Telemedicina só representa 1,3% do total de consultas nos hospitais. É preciso mais formação e investimento

Baixa literacia digital e falta de equipamentos necessários foram dois dos desafios que utentes e profissionais enfrentaram na utilização da telemedicina durante a pandemia, aponta artigo científico.

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Segundo dados do Portal do SNS, em 2021 e 2022 realizaram-se 354 mil e 194 mil consultas hospitalares através de telemedicina, respectivamente Paulo Pimenta
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São ainda uma gota de água num oceano de mais de 13 milhões de consultas que os hospitais realizaram em 2023. No ano passado, segundo dados do Portal do SNS, foram realizadas perto de 172 mil consultas por telemedicina. Ou seja, esta modalidade de contacto à distância entre utentes e unidades de saúde representa apenas 1,3% do total de consultas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Apesar de os primeiros passos nesta área já terem alguns anos, foi com a pandemia que a telemedicina ganhou novo fôlego. Os dados do indicador que monitoriza as consultas registadas na Plataforma de Telessaúde do SNS não são elevados. Mas o total registado no ano passado é bem superior ao histórico antes da covid-19. Por exemplo, em 2019 as consultas em telemedicina não chegaram a 30 mil. Foi em 2021 e 2022 que se registaram os valores mais elevados: 354 mil e 194 mil consultas, respectivamente.

Mas que desafios se enfrentaram durante esse período? Baixa literacia digital e falta de equipamentos necessários foram dois deles, identifica um artigo divulgado recentemente na revista Acta Médica Portuguesa.

Com o foco de se “implementar eficazmente” a telemedicina, os investigadores colocaram duas questões em cima da mesa: quais foram os principais desafios no acesso às consultas hospitalares através de telemedicina durante a pandemia e quais as principais recomendações para possíveis soluções?

Um painel de dez peritos analisou várias premissas e apontou aqueles que terão sido os principais desafios. Pelo lado dos utentes, concluiu como principais entraves a “baixa literacia digital, a falta de informações sobre o processo de implantação da telemedicina, a pouca familiaridade com as tecnologias e a desconfiança sobre a qualidade dos serviços”. Uma listagem que “é consistente com os resultados de outros estudos”, refere o artigo.

Do lado dos profissionais e das instituições de saúde, são apontadas a “falta de integração da telemedicina na jornada do paciente e a falta de motivação para adoptar soluções de telessaúde, a fraca interoperabilidade entre sistemas e a falta de equipamentos tecnológicos” como maiores entraves à sua generalização. São factores também identificados noutros estudos, acrescenta-se.

É "necessária abordagem colectiva"

Respondida a primeira pergunta, segue-se a segunda: quais as possíveis soluções? “As recomendações propostas pelos especialistas na área da telemedicina destacaram a necessidade de investimentos significativos nas instituições de saúde, incluindo na formação de profissionais, equipamentos tecnológicos, equipas e interoperabilidade de sistemas, bem como no desenvolvimento de directrizes claras para a segurança e qualidade das práticas de telemedicina.”

O investimento de que falam os peritos “deverá também incluir a aquisição de competências de literacia digital, a inclusão da telemedicina nos currículos das profissões de saúde e o desenvolvimento de modelos de implementação locais que considerem as necessidades das partes interessadas e o contexto envolvente”. Isto sem esquecer a compreensão das “reais necessidades” dos utentes relativamente a aspectos da telemedicina.

“Para o uso bem-sucedido da telemedicina, é necessária uma abordagem colectiva e integrada que envolva todas as partes interessadas”, defende-se no artigo, que salienta a importância de se fazerem mais avaliações sobre esta matéria.

Portugal tem um Centro Nacional de TeleSaúde, criado em 2016, e, em Novembro de 2019, foi apresentado o Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde 2019-2022. Um “primeiro documento estratégico na área da telessaúde para o Sistema Nacional de Saúde e não apenas para o Serviço Nacional de Saúde”, lê-se no plano, que identificava já vários desafios - definição de processos, aproximação dos cuidados de saúde à população, garantir as infra-estruturas tecnológicas necessárias.

Na apresentação do documento, a então secretária de Estado da Saúde, Jamila Madeira, apontava a importância da telessaúde para “proporcionar acessibilidade e proximidade”. Também os autores, todos associados à Universidade Nova de Lisboa, do artigo Desafios da Utilização da Telemedicina em Consultas de Especialidade Hospitalar, durante a Pandemia de COVID-19 em Portugal, Segundo um Painel de Peritos salientam que um dos objectivos da telemedicina é “alargar o acesso a cuidados de saúde, fornecendo consultas e monitorização remota aos pacientes”.

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