Republicanos admitem intervenção militar em universidades dos EUA

Protestos anti-Israel não param de crescer nas principais universidades dos EUA, espicaçados por detenções de estudantes um pouco por todo o país.

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Os protestos têm dado origem a acusações de anti-semitismo nas universidades Caitlin Ochs / REUTERS
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O líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Mike Johnson, juntou-se a outras figuras do Partido Republicano nas críticas à forma como as direcções das principais universidades do país estão a lidar com os protestos nas suas instalações contra a ofensiva do Exército de Israel na Faixa de Gaza.

Numa visita à Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, Johnson defendeu a entrada da Guarda Nacional nas instituições de ensino — algo que não acontece desde os protestos contra a guerra do Vietname, há mais de cinco décadas.

"Se a situação não for controlada rapidamente, e se as ameaças persistirem, haverá um tempo certo para a Guarda Nacional", disse Johnson, referindo-se a denúncias de que alguns manifestantes pró-Palestina têm intimidado e agredido fisicamente estudantes judeus.

"Temos de pôr ordem nestes recintos", afirmou o líder da Câmara dos Representantes, que falou também na possibilidade de telefonar ao Presidente dos EUA, Joe Biden, para discutir a situação.

Num curto comentário às declarações de Johnson, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, sublinhou apenas que não é o Presidente dos EUA quem mobiliza a Guarda Nacional, mas sim os governadores de cada estado norte-americano.

Detenções em vários estados

No dia 18 de Abril, a presidente da Universidade de Colúmbia, Nemat Shafik, chamou a polícia de Nova Iorque para desmantelar um acampamento de protesto no principal campus da instituição, numa operação que terminou com mais de 100 estudantes detidos.

Apesar da intervenção policial, os estudantes voltaram a montar tendas de campismo no mesmo recinto poucas horas depois, e as imagens de alunos da Universidade de Colúmbia a serem levados pela polícia deram origem a protestos semelhantes em muitas outras universidades do país, da Califórnia à Florida, do Ohio ao Texas.

Desde então, várias dezenas de estudantes foram detidos pelas polícias locais e os protestos contra Israel não param de surgir um pouco por todo o país.

Segundo os críticos da intervenção da polícia em Nova Iorque, a decisão de Shafik foi tomada sob pressão da maioria republicana na Câmara dos Representantes dos EUA, de onde surgem as principais acusações de que as universidades do país estão a caminhar para o caos.

O pedido de Shafik à polícia de Nova Iorque foi feito poucas horas depois de a responsável ter prometido que iria manter a situação sob controlo, durante uma audição numa comissão do Congresso que tem investigado denúncias de anti-semitismo nas universidades dos EUA.

Aproveitamento político​

Os estudantes de Colúmbia exigem que a direcção corte todas as ligações com empresas israelitas e que se desfaça de investimentos relacionados com a indústria militar, uma posição que os líderes do protesto dizem ter sido inspirada na luta anti-apartheid de meados de década de 1980, quando os estudantes de então levaram a universidade a afastar-se de negócios com o Governo da África do Sul.

Numa comparação com anteriores períodos de protestos nas universidades dos EUA — na década de 1980 e, antes disso, no auge da guerra do Vietname —, a presidente da associação de estudantes de Colúmbia, Tejasri Vijayakumar, disse ao Washington Post que a actual geração de estudantes é mais obstinada no seu activismo.

"Uma diferença que existe em relação a gerações anteriores é que a universidade, antigamente, era um rito de passagem à idade adulta", disse Vijayakumar. "No nosso caso, nós começámos no ensino básico durante a crise financeira, passámos para o secundário durante a Administração Trump e chegámos à universidade durante a pandemia. Nunca vivemos em tempos normais."

Embora os protestos anti-Israel nas universidades dos EUA tenham começado em 2023, logo após o início da ofensiva do Exército israelita em Gaza — numa resposta ao ataque do Hamas em território israelita, a 7 de Outubro —, a atenção ao assunto cresceu na última semana, numa antecipação da dura campanha eleitoral para a Casa Branca que se avizinha.

Ouvido pelo New York Times, Daniel Schlozman, especialista em movimentos sociais e partidos políticos na Universidade Johns Hopkins, no Maryland, considera que o Partido Republicano está a tentar capitalizar a união no partido à volta de Israel e a divisão que existe no Partido Democrata sobre o mesmo tema.

"Os partidos tentam encontrar assuntos que unam os seus apoiantes e que dividam os apoiantes do lado oposto", disse Schlozman, para quem as detenções nas universidades dão ao Partido Republicano a sensação de que as divisões no Partido Democrata podem acentuar-se ainda mais.

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