GEOTA plantou um milhão de árvores autóctones e quer plantar mais dois milhões
O objectivo da organização GEOTA é plantar mais dois milhões de árvores autóctones no Parque Natural da Serra da Estrela, na serra de Monchique e na Mata Nacional de Leiria até 2027.
Para fazer renascer das cinzas algumas zonas do país que sofreram as consequências dos incêndios, o Grupo de Estudos e Ordenamento de Território e Ambiente (GEOTA) impulsionou um projecto em 2019 que, além da reflorestação, procura integrar e apoiar as comunidades afectadas. Desde 2019, o GEOTA plantou um milhão de árvores autóctones através dos projectos de reflorestação Renature, que decorrem no Parque Natural da Serra da Estrela, na serra de Monchique e na Mata Nacional de Leiria.
Mas o objectivo é plantar mais dois milhões de árvores até 2027, procurando aumentar a resiliência da floresta face aos incêndios, para que "não volte a acontecer o mesmo".
Os projectos Renature servem para restaurar os habitat, ecossistemas e património comunitário afectados pelos incêndios florestais. Além disso, “pretendem mitigar os efeitos futuros das alterações climáticas”, como se lê no site da organização. Nestas acções, estão a ser plantados carvalhos, sobreiros, medronheiros, castanheiros, pinheiro-bravo e outras “espécies emblemáticas”, como o carvalho-de-monchique.
O coordenador, Miguel Jerónimo, afirma ao PÚBLICO que o projecto vai além de "apoiar as comunidades afectadas e de recuperar aquilo que é o valor ecológico e o valor económico das paisagens que foram devastadas". "Estamos também a fomentar emprego local remunerado acima daquilo que é o normal que se pratica na floresta", explica.
No que toca ao que é necessário para a execução dos projectos, o GEOTA "tenta, sempre que possível, recorrer a fornecedores e a negócios locais, para que estes projectos não resultem só num benefício ecológico, mas também tenham um impacto social e económico nos territórios onde se inserem".
O coordenador do projecto Renature explicou ao PÚBLICO que, em Monchique, a organização tem uma "área de intervenção de 1200 hectares, neste momento", que vai crescendo e que permitirá apoiar cerca de 70 proprietários. Até 2026, estão responsáveis pela reflorestação de 1100 hectares da Mata Nacional de Leiria, que é de domínio público. Na serra da Estrela, estão "a trabalhar cerca de 300 hectares e o objectivo é também ali crescer quando duplicar a área de intervenção".
A presidente do GEOTA, Isabel Moura, afirma num comunicado enviado ao PÚBLICO que "é urgente apoiar e capacitar as comunidades locais para que sejam capazes de recuperar o valor ecológico e económico da floresta". E refere ainda que "a gestão activa da floresta pelas comunidades locais tem de ser um desígnio nacional".
Miguel Jerónimo acrescenta no mesmo comunicado que não é possível “ficar à espera de que o Estado resolva todos os problemas da gestão florestal”. “Passámos das palavras à acção através da execução de projectos de reflorestação em várias regiões”, diz, referindo que a organização tem uma "maneira de trabalhar que é sempre em rede e colaborativa, portanto, os projectos têm uma base colaborativa não só com as comunidades mas também com os parceiros", como, por exemplo, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O coordenador do projecto explica que "não é contra o Estado", uma vez que o ICNF tem competências nessa matéria. "Hoje já temos políticas relativamente diferentes e uma visão diferente, por exemplo, das áreas integradas na gestão da paisagem; já é uma visão diferente para o território", diz. Nesse sentido, a associação trabalha com os parceiros "numa visão construtiva, não de oposição, para que as coisas no terreno efectivamente possam ser melhores".
"O problema hoje em dia é fazer crer que não chega termos um pacote legislativo, uma política florestal que tenha uma visão mais correcta ou mais acertada, temos de implementá-la. Essa é que é a grande dificuldade; hoje em dia o Estado não tem a agilidade e os recursos para conseguir implementar essa mudança que é necessária", salienta Miguel Jerónimo. Ademais, recorda que "a transformação da paisagem é uma coisa física; é preciso ir ao terreno, é preciso reflorestar, é preciso plantar, é preciso gerir".
O impacto dos incêndios
Nas últimas décadas, arderam milhões de hectares em Portugal. "Desde 2010, já arderam mais de 1,5 milhões de hectares em Portugal, facto que coloca o país na posição de mais afectado por [este tipo de] incidências na Europa no século XXI", lê-se no comunicado do GEOTA.
"Infelizmente, de ano para ano vemos que nas áreas afectadas por incêndios pouco ou nada acontece e, portanto, há uma necessidade de trabalho gigantesca", sublinha Miguel Jerónimo. "Tem sido esse o contributo geral em matéria de incêndios, em matéria de reflorestação e em matéria em que é possível fazer algo diferente" por parte do projecto, considera.
Além disso, acrescenta, "em Portugal, 98% da floresta é privada e comunitária, mas há incêndios com pessoas reais que são afectadas".
Miguel Jerónimo diz que "as áreas ardidas, neste momento, em Portugal, têm ciclos de incêndios compreendidos entre dez e 12 anos, ou seja, uma mesma área tem um potencial de arder a cada dez ou 12 anos". E o Renature ainda vai a meio até chegar a essa "janela" temporal.
Contudo, o trabalho que estão a fazer não só na área da reflorestação, mas também ao "criar mosaicos autóctones biodiversos", com acções de gestão — "porque os projectos não compreendem só a plantação", diz —, contribui para a redução do risco de incêndio e para que as paisagens se tornem mais "resilientes" e mais adaptadas às alterações climáticas.
O GEOTA é uma organização não-governamental de ambiente (ONGA), de âmbito nacional, que se constituiu legalmente em 1986, com estatuto de utilidade pública. A organização tem em mãos vários projectos relacionados com o desenvolvimento sustentável e com a conservação do património cultural e ambiental e acredita que “o ambiente é um factor central de desenvolvimento”.
Para já, o projecto restringe-se às três áreas nas quais estão a trabalhar, mas, "se houver oportunidades de financiamento", é possível alargar a iniciativa a outras áreas, tendo em conta que "esse é sempre o objectivo dos projectos Renature", admite Miguel Jerónimo.
Para alcançar a meta de plantar mais 2 milhões de árvores até 2027 e de progredir com o trabalho feito até agora, a associação lançou uma campanha de crowdfuding a nível europeu, com o intuito de recolher donativos da sociedade civil e das empresas. A campanha tem como meta, para já, angariar 250 mil euros e incentiva a população a participar, para que “todos possam contribuir directamente na reflorestação das áreas ardidas, tornando possível a plantação das primeiras 250 mil árvores”.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva