PCP alerta: 1,1 milhões de votantes do Chega não são “base de apoio à extrema-direita”

Comité Central do PCP assume pela primeira vez que tem de se olhar para quem são os votantes do Chega e não entendê-los a todos como defensores de um projecto antidemocrático.

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Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa acompanharam Paulo Raimundo na campanha em Lisboa - foto de arquivo LUSA/MIGUEL A. LOPES
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O comité central do PCP separa, pela primeira vez, aquele que é o projecto do Chega dos votantes que escolheram o partido nas últimas eleições legislativas, cerca de 1,1 milhões de eleitores.

"Sem desvalorizar e deixar de alertar para o carácter reaccionário e fascizante deste partido, deve ser rejeitada a tentativa de apresentar esse resultado e essa expressão eleitorais como base de apoio à extrema-direita, de legitimação para projectos antidemocráticos, ou de questionamento do regime democrático e do que Abril representou e representa", sublinha o comunicado do comité central do PCP, divulgado quarta-feira à tarde, já depois de o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, ter dado uma conferência de imprensa, em que anunciou a apresentação de uma moção de rejeição ao programa de governo da AD.

"O resultado do Chega, construído a partir da mentira e da demagogia mais abjecta, e que a política de direita de sucessivos governos favoreceu, traduz, para lá da dimensão reaccionária, xenófoba e racista e do discurso de ódio que promoveu, a ilusão a que muitos milhares de eleitores foram levados sob um falso discurso contra a corrupção e as injustiças, das quais esse partido é activo cúmplice e promotor", acrescenta o PCP, na sua análise.

Esta posição do PCP é inédita em relação aos votantes do Chega. Em anteriores ocasiões, a reflexão que o Comité Central fez dos resultados eleitorais não apontava neste sentido, talvez porque a sua expressão eleitoral era menor. Nestas legislativas, o Chega quadruplicou a sua votação e representação parlamentar (passou de 12 para 48 deputados) e fortaleceu a sua influência em territórios onde o PCP tradicionalmente tinha peso e deixou de o ter, como nos distritos de Évora, Beja e Setúbal. O PCP só conseguiu eleger dois deputados em Lisboa, um no Porto e um em Setúbal.

A primeira vez que o órgão máximo do PCP entre congressos se debruçou sobre o Chega foi na reunião de Outubro de 2019, após o partido de André Ventura ter entrado na Assembleia da República.

"​São de registar ainda alterações da composição da Assembleia da República, quer pela constituição de um grupo parlamentar do PAN e a eleição pela primeira vez de uma representação do Livre, a par das novas representações parlamentares de duas forças políticas (Chega e Iniciativa Liberal) associadas aos centros mais reaccionários do capital monopolista, com indisfarçáveis agendas populistas e antidemocráticas", referia aquele texto do PCP.

Já na reunião que se seguiu às eleições de 2022, que deram a maioria absoluta ao PS e um crescimento do Chega e Iniciativa Liberal, o comité central do PCP alertava para "projectos de natureza retrógrada e reaccionária" que promovem "a xenofobia, a estigmatização de comunidades imigrantes e a aceitação da suspeita como critério de decisão política do Estado".

Nessa altura, o PCP acrescentava algo que agora não voltou a repetir: que o projecto do PSD para o país era "antidemocrático", englobando neste ponto PSD, CDS, Chega e IL.

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