Deputado do Chega pela Europa foi imigrante ilegal em França (e expulso duas vezes)

O emigrante José Dias Fernandes foi eleito pelo círculo da Europa. Numa entrevista recente, contou que foi imigrante ilegal, embora o Chega queira criminalizar quem entra no país ilegalmente.

Foto
André Ventura, presidente do Chega, quer criminalizar a residência ilegal de imigrantes, mas ajudou a eleger emigrante que esteve ilegal em França Reuters/Pedro Nunes
Ouça este artigo
00:00
02:55

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

José Dias Fernandes, o deputado eleito pelo Chega pelo círculo da Europa, vive actualmente em França, mas durante anos foi imigrante ilegal naquele país. Chegou a ser expulso de França duas vezes até conseguir obter a residência legal. Aos olhos do Chega, os imigrantes ilegais deveriam ser expulsos e impedidos de regressar e legalizar a sua situação nos cinco anos seguintes, mas José Dias Fernandes voltou a França, mesmo depois de ter sido expulso. Numa entrevista a um jornal franco-lusófono, José Dias Fernandes conta que foi durante a presidência de François Mitterrand, um socialista, que conseguiu a sua autorização de residência. E diz-se solidário com todos aqueles que, como ele, procuraram melhores condições de vida noutro país ― mesmo que de forma ilegal.

Natural de Viana do Castelo, José Dias Fernandes é emigrante há 50 anos e trabalha em França como empresário. Saiu de Portugal na década de 70, "jovem", mas durante anos viveu e trabalhou como imigrante ilegal naquele país. "Fui expulso duas vezes [de França]. É verdade", começa por reconhecer numa entrevista ao LusoJornal. "Tentei Andorra e voltei para França e fui expulso novamente. Voltei em 1978, outra vez", continua a contar. "Quando passou a François Mitterrand, tive ocasião de fazer os papéis", diz.

Ao longo da entrevista, ​José Dias Fernandes conta ainda que ajudou "centenas" de imigrantes ilegais portugueses em França, ajudando a criar "dezenas de empresas". "Só se faziam papéis em França [atribuição de residência legal] a quem fosse empresário. Como eu decidia quem ia trabalhar como subempreiteiro, ajudei muito português a criar a sua empresa e a dar trabalho. Sei as dificuldades do imigrante comum", afirma na entrevista.

No seu programa, o Chega propõe criminalizar todos os imigrantes que tenham residência ilegal em solo português e impedir a permanência de imigrantes ilegais em território nacional, "assegurando que quem for encontrado nessas circunstâncias fica impedido de regressar a Portugal e de legalizar a sua situação nos cinco anos seguintes". Ora, caso esta medida estivesse em vigor em França, José Dias Fernandes não teria conseguido voltar a França uma terceira vez.

Nesta quarta-feira, numa publicação na sua página de Facebook em que não faz qualquer referência ao presidente do Chega, José Dias Fernandes optou por dedicar os seus agradecimentos a Carlos Medeiros, "pela excelente campanha na Suíça", que representou metade dos votos no Chega pelo círculo da Europa. Carlos Medeiros, que foi "quase comunista", como disse em 2016 numa entrevista à Visão, chegou a fazer parte do CDS, foi candidato pelo partido Aliança nas eleições legislativas de 2019. No meio do seu périplo partidário, chegou a ser apoiante de Tino de Rans, antes de ser candidato do Chega nas eleições autárquicas, por Lisboa. Na Suíça, Carlos Medeiros foi presidente do Conselho Municipal de Genebra e militante do partido de direita radical Movimento de Cidadãos Genebrinos.

Sugerir correcção
Ler 178 comentários