Bonaventure Ndikung será o curador da próxima Bienal de São Paulo
Com um curador africano residente em Berlim, a Bienal de Arte de São Paulo terá lugar na segunda metade do próximo ano.
O curador camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung será o curador-geral da 36.ª Bienal de São Paulo, que terá lugar no próximo ano na cidade brasileira.
Bonaventure Ndikung, que nasceu em 1977 em Iaundé, capital dos Camarões, é actualmente director e curador-chefe da Haus der Kulturen der Welt (HKW), em Berlim, sendo “uma figura proeminente na cena da arte contemporânea global”, segundo o comunicado da bienal de arte, considerado o mais relevante evento de arte contemporânea da América Latina e do Sul. Foi “o seu compromisso com a intersecção entre arte e ciência, juntamente com a sua visão inovadora”, que levou à sua nomeação, no ano passado, como responsável máximo da HKW, que, como o nome indica, é uma “casa das culturas do mundo” dedicado à divulgação das artes e ideias não europeias. Ndikung mudou-se para Berlim em 1997, para estudar na Universidade Técnica de Berlim. Fez o doutoramento em Biotecnologia Médica pela Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf /TU Berlim e um pós-doutoramento em Biofísica pela Universidade de Montpellier. É o primeiro director não branco do HKW, um gigante da cultura pública berlinense à procura de reforma.
O seu currículo na HKW salienta que, além de curador, Bonaventure Ndikung é "escritor e biotecnólogo", e foi fundador e director artístico do Savvy Contemporary, entre 2009 e 2022, um espaço de reflexão cultural e artística, nomeadamente sobre o passado colonial alemão, situado também em Berlim, com uma forte componente dedicada à performance. Ndikung é igualmente professor na Academia de Arte Weißensee-Berlim.
Entre outros cargos, Ndikung foi director artístico da Sonsbeek entre 2020 e 2024, uma exposição de arte pública com uma periodicidade irregular que tem lugar no parque de Arnhem (Países Baixos) e dos Encontros de Fotografia de Bamako em 2022 (Mali); curador do Pavilhão da Finlândia na 58.ª Bienal de Veneza, curador convidado da Bienal de Arte Contemporânea Africana de Dacar em 2018 e curador-geral da Documenta 14 em 2017, que se dividiu entre Kassel e Atenas, na edição que teve Adam Szymczyk como director artístico.
Segundo o curador, citado pelo mesmo comunicado, a Bienal de São Paulo surge como “um sismógrafo que não apenas regista os diferentes tremores que o mundo está experimentando socioeconómica, geopolítica e ambientalmente, mas esses registos também nos oferecem possibilidades de moldar um futuro mais justo e humanitário para todos os seres animados e inanimados deste planeta”.
Bonaventure Ndikung sucede a um colectivo curatorial com uma maioria de afrodescendentes que na 35.ª edição da bienal juntou a artista e escritora portuguesa Grada Kilomba, os curadores e investigadores brasileiros Diane Lima e Hélio Menezes, e o antigo director do Museu Reina Sofia (Madrid), Manuel Borja-Villel. Foi a primeira Bienal de São Paulo com uma maioria de artistas negros e indígenas.
A primeira exposição de Ndikung no HKW, O Quilombismo: Resistir e Insistir. Da fuga como luta. De outras filosofias políticas igualitárias democráticas, foi dedicada aos espaços quilombola, as comunidades fundadas no Brasil por pessoas escravizadas, segundo o conceito desenvolvido pelo artista, escritor e político brasileiro Abdias Nascimento (1914–2011), lembra o jornal brasileiro Folha de São Paulo.
O curador camaronês fará parte, este ano, do programa público de discussão do Pavilhão de Portugal na Bienal de Arte de Veneza, que tem como curadoras a artista visual Mónica de Miranda, a historiadora Sónia Vaz Borges e a coreógrafa Vânia Gala, conforme foi anunciado na apresentação da representação oficial portuguesa em Lisboa.