Mortandade em Gaza deixou de ser prioridade para o mundo (e os reféns também)

Ataque do Irão desviou as atenções do enclave palestiniano e pode dar cobertura às acções de Israel – ou levar a que a atenção dos líderes israelitas se afaste do território.

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Filas para comprar pão á porta da padaria que esteve fechada durante meses Mahmoud Issa/REUTERS
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Um palestiniano com os pães que há muito estavam ausentes do quotidiano em Gaza Mahmoud Issa/REUTERS
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Dia 191 da guerra de Israel na Faixa de Gaza e foi difícil encontrar a palavra “Gaza” destacada em título no site da televisão pan-árabe Al Jazeera. Como todos os dias desde 7 de Outubro, houve mortos e feridos no enclave palestiniano, ao mesmo tempo que em Jabalia e na Cidade de Gaza se festejou a chegada de ajuda, que permitiu aos comerciantes venderem farinha, tomate e batatas pela primeira vez em meses – na principal cidade do território, houve filas intermináveis na única padaria que abriu, finalmente, as portas.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) dispararam contra centenas de deslocados que tentavam regressar ao Norte do território (que consideram zona de guerra activa), ferindo alguns. E segundo as autoridades do Hamas, mataram dezenas de membros das mesmas famílias em quatro bombardeamentos na área do Wadi (Vale) Gaza, que divide o Sul e o Norte da Faixa.

Numa primeira análise, muitos consideraram Gaza a primeira vítima dos ataques iranianos lançados na noite de sábado. “O Irão pode ter mordido o isco de Israel e desviado a atenção do mundo do que está a acontecer em Gaza”, escreveu na rede X Ali Vaez, director do programa iraniano do think tank International Crisis Group.

Vítima dos acontecimentos recentes serão seguramente as negociações para uma trégua, que já estavam por um fio. Sábado, entre alertas de drones que estavam a caminho, a imprensa israelita escrevia que o Hamas recusou a última versão de um acordo, insistindo na exigência de um cessar-fogo definitivo. Nas ruas de Telavive e Jerusalém poderão agora ser mais raras as grandes manifestações a pedir um cessar-fogo, o regresso dos reféns e a demissão de Benjamin Netanyahu, como as que decorriam precisamente quando as IDF confirmaram que o país estava sob ataque.

Os mais pessimistas temem que Israel aproveite a vaga de solidariedade (e o alívio na pressão) internacional para invadir Rafah, a cidade onde continuam abrigados mais de 1,5 milhões de palestinianos – e onde Israel acredita que estão, quase intactos, quatro batalhões do Hamas. Ao fim do dia, o Exército anunciou ter convocado “proximamente duas brigadas [cada uma tem entre 3000 e 7000 soldados] de reservistas” para “actividades operacionais na frente de Gaza”.

“É possível que Netanyahu diga a Washington: se não nos deixam ir atrás do Irão, deixem-nos invadir Rafah”, admite Emile Hokayem, director de segurança regional no International Institute for Strategic Studies, num texto publicado no Financial Times.

Certo é que Gaza perdeu importância para o mundo e, em particular, para os EUA, o que não serve a ninguém. Porque, escreve Hokayem, “enquanto Washington dissociar um cessar-fogo em Gaza das perigosas dinâmicas regionais, as coisas só vão piorar”.

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