EUA dizem que ataque iraniano contra Israel “ainda é ameaça viável”

Liderança iraniana ainda não terá tomado a decisão final, procurando uma resposta ao ataque israelita em Damasco que não provoque uma escalada militar descontrolada na região.

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O Guia Supremo, Ali Khamenei, afirmou que o ataque israelita ao consulado de Damasco era como um ataque em território iraniano Reuters
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Os Estados Unidos consideraram que um ataque iraniano contra Israel é uma “ameaça viável”, depois de fontes dos serviços secretos americanos terem afirmado ao Wall Street Journal que a retaliação iraniana ao ataque israelita em Damasco, na Síria, poderia acontecer até este sábado.

O porta-voz da Casa Branca para a segurança nacional, John Kirby, disse esta sexta-feira que apesar dos esforços concertados de EUA e Israel para dissuadir o Irão de uma resposta, esta “ainda é uma ameaça viável”.

As informações sobre o que os Estados Unidos e Israel prevêem que seja um ataque iraniano têm vindo a surgir desde o fim-de-semana passado, em que se mencionava a hipótese de um ataque até ao final do Ramadão, na quarta-feira, sendo que não era ainda claro que forma poderia assumir; se um ataque levado a cabo pelo próprio Irão ou antes pelas milícias que apoia na região, como o libanês Hezbollah, se contra um alvo em território israelita ou um alvo israelita fora do país.

Na quinta-feira, os EUA falaram de uma acção “iminente” da República Islâmica, um grande ataque com mísseis ou drones por parte do Irão ou dos seus proxies contra alvos militares ou do Governo em Israel”.

O Estado hebraico está a preparar-se para um ataque tanto no Norte como no Sul do país – e não apenas no Norte, onde a presença do Hezbollah libanês facilitaria essa operação.

E os Estados Unidos estão também a fazer preparativos, incluindo o envio de mais forças para a região, segundo fontes citadas, sob anonimato, esta sexta-feira pelo diário norte-americano The Washington Post.

Os EUA disseram ainda aos seus funcionários em Israel e aos membros das suas famílias para não viajarem para fora das áreas de Telavive, Jerusalém e Beersheba.

Sabe-se que há países que preparam as suas representações diplomáticas no Médio Oriente para a possibilidade de um ataque iraniano na região, ao mesmo tempo que a Rússia, a França, o Reino Unido, a Polónia, o Canadá e a Austrália avisaram os seus cidadãos para evitarem viagens para Israel, Palestina, Líbano e Irão, e que a Lufthansa (única transportadora aérea ocidental a voar para Teerão) suspendeu os voos para o Irão pelo menos até sábado.

Apesar de todos os alertas, o Wall Street Journal também cita uma pessoa com contactos com a liderança iraniana que assegura que o regime ainda não tomou a decisão final. Em Teerão debatem-se alternativas: por um lado, é pouco provável que o Irão não responda ao ataque que matou 13 iranianos, incluindo dois generais dos Guardas da Revolução; por outro, o país quererá reagir de uma forma que não leve Israel a retaliar dentro das fronteiras iranianas e, acima de tudo, que não leve os EUA a decidir juntarem-se à resposta israelita.

A possibilidade de um envolvimento directo de Washington na defesa de Israel – que provocaria uma escalada regional difícil de conter – foi admitida por responsáveis norte-americanos num briefing na televisão pan-árabe Al-Jazeera.

“Como eu disse ao primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu, o nosso compromisso com a segurança de Israel contra estas ameaças do Irão e dos seus proxies [grupos aliados que o país financia em vários países da região] é à prova de bala”, afirmou já na quarta-feira o Presidente norte-americano.

“Repito, à prova de bala – faremos tudo para proteger a segurança de Israel”, sublinhou Joe Biden, deixando claro que as suas críticas ao Governo israelita – e o facto de ter considerado que a abordagem dos aliados na guerra na Faixa de Gaza é “um erro”, pedindo-lhes que “simplesmente declarem um cessar-fogo” – não vão interferir na reacção a um ataque iraniano.

Isto apesar do “desagrado” e da “frustração” dos norte-americanos com o facto de não terem sido informados antecipadamente sobre o ataque a Damasco: de acordo com o jornal The Washington Post, que o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, queixou-se disso numa conversa com o ministro da Defesa de israelita, Yoav Gallant.

Claro que as declarações de Biden, e as informações transmitidas à Al-Jazeera, assim como o envio de mais forças para a região, visam dissuadir Teerão de atacar Israel. Mas o facto de o ataque israelita de 1 de Abril ter visado instalações diplomáticas, sendo, por isso, considerado um ataque em solo iraniano, deixou o Irão numa situação delicada, sentindo-se obrigado a responder militarmente.

Foi isso mesmo que já disse o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que descreveu o ataque ao consulado como “um ponto de viragem”, avisando que a “inevitável resposta iraniana chegará”, seja “hoje, amanhã, depois de amanhã, numa semana, dez dias…”.

*com Maria João Guimarães

Notícia actualizada às 19h10 com novas afirmações dos EUA sobre um possível ataque iraniano a Israel

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