Juicy Fields: Nove detidos em fraude com cannabis que também lesou portugueses
Europol revela que esquema enganou mais de 180 mil pessoas num montante superior a 645 milhões de euros. Só em Portugal, a Procuradoria-Geral de República tinha 260 inquéritos sobre o tema em 2022.
A Europol anunciou, esta sexta-feira, a detenção de nove pessoas, no âmbito de uma investigação a um esquema fraudulento, relacionado com o investimento em cannabis de uma empresa neerlandesa, a Juicy Fields, que terá lesado mais de 180 mil pessoas em todo o mundo em mais de 645 milhões de euros.
Porém, os danos não declarados por potenciais vítimas que não fizeram queixa podem elevar este valor. No total, foi possível apurar que a Juicy Fields tinha registado cerca de 550 mil participantes como investidores, a maioria dos quais cidadãos europeus. Só em Portugal, a Procuradoria-Geral de República (PGR) tinha 260 inquéritos apensados em 2022.
O negócio parecia simples e prometia lucros rápidos, entre os 29% e os 66%. Durante cerca de dois anos, entre 2020 e 2022, a sociedade Juicy Fields, com sede nos Países Baixos, angariou milhares de investidores em todo o mundo, sobretudo na Europa, que pensavam que estavam a comprar plantas de cannabis que seriam cultivadas, através de parceiros licenciados, e posteriormente vendidas a farmacêuticas para a produção de medicamentos. Cada planta custava 50 euros. O problema é que as plantas nunca existiram e os investidores nunca tiveram retorno e perderam o que investiram.
Segundo a Europol, esta operação contou com o apoio de mais de 400 agentes em 11 países que executaram nove mandados de detenção e realizaram 38 buscas domiciliárias. Foram apreendidos ou congelados 4,7 milhões de euros em contas bancárias, mais de 1,5 milhões em criptomoedas, 106 mil euros em numerário e 2,6 milhões de euros em activos imobiliários. As autoridades também apreenderam vários veículos de alta cilindrada, obras de arte, dinheiro e vários artigos de luxo, bem como um grande número de dispositivos electrónicos e documentos.
“Utilizando transferências bancárias ou criptomoedas, cerca de 186.000 participantes transferiram efectivamente fundos para o elaborado esquema da Jucy Fields, activo desde o início de 2020 até Julho de 2022”, sublinha o comunicado Europol.
De acordo com a Europol, “os suspeitos, que são de nacionalidade maioritariamente russa, mas também holandesa, alemã, italiana, maltesa, polaca, jordana, norte-americana e venezuelana, utilizaram anúncios nas redes sociais para atrair as vítimas para os seus websites”. Sublinha o comunicado da Europol que um dos principais alvos da investigação, um cidadão russo, tinha residência na República Dominicana.
O facto de o esquema ser altamente complexo e envolver vários países europeus e de fora da Europa levou a que fosse criada uma equipa de investigação na Eurojust, liderada pela Polícia Alemã, Espanhola e Francesa e apoiada pela Europol, a Agência Nacional do Crime do Reino Unido e outras autoridades policiais de vários Estados-membros, incluindo Portugal.