Os estudantes que se manifestam há semanas a favor da Palestina na Universidade de Colúmbia estão, esta terça-feira, barricados no Hamilton Hall, um dos edifícios desta instituição. As entradas estão tapadas, ouvem-se gritos que pedem uma "Palestina livre" e foram hasteadas bandeiras da Palestina numa das janelas, escrevem o The New York Times e o The Guardian.
A situação começou a escalar depois de a administração da Universidade de Colúmbia ter começado a suspender, na segunda-feira, os estudantes que se estão a manifestar a favor da Palestina e se recusaram a desmantelar um acampamento de protesto no campus da cidade de Nova Iorque. A administração da universidade tinha dado até às 14h de segunda-feira para que todas as tendas fossem retiradas e os alunos que não respeitassem as políticas da universidade seriam suspensos e não poderiam concluir o semestre em situação regular.
Em comunicado, a presidente da universidade, Nemat Minouche Shafik, declarou que os dias de diálogo entre os activistas estudantis e os dirigentes académicos não conseguiram persuadir os manifestantes a retirar as 120 tendas. De acordo com o The New York Times, muitos manifestantes abandonaram o local na segunda-feira, mas várias dezenas de estudantes não arredaram pé — e mantiveram no local cerca de 80 tendas.
Em resposta, um "grupo autónomo" de manifestantes barricou-se no Hamilton Hall. Segundo um comunicado divulgado na rede social X (antigo Twitter) esta terça-feira, os manifestantes começaram a chamar Hind’s Hall ao edifício em homenagem a Hind Rajab, que descrevem como “mártir palestiniana assassinada pelo Estado genocida de Israel aos seis anos”.
PRESS RELEASE by @ColumbiaBDS about the occupation of Hamilton Hall. An autonomous group of students reclaimed the building as “Hind’s Hall” in honor of Hind Rajab, a six year old girl from Gaza. We continue to stand in solidarity with Palestinian Liberation. ????? pic.twitter.com/LIm8cScPpD
— Columbia Students for Justice in Palestine (@ColumbiaSJP) April 30, 2024
Este foi um dos edifícios ocupados em 1968, durante os protestos contra a guerra do Vietname.
hamilton hall occupied by columbia students, renamed Hind’s Hall in honor of our martyr Hind Rajab. pic.twitter.com/Rwlu9mSwYn
— maryam ?????????? (@bluepashminas) April 30, 2024
Suspensões para garantir a "segurança do campus"
“Começámos a suspender os estudantes como parte da próxima fase dos nossos esforços para garantir a segurança no nosso campus”, justificou Ben Chang, porta-voz da universidade, numa conferência de imprensa na segunda-feira à noite. “O acampamento criou um ambiente pouco acolhedor para muitos dos nossos estudantes e professores judeus e uma distracção ruidosa que interfere com o ensino, a aprendizagem e a preparação para os exames finais”, completou.
Inicialmente, Shafik tinha dito que a Universidade de Colúmbia não iria cortar as ligações com Israel, incluindo a parceria com a Universidade de Telavive, a principal exigência dos manifestantes. Em vez disso, ofereceu-se para investir na saúde e na educação em Gaza e tornar mais transparentes os investimentos directos da instituição.
Os manifestantes, por outro lado, dizem que vão manter o acampamento até que a universidade satisfaça três exigências: pare de investir em Israel, seja transparente no que toca às finanças e garanta amnistia para os estudantes e professores disciplinados que participaram nos protestos.
“Estas tácticas de medo repulsivas não significam nada quando comparadas com a morte de mais de 34 mil palestinianos. Não sairemos daqui até que a Universidade de Colúmbia satisfaça as nossas reivindicações ou que sejamos retirados à força", afirmaram os líderes da coligação Columbia Student Apartheid Divest, que está a liderar o protesto, numa declaração lida numa conferência de imprensa em resposta ao aviso da universidade.
Centenas de manifestantes, muitos deles com os tradicionais lenços palestinianos keffiyeh, juntaram-se à volta do perímetro do acampamento. “Divulgar! Desinvestir! Não vamos parar, não vamos descansar!”, gritaram.
