Mortágua e Ventura “pegaram fogo” e foram buscar o passado para o presente
Líder do BE disse estar mais próxima de uma solução de governação do que Ventura.
Foi um debate televisivo para as legislativas de 10 de Março tenso e de total discórdia. Mariana Mortágua, porta-voz do BE, e André Ventura, líder do Chega, estiveram frente-a-frente na RTP e não esconderam a pouca consideração que cada um deles tem pelas propostas do outro. E o passado também foi chamado ao presente. Ventura lembrou a “especulação imobiliária” feita pelo antigo vereador bloquista da Câmara de Lisboa Ricardo Robles. Mortágua acusou o líder do Chega de ter como número dois no partido uma pessoa que pertenceu a uma organização terrorista "responsável por ter morto o padre Max", referindo-se a Diogo Pacheco do Amorim.
Irritada, Mortágua acabou mesmo por dizer a Ventura que está mais próxima de chegar a uma solução de governação do que Ventura de se aliar a quem chama “prostituta política”, referindo-se ao PSD.
O debate teve como tema inicial a habitação, com a líder do BE a defender a sua proposta de não vender casas a não residentes e logo a atacar o Chega: “Essa procura de luxo vem porque houve um benefício fiscal, apoiado pelo Chega, e de 'vistos gold'. É surpreendente que o Chega queira reintroduzir os 'vistos gold', que são uma porta aberta para a corrupção. (…) O convite à especulação e à corrupção é apoiado pelo Chega."
Ventura contra-atacou: “O Chega toca na vertente da oferta e procura, coisa que o BE ignora por completo (…) O peso dos 'vistos gold' é 3% no investimento imobiliário, não tem nenhum impacto”, acusando a líder do BE de ter ideias “pseudo-comunistas ou pseudo-venezualistas".
A porta-voz do BE acusou então Ventura de defender os interesses de empresas imobiliárias que “financiam o Chega".
“O que nos separa é que eu quero que as pessoas possam aceder a uma casa com o seu salário; o André Ventura quer 'vistos gold', uma porta para a corrupção. As propostas do Chega vão ao encontro dos interesses e grupos que financiam o Chega. Defendeu os interesses dos CTT e era financiado por eles, recebia dinheiro dos accionistas privados da TAP e esteve na Comissão de Inquérito da TAP.”
Foi aqui que Ventura chamou Ricardo Robles à conversa, afirmando que não foi ele que teve um vereador à câmara (de Lisboa) “que comprava casas à segurança social para [as] vender cinco vezes mais caras”.
Mortágua chamou então Diogo Pacheco Amorim à colação: “O seu partido é que tem como número dois um dirigente que pertenceu à principal organização terrorista em Portugal, que fez 600 atentados e foi responsável pela morte do padre Max".
Já Ventura respondeu garantido que Amorim nunca foi condenado por terrorismo e afirmou que o BE é que teve nas suas listas “condenados por terrorismo, antigos membros das FP25”, o que Mortágua desmentiu.
A avó de Mariana Mortágua, que a líder do BE disse num debate anterior que passou por momentos difíceis face à eventualidade do aumento da renda da sua casa, também foi chamada à conversa por Ventura. A líder do BE tinha resposta pronta: “Eu não minto. A minha avó tinha 80 anos quando ficou a saber que aos 85 a renda podia saltar. Se acha que isto não mete medo a uma idosa, é porque defende uma lei cruel.” “A história da avó é uma treta”, respondeu Ventura.
O debate seguiu até ao fim mais com trocas de acusações do que apresentação de propostas entre um homem e uma mulher que revelaram não só divergências ideológicas mas também uma grande desconsideração entre si.