Sete poisos para degustar Vila do Conde
Prazeres às mesas de Vila do Conde, por entre a tradição e alguns clássicos, novíssimos luxos e luxos já com pergaminhos, dos petiscos e peixes na brasa a uma cozinha japonesa superlativa.
Da renascida frente ribeirinha à marginal atlântica e vielas de antigamente, a Princesa do Ave tem-se remoçado também na restauração. Clássicos que honram a tradição marinheira e a ruralidade convivem agora com as novas abordagens e conceitos, cozinhas de assinatura, gastronomias de múltiplas origens, ousadias e experiências variadas. Há uma saborosa e convidativa diversidade, um desafio ao prazer da degustação que começa a converter a cidade da foz do Ave também em emergente destino gastronómico.
Da atractiva beira-rio às preservadas ruelas da zona mais antiga até à frente marítima e balnear, os tempos mais recentes têm multiplicado a oferta de diversidade e qualidade. Como exemplo, os gastronómicos Rio by Paulo André (critica na página seguinte) ou o Oculto que o estrelado chef Vítor Matos por estes dias abre no Mosteiro de Santa Clara, aos quais aqui se agrega um breve roteiro com sete destinos possíveis para saborear a Vila.
O Cangalho
Cuidado gastronómico e ambiente acolhedor
Na marginal ribeirinha, mesmo de frente à marina de recreio e à nau quinhentista, é talvez o melhor exemplo do interessante compromisso entre tradição e modernidade. É como entrar em casa de família, ainda por cima com aquele estilo carinhoso e cozinha competente a condizer.
Ambiente acolhedor, com alguma memorabilia e louças de colecção a decorar as paredes, amesendação cuidada e elegante e serviço em conformidade. A carta acompanha a oferta de mercado, com carnes seleccionadas e peixes e legumes do dia primorosamente cozinhados. Tanto no tacho como na grelha, ou no forno — consoante as receitas.
Em visita recente, cozinha exemplar com o salmonete grelhado ou o polvo no tacho com arroz de grelos. Nas sobremesas, a tarte merengada é de prova obrigatória, a oferta de vinhos é diversificada e com preços para todos os apetites.
Embora a esplanada voltada ao rio duplique a capacidade, a sala interior valoriza sempre a experiência. Dada a reduzida dimensão — uns 30 lugares —, é sempre aconselhável a marcação antecipada.
Rua Cais das Lavandeiras 48
Tel. 912 835 769. Instagram
Terça a sáb., das 12h30 às 15h e das 20h às 23h
Ikigai Omakase
Cozinha japonesa superlativa
É muito mais que a refeição a ida ao Ikigai. É uma experiência imersiva na cozinha japonesa onde, embora só tenha que desfrutar e saborear, cada comensal se sente também parte integrante de toda a dinâmica.
João Vitorino — trabalhou no original Ichiban, no Porto — é o chef oficiante, numa espécie de sessão aberta onde conta com o apoio da mulher, Leila. Gostam de explicar que é como uma ida ao teatro. Lugar reservado com antecedência e ocupar o lugar à hora marcada (20h, de quinta a sábado), para desfrutar na plenitude.
Doze lugares apenas à volta do balcão quadrado dentro do qual tudo se desenrola. Das algas e legumes às sopas, cozinhados, quentes, frios e crus, são 14 as degustações, marcantes e inesquecíveis, a que acrescem ainda duas sobremesas.
Uma experiência gastronómica garantidamente superlativa, entre a atenção à mestria do cozinheiro, a conversa sobre as técnicas e os conceitos, os cortes, as facas, os legumes e a variedade de peixes, maioritariamente do mar dos Açores. Apetece aplaudir!
Há uma carta de sakes (dizem que dos melhores) e também alguns vinhos, mas o desafio é que cada cliente leve vinhos da sua escolha para sublinhar a experiência. Superlativa!
Rua da Costa 5
Tel. 914 062 079. Instagram
Quinta a sábado, às 20h
Menu: 80€
Restaurante São João
Clássico renovado
Os mais antigos e saudosos do circuito automóvel lembram-se do Praia Azul e da famosa curva. Com o arranjo urbanístico e recuperação da duna, resta a praia com o mesmo nome, tendo sido demolido o edifício que acolhia o bar e restaurante, sendo que este como que apenas atravessou a rua.
