Guterres condena ataque contra complexo diplomático iraniano em Damasco

Irão prometeu vingança pelo ataque atribuído a Israel, que é considerado por vários analistas como uma escalada e sem precedentes.

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O local alvo do ataque atribuído a Israel na segunda-feira Firas Makdesi/Reuters
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou esta terça-feira um ataque a um complexo diplomático iraniano em Damasco, pedindo a todas as partes envolvidas que tenham “a máxima contenção e evitem uma nova escalada”, enquanto a Turquia disse que o ataque da véspera, atribuído a Israel, poderia levar ao alargamento do conflito na região, e o Irão prometia vingança pelo ataque que matou dois generais e outros cinco militares.

Guterres “alertou que qualquer erro de cálculo poderá levar a um conflito alargado numa região que já é volátil, com consequências devastadoras para civis que já estão a ver sofrimento sem precedentes na Síria, no Líbano, no território palestiniano ocupado, e no Médio Oriente em sentido mais lato”, disse o porta-voz Stephane Dujarric, citado pela agência Reuters.

Da Turquia, uma declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros condenava o ataque e atribuía-o a Israel (o Estado hebraico muito raramente assume a autoria de ataques no estrangeiro).

O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou nesta terça-feira que o ataque em Damasco “não ficará sem resposta”. O líder supremo do país, o ayatollah Ali Khamenei, culpou o “regime sionista” (o Irão recusa usar o termo Israel) e prometeu que este será “castigado às mãos dos corajosos homens [do Irão]”.

Os media públicos iranianos diziam que as autoridades pensam que o alvo do ataque era Mohammad Reza Zahedi, um dos generais mortos.

Os EUA, lembra o Washington Post, incluíram Zahedi numa lista de responsáveis iranianos sujeitos a sanções em 2010, dizendo que era o chefe da Força Al-Quds (a unidade de elite dos Guardas da Revolução responsável pelas operações no estrangeiro) no Líbano e que fazia a “ligação” entre o Hezbollah e os serviços secretos da Síria, incluindo o envio de armas.

Washington negou ter tido algo que ver com o ataque, considerado o mais grave para o Irão desde que os EUA mataram o chefe da Força Al-Quds, Qassem Soleimani, quando este estava de passagem em Bagdad em 2020 – Soleimani era o responsável pela estratégia iraniana de apoio a movimentos armados na região, do Hezbollah libanês aos houthis iemenitas.

Quatro responsáveis israelitas disseram ao New York Times sob anonimato que este ataque foi levado a cabo por Israel.

Mesmo sem comentar sobre a autoria, o porta-voz militar israelita Daniel Hagari disse à CNN que o alvo não era uma instalação diplomática. “De acordo com as nossas informações, não se trata de um consulado, nem de uma embaixada. É um edifício militar da Força Al-Quds disfarçado de edifício civil em Damasco.”

O analista Ali Vaez, director para o Irão do International Crisis Group, declarou ao New York Times que “atacar uma instalação diplomática é comparável a atacar o Irão no seu próprio território”.

“Durante anos, Israel e o Irão estiveram envolvidos no que tem sido normalmente chamado uma ‘guerra nas sombras’”, disse Vaez na rede social X. “O ataque sublinha o facto de que este é cada vez mais um termo errado, já que as tensões aumentam em várias frentes.”

O analista e historiador iraniano Arash Azizi comentou ao Washington Post que este ataque se distingue de outros por causa “do edifício onde Zahedi e os seus colegas estavam, que é propriedade do Irão, e é ao lado da embaixada”, o que torna este ataque “uma escalada” e faz com que “não tenha precedentes”.

Por isso, o Irão estará sob pressão para retaliar, mas, diz Vaez, a decisão não é fácil, já que, ao não retaliar, a presença militar iraniana na Síria fica comprometida. “Porém, se responderem, vão cair na armadilha que eles acham que Israel lhes está a montar para entrarem numa guerra directa.”

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