Sem vislumbre de cessar-fogo, Netanyahu diz que avança sobre Rafah “com ou sem acordo”
Primeiro-ministro israelita diz que quer avançar “com ou sem acordo” para cessarem as hostilidades na região. Invasão de Rafah pode ser uma “catástrofe”.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta terça-feira que planeia avançar sobre Rafah, “com ou sem acordo para um cessar-fogo”. As declarações surgiram, segundo o jornal israelita Haaretz, num encontro com representantes das famílias dos reféns e das vítimas do atentado do dia 7 de Outubro realizado pelo Hamas.
“A ideia de que vamos parar a guerra antes de atingir todos os seus objectivos está fora de questão. Entraremos em Rafah e eliminaremos os batalhões do Hamas com ou sem acordo, para alcançar a vitória total”, prometeu Netanyahu.
As declarações surgem num momento em que as negociações para um cessar-fogo pareciam estar a evoluir num sentido positivo, com os representantes do Hamas a analisar a mais recente proposta do Estado de Israel, com mediação do Egipto, e que tem prevista uma trégua de 40 dias.
Cidade localizada perto da fronteira com o país mediador, Rafah acolheu mais de um milhão de pessoas deslocadas pelos ataques militares à zona norte da região, na ponta oposta da Faixa de Gaza. Caso o cessar-fogo não se concretize esta semana e as promessas de uma invasão militar se cumpram, teme-se uma catástrofe humanitária.
A analista, jornalista, comentadora e ex-porta-voz da Autoridade Palestiniana Nour Odeh disse, à estação pan-árabe Al-Jazeera, que Netanyahu “esmagou todas estas conversações para um cessar-fogo” com a reafirmação do plano para atacar Rafah. “Era isto que as famílias dos reféns temiam. Era isto que os negociadores temiam”, acrescentou. "Houve um optimismo cauteloso até esta manhã e, depois, o primeiro-ministro anunciou que iria ordenar uma invasão de Rafah. No fundo, espezinhando todas estas conversações de cessar-fogo", lamentou.
À Reuters, um representante israelita anónimo afirmou que não haveria mais oportunidades para adiar uma invasão da zona. “No que diz respeito a Israel, esta é a última oportunidade de impedir uma invasão de Rafah”, revelou, acrescentando que as forças militares israelitas já tinham começado a “mobilizar tropas para essa operação”.
O ministro-adjunto britânico para os Negócios Estrangeiros, Andrew Mitchell, afirmou no Parlamento britânico que era “difícil” entender como é que uma invasão de Rafah pudesse cumprir as normas internacionais. “Dado o número de civis abrigados em Rafah, não é fácil perceber como é que uma ofensiva deste tipo poderia estar em conformidade com o direito humanitário internacional nas circunstâncias actuais”, disse.
O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, já tinha dito na semana passada que era "imperativa" a ajuda humanitária em Gaza e que uma invasão militar "não era a forma certa" de derrotar o Hamas. Ainda na segunda-feira, num encontro na Arábia Saudita, Blinken reforçou a posição dos EUA sobre esta possibilidade: "Na ausência de um plano que garanta que os civis não serão prejudicados, não podemos apoiar uma grande operação militar." Os Médicos sem Fronteiras, no relatório publicado na segunda-feira, tinham também pedido que se evitasse uma invasão militar, que seria uma "seria uma catástrofe para a população e uma nódoa na nossa humanidade colectiva".
Texto editado por Ivo Neto