BE fala para as mulheres e os indecisos, e pede ao PS que faça uma “escolha”
“Peço que votem como mulheres”, pediu Mariana Mortágua, num comício de casa cheia na reitoria da Universidade Nova de Lisboa, que contou com Catarina Martins, Pedro Filipe Soares e Jorge Costa.
Era suposto ser o momento alto da campanha e foi. Num sobe e desce de cadeiras, Mariana Mortágua inflamou o comício nacional do Bloco de Esquerda, na Reitoria da Universidade Nova, em Lisboa (mais até do que a ex-líder, Catarina Martins), num discurso em que optou por apostar nas mulheres. Mas a mensagem não ficou por aí, com um desfile de outros dirigentes a puxar pelos vários pontos da estratégia dos bloquistas: atacar tanto a direita como a maioria absoluta do PS para chegar ao voto dos indecisos e dos desiludidos com os socialistas, reforçar o desafio ao PS para fazer uma "escolha" no pós-eleições ou lembrar as conquistas passadas do BE e da "geringonça" para mostrar que o voto no partido conta.
Para um auditório cheio, que foi levantando das cadeiras repetidamente, Mortágua apostou tudo nas mulheres, "a força da democracia", como lhes chamou. E um eleitorado forte para o BE que importa agarrar, de acordo com a última sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso/SIC, que as coloca como a maioria dos indecisos (63%).
Lembrando as lutas do partido pela despenalização do aborto ou a protecção das vítimas de violência doméstica, a bloquista afirmou que "a história do BE tem sido a história da luta das mulheres por um país de iguais". E comprometeu-se a "não desistir" dos seus direitos, da habitação, aos salários, passando pelos transportes, as urgências de obstetrícia, as creches ou as aulas.
Fê-lo, apontando repetidamente que a direita e a extrema-direita colocam "sob ameaça" esses direitos e "não desistem da perseguição às mulheres", deixando mesmo um alerta para o "perigo" de "repetição" da governação do PSD/CDS. Uma estratégia que se tornou mais fácil depois de o vice-presidente do CDS, Paulo Núncio, ter pedido um referendo ao aborto, que levou Mortágua a garantir que "a lei vai ser completada" na próxima legislatura."Peço que votem como mulheres", apelou directamente, pedindo ainda uma grande mobilização para a manifestação feminista de 8 de Março, onde o BE vai terminar a campanha.
No primeiro grande discurso que faz desde que deixou a liderança do BE, Catarina Martins ocupou o mesmo lugar que, enquanto coordenadora, assumiu várias vezes: o de desafiar o PS para um acordo à esquerda. E não ofuscou Mortágua, embora a resposta também tenha sido entusiástica.
Atacando o PS de António Costa por ter tomado a "decisão" de "não responder" aos problemas do país, como a habitação, a saúde ou a educação, a ex-líder avisou que estar apenas focado em combater a direita dizendo que é "pior" do que o PS é uma má estratégia. E ofereceu a solução: "ter uma maioria" de esquerda "que responda ao país".
"Não precisamos do mesmismo, do medo, do jeitinho para não abanar o barco”, antes de "fazer escolhas", disse, numa provocação ao PS, que não se referia apenas à escolha de formar um acordo com o BE, mas também sobre os conteúdos desse acordo, nomeadamente, na saúde.
Com o BE apostado nesse entendimento, o cenário está colocado, como apontou Catarina Martins, entre "eleger o BE ou a direita" e "eleger o BE ou não eleger a esquerda", sem ataques ao PS actual. Mas críticas à direita não faltam, com a dirigente a acusá-la de estar “extremada” e só ter para dizer que "fará melhor" do que o PS, o que é "poucochinho".
Apostando na mesma bipolarização entre a direita — das "ideias e pessoas bafientas" — e o PS — o "mal menor" —, Pedro Filipe Soares, ex-líder parlamentar, levou mais longe o apelo aos indecisos — que lembrou que são um milhão — e ao eleitorado de esquerda desiludido com a maioria absoluta (que migrou do BE para o PS em 2022), como Mortágua já havia feito. Afirmando que "a esquerda está zangada com o PS", listou o rol de razões para isso acontecer, dos problemas na saúde à habitação, e pediu directamente ao "povo de esquerda" que não vote "nos mesmos": nem na direita do "retrocesso", nem no PS que "promete mais do mesmo". "Se queres avançar, vota no BE”, declarou.
A Jorge Costa, terceiro candidato por Lisboa, coube puxar do legado do BE, elencando as várias "vitórias" do partido no passado, como a despenalização das drogas e o casamento homossexual. Mas também durante a "geringonça" — solução da qual vincou que o partido se orgulha —, como o aumento do salário mínimo e a redução do preço dos passes, para defender que o programa desses anos "foi imposto ao PS" e que o que "ficou foi as vitórias do BE". Foi uma forma, já desenhada por Mortágua, de tentar mostrar que o voto no BE resulta em soluções, inclusive no âmbito de um acordo político com o PS, independentemente das diferenças entre os programas que possam existir.