O que é a liberdade? 50 textos e 50 ilustrações para celebrar 50 Abris
O livro 50 Abris junta autores, artistas e associações do Porto para celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Os autores trabalharam com associações para discutirem (e retratarem) a liberdade.
“Como é que se fala em liberdade hoje, quando as pessoas têm liberdades muito diferentes?” Foi esta a ideia que deu o pontapé de saída para o livro 50 Abris, desenvolvido por mais de 300 pessoas, que, em conjunto, discutiram a liberdade — “a de hoje, a do passado, a que existe e a que faz falta”.
A ideia foi da Truz Truz Editora, que, apesar de normalmente publicar literatura infanto-juvenil, quis fazer um livro sem idade para assinalar os 50 anos do 25 de Abril. “Primeiro, surgiu a ideia de convidar 50 pessoas que trabalham com a escrita”, conta Sara Duarte Brandão, artista e autora. Depois, quiseram ir mais além, e envolveram 28 associações do Grande Porto para criar um “debate” sobre a liberdade — a partir do qual nasceu o livro.
Cais, Amplos, Centro Comunitário São Cirilo ou Centro de Dia de Pedrouços são algumas das associações envolvidas na criação do livro 50 Abris, que receberam os autores nos seus espaços para criar um texto — em prosa, poesia, teatro ou ensaio — “de certa forma colaborativo, porque só existe face àquele encontro”.
Os encontros, que aconteceram sob a coordenação de Sara Duarte Brandão, consistiam em conversas que, muitas vezes, se transformavam em testemunhos na primeira pessoa. “A dinâmica dependia muito. É diferente falar sobre liberdade com pessoas que viveram o 25 de Abril e com crianças. Com pessoas refugiadas e com pessoas com deficiência”, refere a responsável pelo projecto.
Nestes encontros, teve oportunidade de ver um jovem cego a "ocupar a sala", quando lhe pediram que retratasse a liberdade com gestos: "Esse momento ensinou-me bastante sobre aquilo que eu acho que são as limitações das outras pessoas e que, na verdade, eu não sei".
Mas também teve momentos que a marcaram por situações menos positivas. Ouviu jovens “muito desistentes e com ideias muito drásticas, até homofóbicas e misóginas”. “Se calhar, o motivo por que estas ideias ainda existem nas gerações mais novas é porque não há muito espaço para irmos aos sítios, falarmos com as pessoas, elas se sentirem incluídas e ouvidas naquilo que é a produção cultural e política”, aponta.
Depois de cada encontro e de auscultadas as percepções sobre a liberdade, foi escrito um texto, assinado por autores como André Tecedeiro, Lúcia Vicente ou a própria Sara Duarte Brandão, em conjunto com as pessoas que o co-escreveram (ou, pelo menos, idealizaram). Posteriormente, os textos foram aleatoriamente enviados para 50 artistas convidados para os ilustrarem: Adamastor, Bia Kosta ou Mariana Rio fazem parte do painel de ilustradores.
O livro está em pré-venda no PPL, que foi criado para ajudar a suportar os custos. Custa 30 euros. “Na eventualidade muito pequena desta produção ter lucro, a ideia é que seja equitativamente distribuído pelas associações”, explica Sara.
O lançamento está marcado para 20 de Abril, às 16 horas, na Fundação Engenheiro António Almeida, no Porto.