Junta lisboeta do Beato não quer centro para sem-abrigo na freguesia

Autarquia refere “episódios limite de comportamentos de pessoas em situação de sem-abrigo” na zona. Por isso, opõe-se ao uso da Ala Norte da Manutenção Militar como pólo de apoio a essa população.

Foto
Junta do Beato garante que a população da zona é solidária, mas entende que a freguesia não pode ser "depósito" de sem-abrigo. Nuno Ferreira Santos
Ouça este artigo
00:00
03:14

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Junta do Beato discorda da decisão da Câmara de Lisboa de transferir para a freguesia a resposta a pessoas sem-abrigo actualmente instalada no Quartel de Santa Bárbara, sublinhando que existem já na zona outros apoios.

Em 1 de Março, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) anunciou que o centro de alojamento do Quartel de Santa Bárbara para pessoas em situação de sem-abrigo, em Arroios, seria deslocalizado até ao final deste ano para a ala norte da Manutenção Militar, no Beato.

O anúncio resultou do acordo de "cedência por parte do Governo" do imóvel da Ala Norte do complexo da Manutenção Militar, na Rua do Grilo, que "irá vigorar pelo período de 20 anos, podendo ser prorrogada por acordo das partes até uma duração máxima de 50 anos", segundo a autarquia.

Entretanto, em 15 de Março, o presidente da CML, Carlos Moedas (PSD), disse que o novo centro iria abrir "por volta da Páscoa".

Num comunicado divulgado na sua página, a Junta de Freguesia do Beato disse estar relutante com a medida.

"Consideramos esta situação como um grave erro estratégico de avaliação das condições em que se encontra a freguesia, nomeadamente as profundas carências económicas, sociais e estruturais existentes no território, que não acompanham a evolução que tem existido na cidade de Lisboa, acabando por gerar um descontentamento geral nos moradores", é destacado na nota.

A Junta, presidida pelo socialista Silvino Correia, afirmou que a população do Beato é solidária por natureza, mas que, "infelizmente, diariamente é confrontada com episódios limite de comportamentos de pessoas em situação de sem-abrigo que, circulando pela freguesia, geram sentimentos de revolta e colocam em causa o dia-a-dia dos residentes".

A autarquia lembrou que naquele território existem já outras respostas nesta área: o Centro de Acolhimento de Xabregas, gerido pelo Exército de Salvação, com cerca de 120 utentes, e o Centro de Acolhimento do Beato, gerido pela Vitae, situado na Rua Gualdim Pais, sendo no momento o maior centro de acolhimento de Lisboa, com "centenas de utentes".

Perto da freguesia, na vizinha Penha de França, há também a Unidade Integrativa para Pessoas em Situação de Sem-abrigo, gerida pela Comunidade Vida e Paz, que dá resposta a cerca de 40 pessoas, acrescentou.

Para a Junta, é "preocupante a decisão da CML de deslocalizar o acolhimento disponibilizado às pessoas em situação de sem-abrigo do Quartel de Santa Bárbara para um local ao lado de um jardim-de-infância e escola básica de 1.º ciclo - a Escola Básica do Beato -, onde estão crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 9 anos".

"Finalmente, consideramos uma má decisão a instalação de um equipamento com esta finalidade junto ao Hub Criativo do Beato/Fábrica de Unicórnios, pois se o território tem sido sucessivamente esquecido nas últimas décadas, o investimento que está aqui a ser realizado surge agora como um elemento de esperança, concretizado na produção de oportunidades para a população local, na reabilitação urbana mas igualmente na atracção de novas populações que ajudem ao rejuvenescimento e economia do território, permitindo à freguesia do Beato sentir-se por fim integrada na sua cidade", sublinha.

No entendimento da autarquia, o problema não se resolve com a transferência para outro local da cidade.

Por isso, a freguesia realça que o Beato "não pode nem deve continuar a ser um "depósito" de pessoas em situação de sem-abrigo, ainda que a junta [...] seja solidária com esta problemática e compreenda a necessidade de continuar a apoiar estas pessoas".