Depois de seis meses de recuo, consumo voltou a crescer no final de 2023

INE confirma crescimento da economia de 0,8% no quarto trimestre e de 2,3% no total de 2023, com o contributo mais positivo do consumo e das exportações a ajudar nos últimos meses do ano.

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Nelson Garrido
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Apesar de o país ter caído numa crise política, de as taxas de juro Euribor estarem ao nível mais alto dos últimos 15 anos e de a economia europeia estar quase estagnada, o consumo das famílias e as exportações aumentaram mais no último trimestre do ano passado do que tinham nos trimestres anteriores, voltando a pôr a economia a crescer e colocando a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no total de 2023 em 2,3%.

Os dados das contas nacionais publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam, tal como indicado na estimativa rápida realizada há um mês, que, depois de estar quase estagnada no segundo e no terceiro trimestre, a economia portuguesa cresceu 0,8% no quarto trimestre do ano passado face ao trimestre imediatamente anterior. A variação do PIB face ao mesmo período do ano passado foi de 2,2% (no terceiro trimestre foi de 1,9%) e o crescimento no total de 2023 face a 2022 cifrou-se em 2,3%.

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Os dados agora divulgados pelo INE acrescentam informação sobre o que é que explica esta aceleração da actividade económica nos últimos três meses do ano, numa altura em que vários factores negativos poderiam condicionar as decisões dos agentes económicos.

O contributo positivo para o crescimento do PIB em cadeia de 0,8% registado no quarto trimestre veio da procura interna, revela o INE. A procura interna (que junta o consumo das famílias, o consumo público e o investimento) deu um contributo positivo de 1,1 pontos percentuais que chegou para compensar o contributo negativo de 0,3 pontos proveniente da procura externa líquida (as exportações menos as importações).

De facto, verificou-se no quarto trimestre uma aceleração tanto do consumo privado como do investimento, que, no segundo e terceiro trimestres do ano, tinham apresentado desempenhos bem menos favoráveis, contribuindo para a estagnação da economia nesse período.

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O consumo privado cresceu 0,9% no quarto trimestre, quando no segundo tinha caído 0,6% e no terceiro 0,5%. E o investimento cresceu 2,9%, quando no terceiro tinha aumentado 1,1%.

No caso do consumo, a recuperação deu-se principalmente no consumo de bens duradouros, que tinha caído de forma significativa no terceiro trimestre, enquanto no investimento a melhoria ocorreu na aquisição de máquinas e equipamentos. A aquisição de equipamentos de transportes e o investimento em construção registou taxas de crescimento baixas.

Já no que diz respeito ao desempenho da economia nas suas relações com o exterior, apesar de o contributo da procura externa líquida se ter mantido em terreno negativo (0,9 pontos percentuais no terceiro trimestre e 0,3 pontos no quarto), registou-se ainda assim uma melhoria do desempenho das exportações.

As vendas de bens e serviços ao estrangeiro aumentaram 3,6% no quarto trimestre face ao trimestre anterior, invertendo uma tendência negativa que tinha levado a uma redução deste indicador de 1% no segundo trimestre e de 1,5% no terceiro.

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As exportações de serviços, em que se inclui o turismo, registaram um crescimento de 5,1%, enquanto as de bens aumentaram 2,7%.

Estes sinais mais positivos dados pela economia nos últimos três meses do ano, depois de seis meses de estagnação, ocorrem num período em que os factores que têm vindo a condicionar a actividade económica não deram ainda sinais de estar a desaparecer.

As taxas de juro suportadas pelas famílias e as empresas portuguesas mantiveram-se a níveis elevados, tendo as Euribor atingido precisamente ao longo do quarto trimestre os valores mais altos dos últimos 15 anos. E o desempenho da economia europeia, onde se encontra a maioria dos destinatários das exportações portuguesas, continuou a ser bastante modesto no quarto trimestre, com a zona euro a crescer apenas 0,1% e a UE 0,3%.

O quarto trimestre do ano passado coincide ainda com a entrada de Portugal numa situação de crise política, com maior incerteza em relação a qual irá ser o futuro da governação no país.

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