CGD alcança lucro histórico: 1291 milhões de euros
Com lucros recorde, o banco público vai entregar dividendos de 525 milhões de euros ao Estado, accionista único da Caixa.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) reportou um resultado líquido de 1291 milhões de euros em 2023, valor que representa uma subida de 53% em relação aos lucros de 843 milhões que tinham sido alcançados no ano anterior. O banco público regista, assim, os maiores resultados da sua história e encerra um novo capítulo: com as contas de 2023 fechadas, os lucros anuais acumulados desde 2017, quando a instituição liderada por Paulo Macedo voltou aos resultados positivos, já superam os prejuízos registados durante a última crise financeira.
Os resultados foram anunciados, esta sexta-feira, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A justificar os lucros superiores a mil milhões de euros está, sobretudo, o crescimento da margem financeira (indicador que mede a diferença entre os juros cobrados no crédito e os juros pagos nos depósitos), num contexto de subida das taxas de juro.
A margem financeira totalizou 2866 milhões de euros, valor que representa mais do dobro dos 1408 milhões que tinham sido registados em 2022. Este resultado mais do que compensou a quebra de 4,4% das receitas obtidas por via de serviços e comissões, que totalizaram 723 milhões de euros, assim como a queda de 20,6% dos resultados de operações financeiras, que ascenderam a 171,6 milhões de euros.
Por outro lado, a Caixa diminuiu os custos em 15%, para 1020 milhões de euros, uma queda que fica a dever-se, essencialmente, à redução dos custos com pessoal, que sofreram uma quebra de 23% (ou 188 milhões de euros), num ano em que o banco perdeu trabalhadores. Ao todo, a Caixa empregava 6243 pessoas em Portugal no final de 2023, menos 270 pessoas do que no ano anterior. Sem contabilizar os efeitos extraordinários relacionados com o programa de reestruturação de pessoal, os custos com pessoal teriam aumentado em 4%, refere a CGD no relatório de resultados.
O produto global da actividade acabou, assim, por crescer 55% e fixar-se em 3603 milhões de euros no ano passado.
Em sentido contrário ao do resultado operacional, e à semelhança do que aconteceu com a generalidade dos bancos a operar em Portugal, a Caixa teve um desempenho negativo do lado comercial. A carteira de crédito a clientes total recuou em 0,7% e ascendeu a 52.658 milhões de euros em 2023. A justificar esta quebra esteve o crédito à habitação, cuja carteira caiu em 1,7% e totalizou 24.586 milhões. Por outro lado, o crédito a empresas aumentou em 0,7%, totalizando 19.664 milhões de euros, enquanto o crédito ao consumo cresceu 7,5% e totalizou 1102 milhões de euros.
Ainda do lado do crédito, o banco voltou a registar melhorias na qualidade da carteira e reduziu o rácio de NPL (non-performing loans, indicador utilizado para medir o nível de malparado) de 2,43% em 2022 para 1,65% em 2023.
Isto, num ano em que as provisões e imparidades aumentaram em 667,5 milhões de euros, passando de um valor negativo para um total de 649,6 milhões. "Esta evolução tem subjacente a continuidade da postura prudente e preventiva da Caixa na cobertura de eventuais riscos colocados pela actual conjuntura económica", justifica a gestão do banco, acrescentando ainda que a política de provisionamento teve por base o programa de reestruturação de pessoal e a alienação de carteiras de activos.
Já os depósitos de clientes caíram 4% e totalizaram 80.518 milhões de euros no ano passado, uma tendência que também está em linha com o que se verifica no resto do sector, numa altura em que os clientes bancários têm recorrido às poupanças para fazer amortizações antecipadas dos créditos. A Caixa destaca, ainda assim, que se verificou uma tendência de recuperação no segundo semestre do ano, "com um aumento de cerca de 1400 milhões de euros".