Protesto em Paris contra “limpeza social” provocada pelos Jogos Olímpicos

O movimento Reverso da Medalha contesta o desalojamento de imigrantes e sem-abrigo em Paris, à frente do Ministério do Interior.

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Sem-abrigo em Paris são despejados devido aos Jogos Olímpicos CHRISTOPHE PETIT TESSON / EPA
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Em resposta à expulsão, no dia 30 de Abril, de 100 imigrantes que acampavam à frente da Câmara Municipal de Paris, o movimento Reverso da Medalha (na formulação oiginal, Le Revers de la Médaille) manifestou-se, na noite desta quarta-feira, contra a política seguida pelo Ministério do Interior de França.

À semelhança do que aconteceu a propósito dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, há vários meses que a polícia francesa executa rusgas, de modo a retirar sem-abrigo e imigrantes das ruas da capital.

O movimento reivindicativo fala de "limpeza social" e preocupa-se com a possibilidade de que aquele que será o maior evento alguma vez organizado em Paris deixe um legado de exclusão.

O Reverso da Medalha já conseguiu reunir-se com todos os outros ministérios, que se mostraram solidários com a causa. No entanto, o Ministério do Interior, o único que se manteve silencioso, é precisamente aquele que tutela os espaços públicos e, portanto, o único que poderá dar uma resposta efectiva ao problema.

"A forma como os sem-abrigo são despejados, o desmantelamento de acampamentos e o assédio a trabalhadores do sexo. Tudo está nas mãos do Ministério do Interior. E todos os ministérios com que nos reunimos apontam para o ministro Gérald Darmanin. Enviámos muitas cartas com perguntas às quais ele nunca responde. Por isso hoje fazemos uma acção muito simbólica para pedir ao ministro do Interior uma reunião, uma simples reunião", afirmou Antoine De Clerck, coordenador do movimento, citado pela Euronews.

Saída de Paris não é alternativa

O pedido de reunião foi simbolicamente feito através de um envelope de grandes dimensões colocado dentro do edifício do ministério. O grupo pretende sugerir uma abordagem semelhante àquela que o país teve com os refugiados da Ucrânia, nomeadamente a criação de centros de recepção e redireccionamento para alojamentos de emergência.

Outros grupos de ajuda humanitária alertam para o facto de não serem oferecidas soluções viáveis aos desalojados. Na rusga de 30 de Abril, foi sugerida a possibilidade de alojar os sem-abrigo em Angers, uma cidade a quase 300 km de Paris, mas muitos não aceitaram. Para muitos desalojados, a saída da capital não é uma alternativa, uma vez que são requerentes de asilo com datas marcadas para comparecer em tribunal.

Estas situações aumentam todos os anos na Primavera, chegado o término das limitações dos despejos, concedidas devido ao frio do Inverno. No entanto, as organizações humanitárias alertam para a intensificação em massa deste fenómeno, exponenciado pelos Jogos Olímpicos de Paris, a acontecer entre 26 de Julho e 11 de Agosto de 2024.

A rusga executada à frente da Câmara Municipal de Paris não foi um evento isolado. A 17 de Abril já haviam sido desalojados, pelo menos, 400 migrantes, daquele que era um dos maiores edifícios de ocupação em França, um antigo edifício de escritórios, em Vitry.

A zona de Vitry tinha duplicado a sua população recentemente devido à expulsão de imigrantes de outras zonas de ocupação que foram fechadas por se encontrarem no epicentro dos Jogos Olímpicos.

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