Um debate decisivo?

Foi só mais uma peça da avaliação dos candidatos, um longo trabalho de bricolage dos eleitores, que fragmentos de debates, comentários, rábulas, memes, entrevistas de vida...

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Importa não esquecer o óbvio: saber ter um desempenho adequado aos media, e em particular ao formato de debate televisivo, é apenas uma entre muitas competências que um político precisa hoje de ter. Não devemos confundir a política com a sua mediatização. Vamos votar em quem acreditamos ser o melhor primeiro-ministro, não em quem “vence” debates (seja isso o que for). Dito isto, ambos os líderes cumpriram os objetivos do seu xadrez eleitoral: no caso de Luís Montenegro, ser o pivot da rejeição ao PS (chegando a adotar tiques de Ventura); no de Pedro Nuno Santos, diminuir essa mesma rejeição.

Por outro lado, e apesar de importante, o debate a que assistimos foi apenas mais uma peça de um puzzle que os eleitores – de um modo mais ou menos refletido – estão a construir. O processo de avaliação dos candidatos é um longo trabalho de bricolage, que inclui fragmentos de debates e de comentários televisivos, rábulas em programas de sátira, memes recebidos no WhatsApp e excertos de entrevistas de vida. Acresce que o visionamento destes e de outros conteúdos é muitas vezes feito nas redes sociais e envolto em opiniões de amigos, familiares e influencers.

De facto, vivemos num tempo em que os instrumentos tradicionais de campanha perderam eficácia. Se, por um lado, as pessoas estão cada vez menos disponíveis para ouvir ideias que não reforcem as próprias convicções, por outro, habituaram-se a consumir conteúdos que confirmam as suas tendências políticas e a evitar tudo o que seja dissonante das suas crenças.

Longe de ter sido decisivo, o debate foi sobretudo um importante momento de reforço para ambos os candidatos. Quanto aos espetadores, estou em crer que a maioria terminou o programa com a mesma opinião com que começou.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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