Um economista na Educação. Fernando Alexandre lidera “superministério”
Educação e Ensino Superior voltam a ter um só ministério como no Governo de Passos Coelho, onde o novo ministro, professor universistário, foi secretário de Estado da Administração Interna.
Conhece bem os meandros do ensino superior, onde é professor há duas décadas, mas é provável que venham da educação não superior as suas maiores dores de cabeça. Sem ligação anterior conhecida ao mundo das escolas, Fernando Alexandre é uma escolha surpreendente para um novo “superministério” que vai juntar a Educação, incluindo o Ensino Superior, a Ciência e a Inovação.
A AD comprometeu-se com a recuperação faseada (20% por ano, até ao fim da legislatura) dos seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de serviço congelado aos professores — motivo de uma das maiores ondas de contestação sofridas pelo Governo cessante. Luís Montenegro entregou essa negociação a um economista.
A formação em Economia também marca o seu pensamento no que ao sector da Educação diz respeito. “Temos de melhorar o sistema de ensino e o funcionamento do mercado de trabalho para conseguirmos retirar mais benefícios desse investimento para as famílias, para as regiões e para o país”, defendia em Junho, num artigo no Observador, onde escreve regularmente, sendo também presença assídua na RTP, entre outros meios de comunicação.
Defensor acérrimo dos rankings de escolas, vê-os como “indicadores da evolução da qualidade do ensino” e uma ferramenta que garante a informação às famílias, sobretudo “as famílias de rendimentos mais baixos, que são aquelas cujo esforço é maior para que os seus filhos completem um curso superior”, escreveu noutra ocasião.
Em 2021, coordenou um estudo, “Do made in ao created in: um novo paradigma para a economia portuguesa”, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde se defendia que, na educação, competências digitais e de programação deveriam ser introduzidas desde o 1.º ciclo. E sugeria a revisão dos critérios de financiamento do ensino superior.
Na altura, à Renascença, Fernando Alexandre defendeu então a aposta em áreas que possam trazer “um Nobel para Portugal”. Nesta área, os académicos autores do estudo consideravam também ser essencial criar sistemas de bolsas para estudantes internacionais, “de forma a reforçar a atracção e fixação de talento”. E ainda estabelecer contratos-programa entre a tutela e as universidades “para que, até 2030, Portugal tenha pelo menos uma universidade entre as 100 melhores do mundo e cinco áreas científicas entre as 75 melhores do mundo no ranking de Xangai”.
Fernando Alexandre, de 52 anos, tem experiência de gestão universitária: foi pró-reitor e também presidente da Escola de Economia na Universidade do Minho. Naquela instituição, é professor associado, desde 2009.
Com licenciatura e mestrado em Economia feitos na Universidade de Coimbra, em 2003, doutorou-se na Universidade de Londres – Birkbeck College, com uma dissertação sobre política monetária e mercados financeiros, segundo consta na nota biográfica no site do Conselho Económico e Social (CES), instituição da qual é vice-presidente, escolhido pelo socialista Francisco Assis.
Dois anos no Governo
A reunião, num mesmo ministério, da Educação e do Ensino Superior é uma das novidades na orgânica do Governo da AD. Já tinha sido assim no mandato de 2011 a 2015 — na altura, o ministro foi Nuno Crato, que teve dois secretários de Estado distintos para o ensino superior durante aqueles quatro anos. Nas três legislaturas seguintes, o PS manteve as duas pastas separadas.
A escolha para ministro desta nova “superpasta” também passou pelo Governo de Pedro Passos Coelho. Fernando Alexandre foi secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, na segunda metade desse mandato – foi nomeado em Abril de 2013 pelo então ministro Miguel Macedo. Não chegou ao fim do mandato: saiu seis meses antes das eleições, em conflito com Anabela Rodrigues, que entretanto tinha assumido a pasta.
Antes de entrar no Governo, o economista tinha sido um dos autores de um estudo que avaliou de forma negativa os impactos da proposta relacionada com o aumento da taxa social única, feita por Pedro Passos Coelho. Mais recentemente, integrou também a comissão técnica responsável por avaliar as propostas de localização do aeroporto de Lisboa.