Produção de lixo: humanidade “andou para trás”, alerta a ONU

Prevê-se que a produção de resíduos sólidos urbanos aumente de 2,3 mil milhões de toneladas em 2023 para 3,8 mil milhões de toneladas em 2050, mostra relatório da ONU.

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Prevê-se que a produção de resíduos sólidos urbanos aumente de 2,3 mil milhões de toneladas em 2023 para 3,8 mil milhões de toneladas em 2050 GettyImages
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A produção de resíduos pela população mundial aumentará até 2050, causando centenas de milhares de milhões de dólares de prejuízos devido à perda de biodiversidade, às alterações climáticas e à poluição que acaba por ser fatal, afirmou o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) num relatório publicado esta quarta-feira. O polémico tratado para combater a poluição causada por plásticos pode estar concluído até ao final do ano.

De acordo com o relatório, a menos que sejam tomadas medidas urgentes, a produção mundial de resíduos aumentará, impulsionada em grande parte pelas economias em rápido crescimento, nomeadamente na Ásia e na África Subsariana, onde muitos países já se debatem para gerir os actuais níveis de produção.

O relatório fornece a actualização sobre a produção global de resíduos e o custo dos resíduos e da sua gestão desde 2018, utilizando avaliações do ciclo de vida para explorar o que o mundo poderia ganhar ou perder com a continuação da actividade habitual, adoptando medidas intermédias ou comprometendo-se plenamente com sociedades de resíduos zero e de economia circular.

O PNUA projectou um prejuízo anual de 640 mil milhões de dólares (cerca de 590 milhões de euros) até meados do século, o que representa um aumento de mais de 75% em relação a 2020, ano em que o mundo produziu cerca de 2,1 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, excluindo os resíduos industriais.

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Sexta Sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6) decorre na sede do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) em Nairobi, Quénia EPA/Daniel Irungu

Do total, 443 mil milhões de dólares (cerca de 408 mil milhões de euros) seriam danos colaterais, incluindo a perda de biodiversidade, os gases que alteram o clima produzidos pela decomposição dos resíduos orgânicos e a poluição que contribui para 400.000 a 1 milhão de mortes por ano, segundo o relatório.

De acordo com o relatório, prevê-se que a produção de resíduos sólidos urbanos aumente de 2,3 mil milhões de toneladas em 2023 para 3,8 mil milhões de toneladas em 2050. As projecções mostram que um modelo de economia circular, em que a produção de resíduos e o crescimento económico são dissociados através da adopção de medidas para evitar a produção de resíduos, de práticas empresariais sustentáveis e de uma gestão completa dos resíduos, poderia conduzir a um ganho líquido total de 108,5 mil milhões de dólares (mais de 99 mil milhões de euros) por ano.

Tratado sobre plásticos não será "anti-plástico"

O relatório, divulgado esta semana durante a Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA6), no Quénia, conclui que a humanidade "andou para trás" na última década, "gerando mais resíduos, mais poluição e mais emissões de gases com efeito de estufa".

Segundo o relatório, as medidas de prevenção e a melhoria da gestão dos resíduos poderiam reduzir esses custos, mas existem obstáculos significativos à mudança, tais como mecanismos de aplicação fracos.

Está a ser negociado um tratado para combater a poluição causada pelos plásticos, que não se biodegradam e podem ter graves consequências para a saúde, com uma quarta ronda de negociações prevista para Abril.

A directora executiva do PNUA, Inger Andersen, espera que o tratado possa ser concluído até ao final deste ano, apesar das divergências entre ambientalistas e produtores de combustíveis fósseis sobre até que ponto o acordo se deve centrar na redução da produção de plásticos e na promoção da reciclagem e da reutilização.

"Existe um interesse, especialmente entre os países que produzem polímeros em bruto, mas, como lhes estou sempre a dizer, não se trata de um tratado anti-plástico", afirmou Andersen à Reuters, sublinhando que os plásticos continuam a ser necessários para vários fins, nomeadamente para veículos e equipamento médico. "Espero que não haja delegações que estejam empenhadas em obstruir as negociações, mas que possamos encontrar um caminho que tenha em conta o facto de estarmos a afogar-nos em plástico".