Europa e Estados Unidos reforçam apoio à Arménia e irritam a Rússia

Bruxelas vai financiar economia arménia com 270 milhões de euros e Washington envia 65 milhões de dólares. Rússia diz que “é evidente que o Ocidente quer transformar a Arménia num instrumento”.

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A guerra-relâmpago em Nagorno-Karabakh, no ano passado, contribuiu para o afastamento entre Erevan e Moscovo Reuters/IRAKLI GEDENIDZE
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A presidente da Comissão Europeia anunciou esta sexta-feira um pacote de 270 milhões de euros de ajuda à Arménia para fomentar o desenvolvimento económico e social daquele país do Cáucaso, outrora um aliado da Rússia que está crescentemente a aproximar-se da Europa e dos Estados Unidos. A diplomacia russa não tardou a reagir, alegando que o reforço do apoio europeu e norte-americano à Arménia se destina a envolver o país em “confrontos geopolíticos” com potenciais “consequências negativas”.

Ursula von der Leyen reuniu-se em Bruxelas com o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, e com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que também anunciou um pacote de apoio no valor de 65 milhões de dólares (cerca de 60 milhões de euros) a favor da Arménia. “Vamos investir em tornar a economia e sociedade arménias mais robustas e resistentes a choques”, anunciou a presidente da Comissão Europeia, acrescentando que o dinheiro se destina a pequenas e médias empresas, a projectos de energia renovável e outras infra-estruturas e à diversificação comercial, entre outros pontos. “Estamos a cumprir com uma promessa que fizemos em Outubro: a de estar lado a lado com a Arménia”, disse Von der Leyen.

Blinken, por sua vez, manifestou o desejo de que a Arménia “assuma o seu lugar como nação forte, independente, em paz com os seus vizinhos e conectada com o mundo”. E garantiu a Pashinian que pode contar com o apoio americano.

A aproximação da Arménia ao Ocidente, e o progressivo afastamento da esfera de influência russa, já vinha acontecendo antes, mas acelerou desde a guerra-relâmpago lançada pelo vizinho Azerbaijão em Setembro do ano passado em Nagorno-Karabakh, uma região separatista do Azerbaijão onde a esmagadora maioria da população era, até então, de etnia arménia. O Governo arménio considerou que a Rússia, um aliado histórico do país e que tem no terreno uma força de manutenção de paz (acusada de nada fazer para travar os avanços azeris), trocou de lado e deixou os arménios abandonados à sua sorte.

O Governo arménio tem multiplicado as declarações públicas em que manifesta interesse em candidatar-se à entrada na União Europeia. O Parlamento Europeu aprovou em meados de Março uma resolução favorável a que sejam aprofundadas as relações entre o bloco comunitário e aquele país, cujo executivo tomou recentemente algumas decisões para evitar que a Arménia possa ser usada pela Rússia para escapar às sanções europeias. “Isto mostra que a União Europeia e a Arménia estão cada vez mais alinhadas em valores e interesses”, sublinhou Von der Leyen esta sexta-feira.

A Arménia integra a chamada Parceria de Leste, um programa da União Europeia destinado aos países vizinhos a Leste e no Cáucaso, de que também faz parte o Azerbaijão - com quem, aliás, o bloco europeu tem relações económicas e comerciais fortes, nomeadamente no sector energético (gás, petróleo e renováveis) e das infra-estruturas (portos e caminhos-de-ferro). Há três países desta Parceria de Leste que têm hoje o estatuto oficial de candidatos à adesão: a Geórgia, a Moldova e a Ucrânia.

Rússia acusa Ocidente de manipulação

Depois da reunião desta sexta-feira, Moscovo apontou a possibilidade de surgirem “novas linhas divisórias e um crescimento descontrolado das tensões” naquela região. “Avaliamos a reunião de alto nível do formato Arménia-EUA-UE realizada em Bruxelas como uma nova tentativa do Ocidente de envolver o Cáucaso do Sul em confrontos geopolíticos”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado.

A diplomacia russa argumentou que a interferência irresponsável e destrutiva de forças externas nos assuntos do sul do Cáucaso, as tentativas de abrir uma brecha entre os países da região e os seus vizinhos, podem ter as consequências mais negativas para a estabilidade, a segurança e o desenvolvimento económico da região.

É evidente que o Ocidente quer transformar a Arménia num instrumento para os seus objectivos extremamente perigosos no sul do Cáucaso, acusou o ministério, dizendo que Washington e Bruxelas fizeram promessas de curta duração a Erevan para que a Arménia se afaste da Organização do Tratado de Segurança Colectiva e da União Económica Eurasiática e para que retire a base militar russa e os guardas fronteiriços ali estacionados.

Também o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, considerou que esta aproximação de Erevan ao Ocidente é uma tentativa de transformar a Arménia num posto avançado armado no sul do Cáucaso.

Apesar de o Azerbaijão ter o controlo efectivo de Nagorno-Karabakh desde Setembro passado, as trocas de tiros na fronteira continuam a acontecer a um ritmo quase diário e os dois países ainda não assinaram um acordo de paz.