Galamba reitera inocência e diz só se arrepender de ter “mantido” Frederico Pinheiro
Em entrevista à CNN, o ex-ministro arguido na Operação Influencer disse estar de “consciência tranquila” e assumiu ser contra a ida de Lucília Gago ao Parlamento.
João Galamba deu esta sexta-feira a primeira entrevista desde o início da Operação Influencer, em que é arguido, afirmando estar de "consciência tranquila" em relação às suspeitas de peculato, prevaricação e recebimento indevido de vantagem: "Sei o que fiz, o que não fiz e sei como este processo vai acabar — ou com o arquivamento da acusação ou serei inocentado."
Numa entrevista à CNN, conduzida pelo jornalista André Carvalho Ramos, o ex-ministro das Infra-Estruturas revelou que ainda não foi ouvido pela justiça nem pôde consultar o processo. "Seria tentador cavalgar notícias recentes bastante favoráveis para mim, mas não o farei, não farei a minha defesa na televisão, porque há uma sede própria e por respeito pelas instituições", justificou, quando questionado sobre o seu eventual envolvimento em crimes de corrupção.
João Galamba quis antes focar-se numa "declaração bastante infeliz" de Luís Montenegro no Conselho de Ministros informal que decorreu em Óbidos no início de Abril. "Há uma questão que é suscitada no processo e que foi utilizada para fins políticos pelo actual primeiro-ministro, é sobre essa que falarei."
O antigo ministro recordou que Luís Montenegro admitiu a criação de um código de ética para evitar "casos Galamba" e descreveu as palavras do chefe de Governo como "puramente populistas". "O actual primeiro-ministro nunca exerceu funções executivas, portanto, até se podia desculpar alguma ignorância nesta matéria, mas é jurista e tem obrigação de conhecer a lei, e a lei é clara", reconhecendo o direito dos membros do Governo ao uso pessoal de viaturas do Estado.
"Todos os usos que fiz foram nos exactos termos da lei e sempre em proveito das minhas funções, quando não no exercício das minhas funções", garantiu, dando como exemplos o seu uso para "ir, com os motoristas, buscar as filhas à escola" ou "levá-las a consultas no médico".
Ainda sobre as notícias mais recentes sobre o processo que João Galamba considera "bastante favoráveis" e a consequente pressão sobre a procuradora-geral da República, assumiu uma posição clara: o requerimento para ouvir Lucília Gago no Parlamento não deve avançar. "A senhora procuradora não responde perante o Parlamento, mas perante os portugueses. Se entender que deve falar e dar explicações, deve fazê-lo; se não o fizer, os portugueses farão o seu juízo sobre o que se passa e sobre a procuradora-geral da República."
"Não teria feito nada diferente"
Há exactamente um ano, a 26 de Abril de 2023, Frederico Pinheiro, ex-adjunto do então ministro das Infra-Estruturas, voltava ao Ministério em que trabalhava para ir buscar o seu computador de serviço. Seguiu-se a intervenção do Sistema de Informações de Segurança (SIS), o falso alarme para o fim do mandato de João Galamba, o primeiro grande choque entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, uma comissão parlamentar de inquérito à TAP tomada por essa noite de dia 26.
Em retrospectiva, João Galamba garante que "não teria feito nada diferente", nem sairia mais cedo do Governo. "A única coisa que faria diferente, se pudesse, era uns meses antes não ter mantido o adjunto Frederico Pinheiro, contra o qual fiz uma queixa-crime, na qualidade de ministro, por agressão e roubo."
Sobre o impacto deste caso na relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, o ex-ministro das Infra-Estruturas admitiu que "possa ter sido a causa de um certo desagrado do Presidente da República", acrescentado logo de seguida que não faz "nenhum juízo valorativo sobre esse facto".
Galamba reconheceu ainda o apoio, primeiro político, depois pessoal, do antecessor de Luís Montenegro, e afirmou manter uma boa relação com António Costa. O mesmo parece não acontecer com o actual secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, a quem o ex-governante lançou farpas.
O afastamento entre ambos, segunda conta, não é recente, limitando-se a descrever a ligação entre os dois como de "líder e militante" do mesmo partido. "Se me pergunta se acharia normal ter recebido algum sinal depois de a polícia me entrar em casa no dia das buscas, a 7 de Novembro? Sim, mas não recebi. Não falo com ele desde inícios de Maio de 2023."
João Galamba terminou apelando à Procuradoria-Geral da República para que "faça o seu trabalho, que o faça bem e, sobretudo, que o faça rápido".