“É importante que os migrantes sintam que pertencem à comunidade local”

Maddalena Alberti é directora de uma associação que tem integrado refugiados e requerentes de asilo na comunidade local de Roncadelle, em Itália.

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Encontro para integrar migrantes em Roncadelle DR
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A grande missão de Maddalena Alberti é transmitir que os migrantes não são um problema. “Há formas de trabalhar e viver em conjunto”, diz a italiana especialista em migrações e directora da associação Embaixada da Democracia Local (ADL, na sigla em italiano) Zavidovići, que integra refugiados e requerentes de asilo em localidades de Itália. A sua estratégia é fazer com que os migrantes se sintam parte da comunidade local. O trabalho que a associação tem desenvolvido foi agora distinguido com o prémio Adamowicz, em homenagem a Pawel Adamowicz, o presidente da câmara de Gdansk (Polónia) que foi assassinado quando participava numa cerimónia pública de caridade.

Um dos grandes focos da ADL Zavidovići é receber e integrar requerentes de asilo e refugiados. “A nossa abordagem é tentar trabalhar desde o início com as comunidades locais”, assinala ao PÚBLICO Maddalena Alberti, na 10.ª Cimeira Europeia das Regiões e dos Municípios, que decorreu segunda e terça-feira, na cidade belga de Mons, onde recebeu o prémio Adamowicz, uma parceria entre a cidade de Gdansk e o Comité das Regiões Europeu.

Maddalena Alberti diz que a abordagem da associação é um trabalho em conjunto entre a comunidade local e a integração de migrantes. É isso que se tem feito em Roncadelle, situada na província de Bréscia. Além de ter (por exemplo) arranjado apartamentos para hospedar refugiados e requerentes de asilo ou de trabalhar com os serviços sociais, a associação faz questão de os levar a reuniões com as organizações locais e os municípios.

“Apresentamos os refugiados a alguns dos representantes dos municípios”, exemplifica a directora da associação. Tudo isto porque, para si, o grande princípio é este: “É importante que os migrantes sintam que pertencem à comunidade local.” Maddalena Alberti diz que, quando se sentem parte de uma comunidade, a integração acontece. “Queremos devolver aos refugiados e requerentes de asilo o sentimento de pertença que perderam pelo caminho”, nota.

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Maddalena Alberti num encontro com migrantes em Roncadelle DR

Agostino Zanotti, representante de Roncadelle na cimeira e também membro da associação, diz que há vários anos que a localidade tem apostado na integração de migrantes e que a experiência é “muito positiva”. Um dos pontos de partida é o diálogo entre quem vive em Roncadelle e quem chega. Uma grande oportunidade de integração começa logo nas escolas. No emprego, a integração é mais difícil: “No trabalho é mais difícil por causa da língua e por haver já algum estigma”, sintetiza.

Já na cidade de Bréscia há um centro islâmico onde se realizam palestras e se fala sobre questões urbanas. “É uma possibilidade de diálogo”, assinala Agostino Zanotti, adiantando que tudo isto melhora a relação dos cidadãos com a política.

Contra o populismo e as falsas narrativas

Com tudo isto, Maddalena Alberti quer que as pessoas percebam que os migrantes não são um problema. “Ter migrantes é algo normal. Não é fácil, mas é um trabalho que temos de fazer diariamente”, diz. “Os migrantes têm de sentir que fazem parte da Europa, que são livres para se movimentarem e para trabalhar de forma legal.”

Maddalena Alberti diz que já foi mais fácil integrar migrantes em Itália. “Todos os dias temos de lutar contra o populismo e as falsas narrativas sobre os migrantes”, conta. “O sentimento de ódio é muito mais forte agora do quando começámos [a trabalhar]” Mas acredita que o trabalho que continuam a fazer é uma forma de combater esse sentimento: “Conheçam as pessoas e convivam com elas. Tudo isto tem a ver com confiança mútua. Quando conhecemos as pessoas, sentimos que podemos confiar nelas.”

Na perspectiva da sua associação, todo o trabalho que está a ser feito com os migrantes é importante para o próprio futuro da União Europeia. Para que não haja confusões, Maddalena Alberti realça que essa importância não tem a ver com a necessidade de usar os migrantes para renovar uma população europeia envelhecida: “Não é uma questão de precisarmos delas, mas de lhe darmos direitos humanos.” Por isso, tem estado preocupada com os problemas no controlo das fronteiras.

O trabalho da ADL Zavidovići não se restringe a Itália. Aliás, tudo começou em 1996, depois da guerra da Bósnia, onde continua a trabalhar com uma associação local. Depois, expandiu-se então para Itália. Hoje, a propósito da guerra na Ucrânia, começou também a colaborar com uma associação local em Mariupol.

O PÚBLICO viajou a convite do Comité das Regiões Europeu

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