Paulo Curado (1960-2024): saxofonista e flautista de jazz morre aos 63 anos
Músico tinha uma bem-sucedida carreira de quatro décadas entre o jazz, a música improvisada e a música popular portuguesa. Não resistiu à doença de Huntington.
O saxofonista e flautista Paulo Curado, com uma bem-sucedida carreira de quatro décadas entre o jazz, a música improvisada e também a música popular portuguesa, morreu esta quarta-feira. Estava internado numa clínica, devido à progressão da doença de Huntington. Tinha 63 anos.
Nascido em Espinho, em Novembro de 1960, Paulo Curado teve formação clássica e jazzística, na Academia de Amadores de Música, no Conservatório Nacional e na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal. Em 1984, foi co-fundador, com José Peixoto, do grupo Shish (do qual faziam também parte os músicos António José Martins e Carlos Zíngaro), integrando em 1990 o projecto Plopoplot pot, dirigido por Nuno Rebelo, e em 1992 o grupo Idefix, dirigido por Sérgio Pelágio, que gravou nesse mesmo ano, ao vivo, o CD Idefix Live. Na década de 1980 fez parte dos grupos que acompanharam nomes como Janita Salomé, José Mário Branco ou Júlio Pereira, gravou em discos de José Afonso (Galinhas do Mato) e Jorge Palma (Prohibido Fumar) e participou, como flautista, no histórico concerto de Carlos Paredes no Teatro de São Luiz, em 1992, gravado pela RTP e editado em DVD.
Outros projectos que integrou, estes no âmbito do jazz, foram, entre outros O Lugar da Desordem (1995), trio de Paulo Curado com Bruno Pedroso na bateria e Pedro Gonçalves no contrabaixo; The Implicate Order/at Seixal (2001), com Steve Swell, Ken Filiano, Lou Grassi e Rodrigo Amado; LIP, dirigido por Rodrigo Amado (participando no disco do grupo gravado ao vivo no festival lxmescla, editado em 2002; Sonografias, com o desenhador António Jorge Gonçalves, que pinta em tempo real em suporte digital, apresentado pela primeira vez na Fábrica da Pólvora; ou As Sete Ilhas de Lisboa, Trio com João Paulo Esteves da Silva (piano) e Bruno Pedroso (bateria), estreado no Jazz em Agosto 2003 e editado em álbum nesse mesmo ano.
Como compositor, trabalhou ao longo da sua carreira para teatro, dança, cinema de animação e música para crianças, sendo, nesta última, co-autor de Bom Dia Benjamim com José Peixoto e Nuno Artur Silva, projecto do qual resultou um disco e um livro com desenhos de Cristina Sampaio, uma peça de teatro produzida para a Expo 98, com encenação de António Feio, e uma série de animação realizada por Nuno Amorim. Foi também autor das músicas do CD para crianças O Estranho Caso dos Sons Marados, da Spara, com guião das Produções Fictícias.
Para teatro, compôs músicas para várias peças, como Terrorismo, O amor de Fedra, Dois Irmãos e A Fábrica do Nada (todas dos Artistas Unidos), Ninguém Está Virgem, Perdidos em Yonkers, Duas Semanas com o Presidente, Arte (encenações de António Feio), A Vida Não é Literatura, Flash Black (ambas no CCB), Elefantes no Jardim (Teatro Taborda) ou Rastos (Teatro Aberto). E, para dança, compôs músicas para as coreografias Despe-te e Nada, Miss Liberty e Déclassé.
Paulo Curado foi também autor de música e sound designer de numerosas curtas-metragens de animação das produtoras Animanostra e Animais, de que foi também sócio, nomeadamente Cof Cof e Stuart, do realizador José Pedro Cavalheiro (Zepe), De Cabeça Perdida, da realizadora Isabel Aboim Inglez e Fragmentos de Sal, de Cristina Teixeira, entre outras.
Colaborou ainda, de 1996 ate 2000, no Atelier de Técnicas Narrativas da Fundação Gulbenkian, onde assinou músicas ou sonoplastias de filmes premiados, como Lado B, Inverno e Sopa Fria. Foi também, durante dois anos lectivos, professor de música da Escola do Chapitô, em Lisboa.
O velório de Paulo Curado decorrerá esta sexta-feira, na capela da Igreja de Arroios, entre as 16h e as 21h, com cremação, no sábado, às 13h15, no Cemitério do Alto de São João.