Activistas do clima preocupam polícias, neonazis também

Relatório Anual de Segurança Interna aponta maior visibilidade das acções desenvolvidas por militantes dos sectores neonazi, identitário e anti-sistema. Activistas do clima também preocupam polícias.

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Protestos da Climáximo são uma manifestação da radicalização dos protestos que preocupa os polícias Nuno Ferreira Santos (arquivo)
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No campo dos extremismos políticos, em 2023 assistiu-se a um agravamento desta ameaça, sobretudo no âmbito da extrema-direita, assinala o Relatório Anual de Segurança Interna de 2023. “Após um período de estagnação, as organizações tradicionais e os militantes dos sectores neonazi e identitário retomaram a sua actividade, promovendo acções de rua e outras iniciativas propagandísticas”, pode ler-se numa versão preliminar do documento, que alude também à criação de projectos e organizações por jovens “que estendem o alcance da mensagem extremista a uma nova geração com um perfil distinto”.

O crescimento da extrema-direita entre as gerações mais jovens “deveu-se, em grande parte, ao esforço desenvolvido na esfera virtual”, que se tornou assim o principal motor da radicalização” – tal como sucede, aliás, com os aceleracionistas, uma estranha mistura de neonazismo com marxismo que defende a aceleração do capitalismo com o objectivo de conduzir ao seu colapso. Assim, foram identificados novos movimentos e projectos que, apesar da sua recente criação, veiculam "ideias patriarcais e misóginas" características de uma direita conservadora mais clássica.

Do lado oposto, na extrema-esquerda, também o movimento anarquista retomou a sua actividade, “associando-se a manifestações de massa em torno de causas transversais à sociedade portuguesa, como o direito à habitação ou a melhoria das condições de vida, imprimindo-lhes um cunho ideológico anticapitalista e recorrendo a actos de vandalismo e provocações às forças de segurança”.

É num contexto comum à realidade internacional que se verifica a radicalização do movimento ambientalista também de matriz anticapitalista, causa fundamental para o recrutamento de jovens para os diferentes sectores da extrema-esquerda.

O recurso a acções ilegais e a actos de vandalismo tem sido uma constante, com especial relevo para a “tentativa de sabotagem de uma infra-estrutura crítica”. O relatório não diz de que infra-estrutura se tratou, mas em Maio passado um grupo de activistas infiltrou-se no gasoduto de Sines e gabou-se de ter conseguido interromper temporariamente o abastecimento de gás natural ao país.

“Liderado pelos movimentos Climáximo e Greve Climática Estudantil, o activismo ambientalista ocupou um espaço mediático exponencial”, descreve o relatório, que fala de uma mudança de paradigma através do recurso à acção directa e à assunção dos riscos a ela associados. “Na faixa etária dos 19 aos 35 anos, estes activistas demonstraram planeamento e concertação no agendamento dos eventos que foram tendo lugar ao longo de 2023”, analisam os especialistas em segurança interna.

Preocupante, pelo potencial de violência que apresentam, revela-se também o surgimento de movimentos negacionistas anti-sistema: “Inspirados por teorias da conspiração, desafiam as autoridades democraticamente eleitas, incitando à desobediência civil e à agitação social”.

Apesar de não se terem verificado novas deslocações ou tentativas de deslocação de combatentes europeus para palcos de jihad islâmica a partir do território nacional, diz o Relatório Anual de Segurança Interna que a actual conjuntura internacional favorece o desenvolvimento de processos de radicalização com propensão para a violência, que poderão resultar na execução de ataques terroristas, "não estando Portugal imune a este fenómeno".

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