Montenegro deixa papel de “líder da oposição” e tenta conter o Chega

No último dia de campanha, a Aliança Democrática terá Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Luís Montenegro evita críticas aos adversários, fala para as mulheres e sobre o quotidiano dos portugueses.

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Arruada da AD no Porto Nelson Garrido
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Mesmo no penúltimo dia de campanha, já com mais sondagens favoráveis, a Aliança Democrática (AD) prepara-se para festejar a vitória no domingo, embora falte conhecer a força do Chega e perceber onde votam os indecisos. Luís Montenegro afina o papel de moderado, fala agora também para as mulheres, e sobre a igualdade de género, um tema que o afasta de André Ventura e aproxima da esquerda. No último dia de campanha, a AD aposta forte não só em figuras de referência da direita –​ os dois antigos líderes do PSD, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, vão aparecer –, mas também em eventos. Está previsto um “grande comício” no Campo Pequeno, depois de ter sido cancelada a tradicional arruada no Chiado por causa das previsões de mau tempo.

No Porto, no comício que fechou o dia de campanha no distrito, depois de uma arruada em Santa Catarina que mobilizou centenas de apoiantes, o líder da AD recordou o motivo pelo qual traçou uma das suas linhas vermelhas: Só governa se ganhar as eleições. “Por que é que disse isso? Mesmo quando nós estávamos mais lá em baixo [nas sondagens], eu próprio acreditava, sabia que ia conseguir dizer às pessoas que ia lutar por um país diferente”, disse no palco da tenda montada para evitar a chuva, depois de ter voltado a receber na campanha Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto.

Logo a seguir refreou os ânimos: “Não estou a dizer que ganhámos as eleições, ainda não as ganhámos. Mas não há ninguém em Portugal que não entenda que as podemos ganhar.” Essa é a tese oficial: nada de antecipar vitórias. Há muitos indecisos e a força do Chega – na caravana acredita-se ter perdido gás nesta última semana – são o suficiente para gerar uma dose de incógnita sobre o resultado de domingo.

Mas uma coisa é dada como certa na campanha da AD: há um limiar que pode fazer a diferença. Se o partido de André Ventura alcançar os 15% poderá eleger deputados em todo o país.

Se Rui Moreira bisou na campanha da AD, aparecendo no comício desta quinta-feira, o antigo líder Luís Filipe Menezes também repetiu a presença. Foi o orador convidado da visita à Afurada, freguesia de Vila Nova de Gaia, onde já foi presidente de câmara, para enaltecer as qualidades de Montenegro para chefiar um governo mesmo sem nunca ter exercido funções governativas.

"A Afurada votou totalmente em Mário Soares e ele nunca tinha sido primeiro-ministro. A Afurada e Gaia votaram em Sá Carneiro e ele nunca tinha sido primeiro-ministro", frisou Menezes, num salão da junta de freguesia, onde a organização da campanha improvisou um palco por causa da chuva, que obrigou ao cancelamento da arruada.

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Luís Montenegro durante a arruada em Santa Catarina, no Porto Nelson Garrido

O próprio Montenegro acabou por elucidar: “Se há assunto que vai resolver-se com o tempo é a minha experiência governativa.”

No comício do Porto, Montenegro manteve o afastamento do papel de “líder da oposição”, que foi “durante ano e meio”, para abraçar o de “candidato a primeiro-ministro”. E fê-lo com um toque de magnanimidade: “Acho que um comunista, bloquista e um socialista também querem que essas pessoas [pessoas comuns] também tenham uma vida diferente. Eu não vou pelas intenções, vou pelos resultados.”

Sem críticas directas ao PS, Montenegro falou na vida quotidiana dos portugueses, que “têm de pagar as contas” e “ir buscar os filhos à escola”. E voltou a falar para as mulheres, gerando entusiasmo no comício. Nos últimos dias, tem considerado que a “igualdade de género” é um “pilar fundamental da igualdade de oportunidades”, reconhecendo que é “preciso fazer alguma coisa” contra a "discriminação negativa sobre a retribuição do trabalho e do esforço das mulheres face aos homens" e também pelo facto de haver "poucas mulheres em cargos de direcção".

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