Palavras de Trump comprometem segurança dos EUA e dos seus aliados, segundo Stoltenberg

“Qualquer sugestão de que os aliados não se defenderão mutuamente compromete toda a nossa segurança”, disse o secretário-geral da NATO, reagindo a declarações de Trump na campanha.

Foto
Jens Stoltenberg com Donald Trump numa cimeira da NATO em 2019 Christian Hartmann/Reuters
Ouça este artigo
00:00
03:28

O secretário-geral da NATO reagiu este domingo às declarações de Donald Trump de que admitia, no caso de voltar a ser Presidente dos Estados Unidos, não ajudar um aliado da Aliança Atlântica que esteja a ser atacado, se esse Estado-membro não tiver cumprido os compromissos orçamentais em matéria de defesa.

Jens Stoltenberg garante que “a NATO mantém-se pronta e disposta a defender todos os aliados” e que “qualquer ataque contra a NATO terá uma resposta unida e contundente”. Além disso, num aviso claro ao ex-Presidente dos EUA e, tudo indica, novamente candidato do Partido Republicano à Casa Branca, lembrou que “qualquer sugestão de que os aliados não se defenderão mutuamente compromete toda a nossa segurança, incluindo a dos EUA”.

Num comício na Carolina do Sul, Trump contou que o Presidente de um grande país lhe perguntou: “Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vocês protegem-nos?...” Ao que Trump lhe respondeu: “Vocês não pagaram. Estão em incumprimento.” Ele disse: ‘Sim, digamos que isso aconteça...’ E Trump: “Não, eu não vos protegeria. De facto, encorajava-os a fazer o que quisessem.”

O ex-Presidente demonstrou durante o seu mandato que não tinha qualquer simpatia em relação à NATO, chegando a questionar a sua relevância e criticando duramente os países que não contribuíam com os 2% do PIB para o orçamento da defesa, ameaçando retirar os 12 mil soldados norte-americanos estacionados na Alemanha.

“[Os soldados] estão lá para proteger a Europa. Estão lá para proteger a Alemanha, certo? E é suposto a Alemanha pagar. A Alemanha não está a pagar. Não queremos mais ser totós”, disse Trump, na altura, aos jornalistas na Casa Branca. “Estamos a reduzir a força por eles não estarem a pagar as suas contas.”

Numa altura em que há um conflito a acontecer na Europa, depois da invasão russa da Ucrânia, as palavras de Trump apenas “fazem aumentar o risco para os soldados norte-americanos e europeus”, afirmou Stoltenberg.

“Um por todos, todos por um”

O ministro da Defesa polaco também criticou Trump. Numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter), Wladyslaw Kosiniak-Kamysz disse que “minar a credibilidade dos países aliados significa enfraquecer toda a NATO”. Para o governante polaco, “nenhuma campanha eleitoral serve de desculpa para brincar com a segurança da Aliança” e lembrou que o lema da Organização do Tratado do Atlântico Norte, “um por todos, todos por um”, é um “compromisso concreto”.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, escreveu na mesma rede social que “declarações imprudentes sobre a segurança da NATO e o seu artigo 5.º de solidariedade apenas servem os interesses de [Vladimir] Putin [Presidente da Rússia]”.

Thierry Breton, o comissário europeu para o Mercado Interno, aproveitou para acusar Trump de falta de memória e de estar equivocado em relação ao interlocutor da história que contou aos seus apoiantes no comício na Carolina do Sul. Aparentemente, o ex-Presidente e de novo candidato não só se enganou no cargo do interlocutor, como até no género.

“Já ouvimos isso… Não há nada de novo debaixo do sol”, começou por dizer ao canal de televisão francês LCI, citado pela Reuters. “Ele é capaz de estar com problemas de memória, porque na verdade foi uma mulher presidente e não de um país, mas da União Europeia”, explicou Breton, referindo-se a Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, com quem Trump teve essa conversa em 2020.

“Não podemos atirar uma moeda ao ar sobre a nossa segurança a cada quatro anos, dependendo desta ou daquela eleição, nomeadamente da eleição presidencial nos EUA”, acrescentou o comissário, para defender que a União Europeia deveria aumentar a sua capacidade militar e o seu orçamento de defesa.

Sugerir correcção
Ler 48 comentários