Uma farmacêutica na Saúde: Ana Paula Martins tem nas mãos o futuro da Direcção Executiva do SNS
A ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos vai decidir qual será o futuro da Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde e o rumo das reformas já iniciadas.
Ana Paula Martins, 58 anos, estreia-se num cargo governativo, mas tem uma diversificada carreira profissional, académica e empresarial, apesar de sempre ter assumido uma postura reservada, mesmo quando foi bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, entre 2016 e 2021. Em Janeiro, na intervenção que fez na convenção da Aliança Democrática, dizia que, “ao fim de 22 anos de militância discreta no PSD”, aceitara ser candidata a deputada à Assembleia da República no que considerava então ser “o maior desafio” da sua vida.
Vai enfrentar, a partir de agora, um desafio bem mais complexo e tutelar uma das pastas mais sensíveis do Governo. O seu nome era o mais falado para a liderança do Ministério da Saúde desde o final de 2023, altura em que se demitiu do cargo de presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN), onde permaneceu menos de um ano.
Na altura, explicou que saía por discordar da inclusão dos centros hospitalares universitários no novo modelo de organização do Serviço Nacional de Saúde (as unidades locais de saúde, que juntam hospitais e centros de saúde), a “grande reforma” do sector, nas palavras do director-executivo, Fernando Araújo, que a tinha escolhido para dirigir um dos maiores hospitais do país.
A escolha de Ana Paula Martins – foi a primeira nomeação de Araújo para a administração de um centro hospitalar – constituiu então uma autêntica surpresa, uma vez que nunca tinha desempenhado funções de gestão hospitalar e era militante do PSD – foi vice-presidente do partido durante alguns meses, quando o líder era Rui Rio. Antes disso, tinha tido breves incursões na política – foi adjunta do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, entre 1992 e 1993, e adjunta do Ministro da Educação, nos dois anos seguintes.
Quando chegou ao maior centro hospitalar universitário de Lisboa, vinha da farmacêutica Gilead Sciences em Portugal, onde era responsável pela pasta dos assuntos governamentais. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, onde foi professora auxiliar durante duas décadas, Ana Paula Martins dirigiu o Centro de Estudos de Farmacoepidemiologia da Associação Nacional de Farmácias, de 1994 a 2006, e integrou a task force para a avaliação de tecnologias da saúde em representação da associação da indústria farmacêutica (Apifarma), entre múltiplas funções.
Na qualidade de ministra da Saúde, fica nas suas mãos o futuro da Direcção Executiva do SNS (DE-SNS) e das reformas já iniciadas, como a generalização das Unidades Locais de Saúde, a reorganização das urgências hospitalares e a universalização das Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo B. No programa eleitoral, a Aliança Democrática propunha “uma alteração profunda” da estrutura orgânica e das competências funcionais do organismo liderado por Fernando Araújo.
Numa entrevista recente à revista especializada Healtnews, Ana Paula Martins deu algumas pistas do que tenciona fazer. Disse que é “preciso perceber quais são as perspectivas, os meios que dispõe e qual é o modelo de trabalho que prevê com os seus estatutos” e também “questionar a rede do SNS sobre como é que avalia o desempenho” da DE-SNS. E assegurou: aquilo que “tiver de ser corrigido será corrigido” e o que “estiver a funcionar bem é para continuar”.
Com 60 dias para aprovar o plano de emergência para o SNS a que a Aliança Democrática se comprometeu no programa eleitoral, vai ter que delinear a forma de concretizar as arriscadas promessas de dar um médico de família a todos os cidadãos até ao final de 2025, diminuir as listas de espera para cirurgias e consultas e recuperar a motivação dos profissionais de saúde.