Bolsonaro volta a defender-se das acusações de golpe

Ex-Presidente criticou Lula da Silva, chamando-o “amante de ditaduras” pela proximidade com Cuba, Venezuela e Irão. Já Musk é um “mito da liberdade”.

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Jair Bolsonaro falou junto aos seus apoiantes em Copacabana Pilar Olivares / REUTERS
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O ex-Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, voltou a convocar uma manifestação em seu apoio para se defender publicamente das várias acusações que lhe têm sido imputadas pela justiça brasileira.

Desta vez, o acto de apoio ao ex-Presidente juntou alguns milhares de pessoas em Copacabana, no Rio de Janeiro, um local que é ainda um dos bastiões do bolsonarismo e onde Bolsonaro reside habitualmente. Tal como no discurso que fez em Fevereiro na Avenida Paulista em São Paulo, Bolsonaro optou por ser cauteloso e não fez ataques directos às instituições democráticas ou aos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), fazendo apelos aos seus apoiantes para que também se refreassem.

A novidade em relação ao discurso habitual de Bolsonaro foram os elogios apontados ao multimilionário Elon Musk, que nas últimas semanas se transformou num dos principais críticos da justiça brasileira e, especificamente, do juiz do STF, Alexandre de Moraes, um dos alvos predilectos do ex-Presidente.

Pedindo aplausos para o dono da Tesla e da plataforma X, Bolsonaro chamou-o de “mito da liberdade”, transferindo para o empresário o epíteto pelo qual os seus apoiantes o tratam há já vários anos.

Musk tem criticado ferozmente Moraes por causa das investigações sobre a difusão de informações falsas nas redes sociais que o levaram a exigir a suspensão de várias contas de políticos e personalidades da extrema-direita brasileira. O empresário tem dito que o juiz é uma ameaça à liberdade de expressão e garantiu que o X não irá cumprir com as ordens judiciais que emanam do STF.

Apesar das críticas públicas de Musk, no início da semana os representantes da plataforma no Brasil enviaram uma carta a Moraes em que se disponibilizam a acatar as sentenças do tribunal.

No entanto, uma vez mais, o objectivo da intervenção pública de Bolsonaro foi voltar a defender-se das suspeitas de ter planeado um golpe de Estado para reverter a derrota eleitoral sofrida em 2022 contra Lula da Silva. Referindo-se à descoberta pela Polícia Federal de um esboço de um decreto presidencial que, hipoteticamente, poderia ser usado por Bolsonaro para declarar um estado de sítio e impedir a certificação dos resultados, o ex-Presidente negou ter havido essa intenção.

“Estado de sítio é uma proposta que o Presidente pode submeter ao parlamento”, afirmou Bolsonaro.

Impedido de se candidatar a cargos públicos até 2030, Bolsonaro também criticou essa decisão proferida pelo Tribunal Superior Eleitoral no ano passado, que considerou que houve abuso de poder por parte do ex-Presidente quando, a poucos meses das presidenciais, convocou um grupo de embaixadores para uma reunião em que veiculou teorias conspiratórias sobre o sistema de voto electrónico.

“Eu não me reuni com traficantes do morro do Alemão, me reuni com embaixadores e me tornaram inelegível”, disse aos seus apoiantes.

Numa aparente tentativa de suavização do seu discurso, Bolsonaro disse que as eleições de 2022 são uma “página virada”, deixando de insistir na tese de que teria havido irregularidades na contabilização dos votos. "O que mais nós queremos é que o Brasil volte à sua normalidade, que possamos disputar eleições sem qualquer suspeição”, afirmou.

Bolsonaro aproveitou ainda para deixar críticas ao seu sucessor, acusando-o de ser um “amante de ditaduras” pela proximidade com os regimes de Cuba, Venezuela e Irão.

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