Governo do Haiti declara estado de emergência após fuga de milhares de prisioneiros

Gangues atacaram duas prisões – incluindo a maior do país – durante o fim-de-semana e apelaram à união de todos os grupos armados para forçar o Presidente interino, Ariel Henry, a demitir-se.

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Cerca de 3700 prisioneiros foram libertados, a maioria da maior prisão de Port-au-Prince (na imagem) EPA/Siffroy Clarens
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O Governo do Haiti declarou estado de emergência no domingo e impôs recolher obrigatório entre as 18h e as 5h até à próxima quarta-feira. As autoridades políticas do país caribenho responderam desta forma aos ataques do fim-de-semana a duas prisões, que levaram à fuga de cerca de 3700 presos, e aos apelos do líder de um dos principais gangues haitianos para que todos os grupos criminosos se unam e o ajudem a derrubar o primeiro-ministro Ariel Henry.

Henry acumula o cargo de Presidente interino desde o assassínio de Jovenel Moïse, em 2021, mas devia ter renunciado à presidência em Fevereiro. Não só não o fez, como não marcou eleições para a escolha do seu sucessor.

Aproveitando o facto de o Presidente interino estar ausente do país – deslocou-se até Nairobi para discutir a possibilidade de mobilização de uma força policial estrangeira liderada pelo Quénia para ajudar a acabar com a influência e o poder dos gangues haitianos – desde a quinta-feira da semana passada, grupos criminosos atacaram a principal prisão da capital, Port-au-Prince, e uma outra penitenciária, em Croix-des-Bouquets, no sábado à noite.

Milhares de detidos evadiram-se e, segundo a BBC, pelo menos 12 pessoas morreram durante os ataques. Um jornalista da Reuters que visitou a prisão de Port-au-Prince diz que viu três mortos e um outro jornalista, da AFP, falou em pelo menos dez mortos, alguns deles com ferimentos causados por disparos de armas de fogo.

Ambos os repórteres informaram que as portas da prisão permaneciam abertas no domingo, sem qualquer força policial ali presente. Ainda havia, no entanto, alguns prisioneiros nas celas, que optaram por lá ficar por receio de serem apanhados no fogo cruzado.

Numa mensagem publicada nas redes sociais, Jimmy Chérizier, um ex-polícia que é hoje líder de uma aliança de gangues haitianos e que é alvo de sanções do Governo dos Estados Unidos, assegurou que “todo” os “grupos armados das cidades de província e os grupos armados da capital estão unidos”, assumindo que o objectivo da revolta é “levar o primeiro-ministro Ariel Henry a demitir-se”.

Segundo as Nações Unidas, os gangues e grupos criminosos em causa controlam, neste momento, cerca de 80% da capital do Haiti. Num relatório recente, a organização mundial concluiu que, entre assassínios, sequestros e ferimentos, mais de 8400 pessoas foram alvo da violência associada aos gangues haitianos no ano passado.

Em declarações à BBC, o ex-primeiro-ministro e actual opositor político de Henry, Claude Joseph, descreveu uma situação no Haiti como um “pesadelo” e lamentou a decisão do seu sucessor de querer “ficar o mais tempo possível no poder”.

“[Henry] concordou em renunciar [ao cargo de Presidente interino] a 7 de Fevereiro. Agora decide ficar, apesar de haver enormes protestos em todo o país a pedir que se afaste”, criticou. “É lamentável que agora estes criminosos estejam a recorrer a meios violentos para o forçar a abdicar.”

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