Polícia israelita mata rapaz de 13 anos que lançava fogo-de-artifício

Tensões no campo onde o adolescente foi morto, em Jerusalém Oriental. Quase 100 pessoas mortas em Gaza, no terceiro dia do Ramadão.

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Cinco pessoas morreram e 22 ficaram feridas num ataque contra um centro de distribuição de alimentos da UNRWA em Rafah Reuters/Mohammed Salem
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Foi apenas um entre dezenas de palestinianos mortos de terça para quarta-feira: Rami Hamdan, de 13 anos, foi atingido a tiro no peito imediatamente depois de lançar um foguete – as forças israelitas dizem que atirou o fogo-de-artifício na direcção da polícia, no campo de refugiados de Shufat, em Jerusalém Oriental, anexada e ocupada por Israel. Relatos de testemunhas coincidem com um vídeo que mostra o rapaz a lançar o foguete para o ar – não sendo claro onde se encontram as forças de Israel – antes de ser atingido e cair no chão. Quase 24h depois, Shufat era cenário de confrontos.

“É exactamente assim que devemos agir contra os terroristas – com determinação e precisão”, defendeu o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita.

Ben-Gvir não se limitou a elogiar o comportamento do agente, deslocou-se pessoalmente ao Departamento de Investigações Internas da Polícia (DIPI, na sigla em inglês) para lhe manifestar o seu apoio e agradecer o “trabalho excepcional”, quando este esperava para ser interrogado sobre o ocorrido. “É escandaloso para mim que o DIPI se atreva sequer a convidar o combatente a vir aqui para um interrogatório”, declarou o ministro, num vídeo publicado na rede X (antigo Twitter) e citado pelo diário The Times of Israel.

“Um terrorista dispara fogos-de-artifício e quer fazer mal aos nossos soldados, aos nossos combatentes, e dispara o fogo-de-artifício… Um combatente vem e faz exactamente aquilo que é esperado”, acrescentou ainda o aliado de Benjamin Netanyahu. “Que o tenham convocado para o questionarem é o maior escândalo”, repetiu, acusando o DIPI de “destruir a [capacidade de] dissuasão israelita”.

Ainda segundo o Times of Israel, a procuradora-geral israelita reagiu a estes comentários numa carta enviado ao ministro da Segurança Interna, lembrando que “investigações criminais, incluindo as de oficiais da polícia, são conduzidas com total independência”. “Qualquer intervenção sua, directa ou indirecta, viola a lei… isto deve ser interrompido imediatamente”, sublinhou Gali Baharav-Miara.

De acordo com a polícia, uma “desordem violenta” rebentou em Shufat (único campo de refugiados dentro do município de Jerusalém) na terça-feira à noite (depois da quebra do jejum do Ramadão, quando os palestinianos costumam celebrar nas ruas ou em casa com as famílias), com pessoas a lançarem fogos-de-artifício e cocktails Molotov “directamente contras as forças de segurança”.

Quase 24h depois, ao início da noite de quarta-feira, os media palestinianos começaram a divulgar imagens de confrontos entre residentes de Shufat e forças de segurança de Israel, que terão sido desencadeados por um raide israelita.

Com o Ramadão em pano de fundo, a Faixa de Gaza viveu um nível de violência que já não se verificava há vários dias, com pelo menos 88 palestinianos mortos (entre terça e quarta-feira) nos ataques israelitas no território, no mesmo período em que seis pessoas (incluindo Rami Hamdan) eram mortas na Cisjordânia.

Horas depois, cinco pessoas morreram e 22 ficaram feridas num ataque contra um centro de distribuição de alimentos da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) em Rafah, a cidade mais a sul do enclave palestiniano, onde se concentram agora cerca de 1,5 milhões de palestinianos (de uma população de 2,3 milhões em Gaza), incluindo centenas de milhares de deslocados internos que fugiram da violência noutras cidades.

Entre as vítimas há pelo menos um funcionário da UNRWA, uma notícia descrita como “devastadora” pelo subsecretário-geral da ONU Martin Griffiths. “Como é que podemos manter as operações de ajuda, quando as nossas equipas e mantimentos estão constantemente sob ameaça?”, interrogou-se na rede X (antigo Twitter) o principal responsável das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e a Assistência de Emergência. “Têm de ser protegidos. Esta guerra tem de acabar.”

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