Taxas de juro deverão estabilizar em 2%, antecipa Centeno
O governador do Banco de Portugal defende a necessidade de uma descida “gradual” das taxas de juro, até ao nível “neutral” dos 2%. Centeno alerta ainda para o ciclo que se segue ao do pleno emprego.
As taxas de juro deverão começar a baixar durante este ano, mas não voltarão aos níveis "muito baixos" que se verificavam antes de o Banco Central Europeu (BCE) ter iniciado a política de subidas para conter a inflação. No fim deste processo de descida – que não deverá ser rápido, mas antes gradual –, a taxa de referência deverá ficar próxima dos 2%, considerado um nível "neutral".
A antecipação é feita pelo governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, em entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF. "É difícil ver a rapidez com que este processo se dá. Preferiria que as taxas descessem de forma gradual, sem hesitações, do que à pressa. Até porque, normalmente, quando os bancos centrais têm de agir de forma mais rápida, significa que alguma coisa não está a correr exactamente bem", disse o governador, questionado sobre quanto tempo irá demorar até que as taxas de juro comecem a descer agora que a inflação também já está a baixar.
Em Janeiro, recorde-se, a inflação da zona euro fixou-se em 2,8%, um valor que fica muito distante do pico de 10,6% que foi atingido em Outubro de 2022. Ainda assim, a chamada inflação subjacente, que elimina das contas os produtos mais voláteis (como bens alimentares e produtos energéticos), manteve-se em 3,3% em Janeiro. O objectivo do BCE é fazer baixar a inflação para os 2%, uma meta que, nas projecções do banco central, só deverá ser alcançada em 2025.
Até lá, é o próprio BCE a rejeitar uma descida das taxas de juro antes do início do Verão deste ano. Por esta altura, a taxa de juro de depósito do BCE está nos 4%, valor que foi alcançado depois de 11 decisões de subida por parte do banco central, desde meados de 2022, altura em que os juros estavam em níveis negativos, nos -0,5%.
Isso mesmo, aliás, é lembrado por Mário Centeno na mesma entrevista. "Podemos dividir este processo de subida, que foi muito rápido, e como nunca antes tinha sido – durante 14 meses, subimos 450 pontos de base a taxa de juro de política monetária –, mas parte deste trajecto foi para trazer a taxa de juro de valores negativos, muito indesejáveis, para valores próximos daquilo que é, vou chamar-lhe, a taxa de equilíbrio", afirma.
E reforça: "Quando dizemos que a taxa de juro vai começar a descer, ela irá descer, não vai retomar valores anteriores, mas vai estabilizar, idealmente, próximo de 2%, a referida taxa neutral".
O governador do BdP alerta, ainda, para a necessidade de o poder político estar preparado para o ciclo que irá seguir-se ao do "pleno emprego" vivido actualmente, apelando a uma contenção na despesa pública. "Quando se inverter o ciclo – não estando isso nas nossas previsões nos próximos semestres –, se tivermos, entretanto, aumentado as despesas permanentes de forma mais rápida do que a capacidade produtiva, vamos sentir um travão no pior momento em que ele nos possa aparecer. Não queremos travar quando a economia travar. E, portanto, também não podemos acelerar quando ela está em pleno emprego, porque a travagem, quando acontecer, vai ser muito mais brusca", considerou.