Eles estão há 18 dias em frente à casa de um político americano pelo fim da guerra em Gaza

Sempre que o secretário de Estado Antony Blinken entra ou sai de casa, os manifestantes gritam palavras de ordem e acusações directas. Querem “centrar o desconforto” e responsabilizar.

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Um grupo de manifestantes pró-Palestina está acampado em frente à casa do secretário de Estado americano Antony J. Blinken Probal Rashid
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Há 18 dias que um grupo de manifestantes pró-Palestina está acampado em frente à casa do secretário de Estado americano Antony J. Blinken. Montaram tendas, bandeiras da Palestina, gravaram palavras de ordem em cartazes, e todos os dias fazem questão de as dizer àquele que tem sido a cara da política norte-americana em relação ao ataque de Israel a Gaza, que já matou mais de 28 mil palestinianos.

Hazami Barmada é a organizadora do protesto, que foi baptizado “Occupy Blinken”. Ao Electronic Intifada, um site que se foca em notícias sobre a Palestina, a activista sírio-americana, que já foi consultora das Nações Unidas, explicou que o objectivo da acção é “centrar o desconforto e sublinhar a hipocrisia directamente junto das pessoas que são responsáveis pelas políticas e desinformação que tentam justificar a violência e o genocídio”.

Bloody [sangrento] Blinken vive aqui”, “Cuidado: Criminoso de Guerra no Interior”, “Secretário do Genocídio” são algumas das mensagens que se lêem nos cartazes e nas tendas montadas em frente à casa de Blinken, reporta o New York Times. De cada vez que o secretário de Estado entra ou sai em casa, na Virgínia do Norte, os manifestantes atiram tinta vermelha, “símbolo do sangue das crianças de Gaza” e gritam palavras como “assassino de bebés”.

A ideia é que os filhos lhe perguntem porque lhe estão a chamar isso, e que seja confrontado com estas questões, esclarece Hazami. “[Isto] Lembra Blinken do seu papel directo ao permitir o financiamento e ao normalizar o genocídio que está a acontecer contra os palestinianos.” Blinken, que condenou activamente os crimes de guerra russos e apoiou o direito à defesa da Ucrânia, já viajou cinco vezes ao Médio Oriente. Numa dessas viagens, disse que o número de mortes civis é “demasiado alto”, mas também que “Israel tem de conseguir cumprir o seu objectivo de que não seja possível repetir-se o que aconteceu a 7 de Outubro”.

Em comunicado, um porta-voz do Departamento de Estado referiu que Blinken estava ciente das críticas e que “compreendia que as pessoas se preocupassem com este problema”, tal como o próprio se preocupava. “É por isso que está a trabalhar tanto para trazer um fim a este conflito o mais rapidamente possível”, escreveu.

Os manifestantes não acreditam. Por isso, ocuparam os dois lados da estrada junto à casa: “Se Blinken está tão bem com a ocupação na Cisjordânia, então ele tem de estar bem com esta ocupação”, atira. Segundo a activista, a segurança da casa foi reforçada, com novas câmaras a serem instaladas depois do início do protesto.

No início da acção, tinham consigo 18 megafones com sirenes. Os vizinhos, que segundo Hazami apoiam o protesto, contavam como as suas casas tremiam por causa do barulho. Mas acabaram por ter de deixar de os usar porque, indicou a polícia, “perturbava a tranquilidade” (“Porque é que ele haverá de ter descanso se as pessoas em Gaza não têm descanso devido às bombas americanas?"). Ainda assim, ter “30, 40 ou 50 pessoas a gritar para uma casa passa uma mensagem muito forte”, defende.

Hazami salienta a importância de fazer um protesto dentro dos limites da lei, até para que possa ser duradouro. Mas acusa os serviços secretos e a polícia de tentarem fazer-lhes “bullying”, até porque, diz, esperam que “os manifestantes não saibam os seus direitos”. Não é o caso: refere até que o portão da casa de Blinken está além da linha da sua propriedade, o que significa que não podem exigir-lhes que saiam desse espaço, onde costumam esperar o secretário de Estado. O New York Times refere que a polícia deu instruções aos condutores para abrandarem e não buzinarem.

O principal pedido deste protesto é o cessar-fogo — ainda que pareça “obsoleto” depois de todas as “atrocidades” já cometidas em Gaza. Pedem a Blinken que acabe com a “ajuda incondicional a Israel”, que faça uma “auditoria de direitos humanos” e que olhe para a violação de direitos humanos e crimes de guerra. Quer ainda que a administração reconheça o papel que os EUA têm tido no ataque.

A ideia de Hazami é também que os americanos “tenham noção do que está a acontecer”. Para isso, já distribuíram mais de 20 mil panfletos: querem levar os apelos além das redes sociais, que têm controlo sobre o que é partilhado, e encorajam quem quiser a juntar-se ao protesto.

“Uma coisa que digo muitas vezes aos carros que passam aqui é: ‘Se o Hamas estivesse em Telavive vocês bombardeavam? Se a vossa resposta for não, então isto não é sobre o Hamas. É porque percepcionam as vidas dos palestinianos como dispensáveis’”, conta.

Além do protesto em frente à casa de Blinken, os activistas têm feito outras manifestações. “Temos feito acções directas enquanto grupo há mais de 110 dias naquilo que chamamos instituições de poder. Deitamos os nossos corpos no chão, atiramos 'sangue' [tinta vermelha] nas entradas da Casa Branca (...) onde os funcionários têm de pisar o 'sangue' que atiramos”, relata Hazami.

Estão lá quase todos os dias, vão alternando as entradas, para conseguirem lembrar os políticos norte-americanos, “que são capazes de alienar as suas vidas do impacto e da realidade do que eles fazem em diferentes partes do mundo”, do sofrimento vivido em Gaza.

Os activistas protestaram também em frente à casa do embaixador de Israel e de fabricantes de armas, como a Raytheon, mas também de empresas como o Facebook e Meta, Google e Microsoft. “Todos cúmplices por providenciarem tecnologia para apoiar o apartheid, a ocupação na Cisjordânia e as atrocidades em Gaza”, acusa.

Quanto à ocupação em frente à casa de Blinken, diz notar na cara do secretário de Estado que está “cansado, frustrado, que olha para baixo” quando ela grita palavras de ordem para o carro onde se desloca. “Para mim isso é sucesso.”

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