A pior selecção do mundo voltou a perder

Ainda não foi desta que São Marino conseguiu acabar com quase duas décadas sem ganhar. Esteve em vantagem, mas perdeu com St. Kitts & Nevis. Domingo terá nova oportunidade, com o mesmo adversário.

Foto
Foi a 193.ª derrota em 202 jogos para San Marino Filippo Pruccoli/San Marino
Ouça este artigo
00:00
04:04

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

É assim a vida da pior selecção do mundo. Perder e continuar a tentar. São Marino, que é oficialmente a pior selecção de acordo com o ranking da FIFA (210.ª em 211, apenas atrás da Eritreia, que não tem ranking por não jogar desde 2020), sofreu, nesta quinta-feira, a sua 193.ª derrota em 202 jogos, derrotada num particular por St. Kitts & Nevis por 1-3 – e continuam os quase 20 anos sem ganhar um jogo.

Mas nem tudo foi mau neste confronto com a selecção que veio das Caraíbas. A primeira boa notícia é que os são-marineses voltaram a marcar um golo pelo quarto jogo consecutivo, o que é um recorde. A segunda boa notícia é que voltam a ter nova oportunidade de bater os caribenhos (que estão 63 lugares acima no ranking) no próximo domingo.

Como a Internet adora uma boa história, sobretudo se envolve perdedores desportivos espectaculares, São Marino foi um “trending topic” na rede social X (ex-Twitter), alimentado por contas como o @SanMarino_FA ou o @SanMarinoTeam, duas contas de adeptos de futebol totalmente dedicadas à “La Serenessima” e até bem mais informativas que os canais oficiais. E assim, durante duas horas, tivemos milhares de adeptos um pouco por todo o mundo a torcer por uma vitória de São Marino, que acabaria por não acontecer.

Este era o dia de todas as esperanças para o futebol do quinto país mais pequeno do mundo (área de 61km quadrados e população de 30 mil habitantes). Estreava um novo treinador, pela primeira vez um profissional, Roberto Cevoli, antigo defesa com experiência de Série A italiana, e tinha algumas caras novas na equipa, entre elas, um guarda-redes, Edoardo Colombo, do Rimini (Série C), ao lado de outros mais experientes, como o capitão Matteo Vitaioli, que joga na selecção há 17 anos e nunca ganhou um jogo.

Havia a expectativa de poderem bater o seu visitante caribenho, uma selecção de meio da tabela na sua confederação (CONCACAF) também com muitos jogadores amadores – alguns recrutados na diáspora e com experiência nas divisões secundárias do futebol inglês. E os são-marineses fizeram por cumprir essas expectativas, com um domínio bastante pronunciado nos primeiros minutos, ao ponto de se colocarem em vantagem.

Aos 20’, falta indiscutível de Andre Burley na área sobre Fillipo Berardi e a árbitra Deborah Bianchi não deixou passar. Penálti para a equipa da casa que o próprio Berardi, o 10 de São Marino, converteu em golo com o pé esquerdo. Era a alegria nas bancadas (pouco preenchidas) em Serravalle e a sensação de que algo histórico podia acontecer. “O MELHOR PENÁLTI QUE EU JÁ VI NA VIDA” e “ACHO QUE TIVE UM ORGASMO”, exclamou em letras maiúsculas o autor do @SanMarino_FA sobre o golo de Berardi, o seu terceiro na selecção – é o segundo melhor marcador da história da sua selecção, atrás de alguém que marcou… oito.

Mas a alegria de São Marino durou pouco, assim como alguma amostra de estratégia no jogo – meia-hora depois, já ninguém queria defender, só atacar. E os caribenhos, em dois cantos, viraram o resultado. Primeiro, num lance confuso em que a bola bateu em vários jogadores e ficou ao alcance de Tyquan Terrel para o empate aos 30’. Depois, em cima do intervalo, o estreante Colombo ofereceu a reviravolta a St. Kitts, largando a bola para uma recarga de Burley. Logo nos primeiros minutos da segunda parte, Harry Panayiotou fez o 1-3 e cortou qualquer hipótese de haver história grande.

O que ficou foi mais uma derrota a juntar às muitas que já aconteceram à selecção de São Marino desde que começou a fazer os seus primeiros jogos em 1990, com apenas 32 golos marcados e 816 sofridos, e a estar do lado errado de algumas goleadas por dois dígitos, como um 0-13 com a Alemanha, um 0-11 com os Países Baixos ou um 0-10 com a Polónia e Inglaterra. Em 34 anos, empatou oito vezes e só ganhou uma, por 1-0, num particular com o Liechtenstein a 28 de Abril de 2004.

Mas as últimas derrotas têm sido por números menos robustos, com os 1-2 frente a Dinamarca e Finlândia durante a qualificação para o Euro 2024. Pode ser que no próximo domingo, de novo frente a St. Kitts, os amadores empenhados de São Marino consigam ser vitoriosos pela segunda vez.

Sugerir correcção
Comentar