tauromaquia entre 2021 e 2022, menos 5,9 pontos percentuais em relação a 2019. Além disso, a quantidade de festejos tauromáquicos, em Espanha, caiu de 3651 em 2007 para 1546 em 2022. O relatório revela ainda que algumas regiões do país, como as Canárias e a Catalunha, não celebram corridas de touros. Já noutras, como é o caso da Galiza, Astúrias, as Ilhas Baleares, Melilha, Cantábria ou La Rioja, estas práticas não existem.

Outros estudos, como é o caso de uma pesquisa da SocioMétrica para o El Español, revelam que mais 50% da população espanhola é a favor da proibição ou da limitação das touradas. De acordo com o estudo da Fundação BBVA, “Visão e Atitudes em relação aos Animais da Sociedade Espanhola”, 8 em 10 pessoas acreditam que faz sentido atribuir a dignidade aos animais.

O Prémio Nacional de Tauromaquia foi atribuído pela primeira vez em 2013, altura em que Francisco Ojeda González foi vencedor. O último prémio, com um valor de 30 mil euros, foi atribuído no ano passado a Julián Lopez El Juli, altura que coincidiu com o fim de uma carreira que estava em pé há 25 anos.

Texto editado por Renata Monteiro

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