Pedro Sánchez cancela agenda para ponderar “continuação no Governo”

Anúncio surge horas depois de a justiça espanhola ter divulgado que a mulher do presidente do Governo será investigada por alegado tráfico de influências e corrupção.

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Pedro Sánchez esta quarta-feira no Parlamento espanhol J.P. GANDUL
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O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou na tarde desta quarta-feira a suspensão da sua agenda política para os próximos dias, com o propósito de "parar e reflectir" sobre a continuação na chefia do Governo. A decisão será comunicada ao país na segunda-feira, 29 de Abril.

"Preciso de parar e reflectir. Preciso urgentemente de uma resposta sobre se vale a pena, apesar do lamaçal em que a direita e a extrema-direita tentam transformar a política; se devo continuar à frente do Governo ou renunciar a esta honra", escreveu Pedro Sánchez numa carta aos cidadãos espanhóis, publicada nas redes sociais.

O comunicado surge horas depois de a justiça espanhola ter divulgado que a mulher de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, será alvo de uma investigação por alegado tráfico de influências e corrupção.

O processo, que está ainda em fase preliminar e sob segredo de justiça, foi aberto na sequência de denúncias feitas pela organização Manos Limpias (em português, Mãos Limpas), fundada por Miguel Bernad, antigo líder do partido de extrema-direita Frente Nacional (já extinto).

Segundo o jornal espanhol El Confidencial, em causa estarão ligações de Begoña Gómez ao grupo empresarial Globalia, do sector do turismo, que beneficiou de fundos e contratos públicos durante a pandemia de covid-19, quando Sánchez era já líder do Governo.

No texto divulgado esta quarta-feira, Pedro Sánchez diz que estão em causa “falsidades” e que Begoña Gómez “defenderá a sua honra e colaborará com a justiça em tudo o que lhe for pedido”.

O chefe de Governo de Espanha acrescenta que estas acusações falsas saíram de páginas na Internet ligadas à direita e à extrema-direita e foram alimentadas pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox, que as levaram para o debate público e político e com denúncias no organismo que avalia conflitos de interesses de titulares de cargos do Estado, que as arquivou.

“Trata-se de uma operação de assédio e destruição por terra, mar e ar, para tentar enfraquecer-me política e pessoalmente, atacando a minha mulher”, escreve Sánchez, que acusa a direita e a extrema-direita espanholas de não terem aceitado os resultados das eleições legislativas do ano passado.

“Aperceberam-se de que o ataque político não seria suficiente e agora ultrapassaram a linha de respeito da vida familiar de um presidente do Governo e o ataque à sua vida pessoal”, escreveu Sánchez no texto divulgado na rede social X (antigo Twitter), referindo-se ao PP e ao Vox.

Sánchez acusa o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, e o líder do Vox, Santiago Abascal, de terem posto em andamento “a máquina da lama” e de “tentarem desumanizar e deslegitimar o adversário político através de alegações tão escandalosas quanto falsas”.

“Nesta altura, a pergunta que legitimamente faço é: vale a pena tudo isto? Sinceramente, não sei. Este ataque é tão grave e tão grosseiro que preciso de parar e reflectir com a minha mulher”, lamenta Sánchez, dizendo estar “profundamente apaixonado” pela sua mulher, “que vive impotente perante a lama que espalham dia após dia”.

PP e Vox criticam “vitimização”

Quer o Partido Popular quer o Vox reagiram à carta de Sánchez acusando o líder do PSOE de “vitimização” na forma como reagiu à investigação sobre a sua mulher.

“Denunciamos o facto de o presidente do Governo estar a apostar na vitimização e na pena em vez de na responsabilização e na clareza”, afirmou Cuca Gamarra, secretária-geral do PP. “Em vez de desaparecer durante cinco dias, devia aparecer, com urgência, para dar uma explicação fundamentada sobre os escândalos que envolvem o seu partido, o seu governo e a sua mulher”, acrescentou Gamarra.

Já o Vox acusa, em comunicado, Pedro Sánchez de se “vitimizar” para “encobrir o pântano de corrupção que inunda o seu mandato”, exigindo ao chefe de Governo que se demita e depois, “se quiser”, que reflicta.

“Trata-se de uma nova vitimização e de uma nova interpretação do presidente do Governo, o mesmo que cometeu a maior corrupção política: comprar a sua investidura amnistiando criminosos”, acrescenta, numa referência à Lei da Amnistia, que permitiu ao PSOE manter-se no Governo e que prevê perdões judiciais para os políticos catalães envolvidos na organização do referendo de 2017.

O PSOE saiu, em bloco, em defesa do seu líder, como seria de esperar. “As mentiras magoam, mas nunca vencem. A vossa determinação e nobreza vencerão mais uma vez. Sempre na sua equipa, presidente”, escreveu, na rede social X, a porta-voz dos socialistas, Esther Peña, enquanto o porta-voz dos grupo parlamentar do PSOE, Patxi López, disse que a decisão de Sánchez “representa a dignidade e a coragem necessárias face a uma direita imoral que está disposta a tudo”.

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