Shafik enfrentou as críticas de muitos estudantes, professores e espectadores por ter chamado a polícia de Nova Iorque ao campus para desmantelar o acampamento de protesto.
Depois de terem sido detidos mais de 100 manifestantes no dia 18 de Abril, os estudantes montaram o acampamento num relvado coberto de sebes no recinto da universidade. Desde então, alunos de dezenas de campi de outras universidades, da Califórnia à Nova Inglaterra, montaram acampamentos semelhantes para mostrar a revolta que sentem devido à guerra em Gaza e a alegada cumplicidade das escolas que frequentam.
As manifestações pró-Palestina também deram origem a um intenso debate nas universidades sobre onde os responsáveis das escolas devem estabelecer a fronteira entre a liberdade de expressão e o discurso de ódio.
DISCLOSE! DIVEST! WE WILL NOT STOP, WE WILL NOT REST!! ?????
— Columbia Students for Justice in Palestine (@ColumbiaSJP) April 29, 2024
Hundreds of Columbia University students are gathered for an emergency rally to protect the Gaza Solidarity Encampment.
We will continue until our demands are met. We will not be intimidated. #cu4Palestine pic.twitter.com/QNPeDhuVcq
Os alunos que protestam contra a ofensiva militar de Israel na Palestina, incluindo alguns activistas pacifistas judeus, disseram estar a ser censurados e apelidados de anti-semitas por criticarem o Governo israelita ou por expressarem apoio aos direitos dos palestinianos. Por outro lado, há outros grupos judaicos que defendem que o discurso anti-israelita se aproxima frequentemente ou alimenta formas evidentes de ódio e apelos à violência e, por isso, não deve ser tolerado.
Manifestações de estudantes pelos EUA
Na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), activistas pró-israelitas instalaram um grande ecrã e altifalantes para mostrar um vídeo com imagens do ataque do Hamas a Israel, a 7 de Outubro. O vídeo, alegam, tinha como objectivo contrariar as palavras de ordem pró-Hamas que se infiltraram nos protestos no campus, em apoio aos civis palestinianos cercados em Gaza.
A UCLA também reforçou a segurança em torno do acampamento pró-palestiniano, com mais de 50 tendas rodeadas por vedações metálicas junto ao edifício da administração principal.
Os grupos de defesa dos direitos civis criticaram a aplicação da lei em alguns campi, como o da Universidade Emory de Atlanta e o da Universidade do Texas, em Austin. Nestes campi, a polícia entrou a cavalo e com equipamentos de choque para dispersar os manifestantes na semana passada e detiveram dezenas de pessoas antes de as acusações terem sido retiradas por falta de provas.
No Texas, a polícia universitária, apoiada pela polícia estadual, tentou dispersar uma grande manifestação de estudantes com recurso a gás-pimenta e granadas de atordoamento. Segundo o advogado de defesa dos estudantes, George Lobb, foram detidos pelo menos 43 manifestantes.
Na Universidade Virginia Commonwealth, em Richmond, as autoridades e os manifestantes entraram em confronto ao início da noite, quando os agentes preparavam para desmantelar um acampamento. A televisão local transmitiu um vídeo em que a polícia, com equipamento de choque, pulverizava os manifestantes com o que parecia ser gás-pimenta e os detinha. Segundo a universidade, muitas das pessoas presentes não eram estudantes.
A cerca de 242 quilómetros desta instituição, as autoridades do Politécnico Virginia Tech anunciaram a detenção de mais de 80 manifestantes no domingo à noite, num acampamento liderado por estudantes que foram acusados de invasão de propriedade. Entre os detidos estão 53 actuais alunos. O vídeo publicado nas redes sociais mostrava os manifestantes a ecoarem a palavra “vergonha” enquanto outros eram detidos.
Virginia Tech encampment day 3 ???? pic.twitter.com/rEfn2DSFmy
— ?? Amanda Burroughs (@AmandaBurroughs) April 28, 2024