Instalou-se na única moradia que hoje resiste naquela avenida frente ao Atlântico, numa espécie de hibernação da qual acordou nos últimos anos com a mudança geracional. Sobrevive a cozinha tradicional, com os pratos domingueiros como os assados, o cozido e carnes ou o polvo, a par de uma carta mais alargada com variedade de oferta, incluindo peixes e mariscos.
Num estilo dinâmico e despachado, que inclui os pratos do dia ao longo da semana, o renovado São João é agora um espaço movimentado, amplo, moderno e arejado, aberto à rua e com convidativa esplanada, servindo ao longo de todo o dia. E nunca fecha.
Avenida do Brasil 582
Tel. 252 631 275. Site
Todos os dias, das 12h às 15h e das 19h às 22h30
Mosteiro
Cozinha de conforto em ambiente de luxo
É a novidade recente, mas com a garantia de uma cozinha experiente e reconhecida. Instalado no debaixo das amplas arcadas do Convento de Santa Clara, é um dos dois restaurantes do recém-aberto The Lince Hotel — o outro, de vocação gastronómica e cozinha de autor é o Oculto —, o Mosteiro é um restaurante vocacionado para a cozinha de conforto, com os tradicionais assados de cabrito e vitela, bacalhaus, arrozes caldosos e cozinhados de peixe.
A garantia dá-a a cozinheira, Júlia Oliveira, a reconhecida Dona Júlia que deixou fama em Braga com o restaurante homónimo e agora assume o desafio de transportar a mesma cozinha para um ambiente mais luxuoso e ecléctico, mas com o propósito da mesma satisfação e prazer gastronómico por parte do cliente.
The Lince Santa Clara Hotel
Largo D. Afonso Sanches, tel.: 252 035 300, Site
Todos os dias, das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h30
Praça Velha
Um segredo mal guardado
Fora dos locais mais visitados, é uma espécie de segredo gastronómico mal guardado. Numa esquina das ruelas da zona mais antiga, a norte dos edifícios históricos da Matriz e da Câmara Municipal, a pequena e cuidada esplanada chama a atenção para o interior igualmente cuidado e elegante do piso térreo do velho edifício.
A oferta é variada e ancorada nos produtos e receitas da nossa tradição. Das alheiras, aos assados de cabrito e vitela, à posta com arroz de fumeiro, onde não faltam também os filetes de pescada, bacalhau confitado ou à Brás, bifes em vários cortes e preparações e alargada oferta de sobremesas tradicionais.
Decoração elegante, ambiente familiar, com oferta de vinhos que não desmerece e preços atinados. Desfaça-se o segredo!
Largo Antero de Quental 33
Tel. 252 612 121. Facebook
De terça a sáb., das 12h às 15h e das 19h30 às 22h
Adega do Testas e Adega da Vila
Petiscar com estilo
Estão porta com porta (quase em frente ao Ikigai), ambas com mesas e grelhador no passeio e oferta num estilo complementar. Chamam a atenção as portas garridas do Adega da Vila, enquanto a perícia do próprio Testas, com as brasas e a as mesas compostas com toalhas ao quadradinho, convidam a entrar.
A oferta de petiscos e contexto mais simples e pitoresco e muito ao gosto do turista são o cartão-de-visita do Adega da Vila, que complementa com oferta de vinhos e ambiente de franco convívio e animação.
Por parte do Testas, o contexto é mais gastronómico, num estilo de restaurante vocacionado para a refeição formal. Para lá da tradicional carta com oferta de carnes e bacalhau, os peixes na brasa — sobretudo as sardinhas, na temporada — e mariscos são o principal atractivo. Com cozinha ao fundo da sala de entrada, o restaurante ocupa ainda o primeiro andar do edifício.
Rua Comendador António Fernandes da Costa 57 e 63
Adega da Vila
Tel. 961 258 237. Facebook
Terça a sáb., das 18h às 23h; dom., das 12h às 23h
Adega do Testas
Tel. 916 364 417. Instagram
Domingo, das 12h às 15h; Quarta a segunda, das 12h às 15h e das 19h às 22h