Esta plataforma quer dar aos jovens uma “voz na matéria” — e conhecer as tuas sugestões

A geração entre os 18 e os 35 anos pode dar ideias no site do Manifesto Colectivo Matéria. Da política à habitação, todas as propostas serão apresentadas a quem tem poder para as aplicar.

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Na Manifesto Colectivo Matéria, os jovens entre os 18 e os 35 anos podem propor ideias para o país Manifesto Colectivo Matéria
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Inês Franco Alexandre diz que nunca teve grande dificuldade em fazer-se ouvir. É assessora de inovação, activista, fundou o espaço de consultoria They Lab, e, em 2023, foi contratada como técnica especialista do Ministério do Trabalho e Segurança Social, cargo que já não ocupa. No entanto, reconhece que, na geração à qual pertence, propor assuntos a quem tem poder de decisão é uma oportunidade cada vez mais escassa. Em parte, porque os mais novos não conseguem fazer chegar as sugestões aos mais velhos.

Foi a pensar nisto que, em Janeiro deste ano, se juntou a seis amigos e criou o Manifesto Colectivo Matéria, projecto sem fins lucrativos e que, até à data, não tem financiamento público ou privado, lê-se no comunicado enviado ao P3. O objectivo, destacam no site do projecto, é “dar voz” a todos os jovens que querem ser mais interventivos no país.

Nas reuniões — sempre à distância e compatíveis com os fusos horários de Portugal, Reino Unido, Suíça e Estados Unidos, onde vivem —, o grupo decidiu que a plataforma funcionaria à base sugestões de ideias de pessoas entre os 18 e os 35 anos. Inês Franco Alexandre, Mafalda Rebordão, Miguel Herdade, José Paulo Soares, Inês Ayer, Sara Aguiar e André Silva Sancho seriam apenas “a ponte entre a sociedade civil e os decisores” políticos ou empresariais, destaca a jovem de 32 anos em entrevista ao P3.

“Por causa das eleições, começámos a conversar sobre como é que podemos usar o nosso talento para meter alguma coisa cá fora num tempo de crise identitária do país”, acrescenta.

O manifesto foi assinado por 50 jovens com menos de 35 anos que vão trabalhar as ideias e transformá-las em projectos, e outros 50 com mais de 35 que têm poder para as aplicar ou relevância nacional para ajudar a que tal aconteça, como é o caso do arquitecto Álvaro Siza Vieira, da economista Susana Peralta, do músico Dino D’ Santiago ou do político Armindo Monteiro.

O número 50 também não foi escolhido ao acaso: representa o aniversário do 25 de Abril de 1974. Portugal está a 50 anos de comemorar o centenário da liberdade o que, para Inês, significa que “estas pessoas representam os 50 anos que passaram e os 50 que estão por vir.”

Na sexta-feira, dia 2 de Fevereiro, a dias do início da campanha para as legislativas e no final das regionais dos Açores, lançaram a plataforma. “Foi tudo menos um acaso, mas não queremos que as ideias tenham só foco político”, assume.

No site, dizem que o movimento representa uma geração com diferentes orientações políticas, situações económicas, níveis de escolaridade, os que foram obrigados a emigrar e os que não conseguem sair de casa dos pais, os que têm progressão de carreira e os precários.

As ideias são submetidas através do formulário. Entre os temas está a cultura, ciência, tecnologia, ambiente e transição energética, desporto, justiça, media e os três temas mais discutidos em Portugal nos últimos tempos: habitação, saúde e educação. Serão apresentados a políticos, juntas de freguesia, empresas, fundações, corporações organizações não-governamentais ou universidades.

Até agora, Inês e os amigos já receberam 62 propostas, a maioria de pessoas entre os 25 e os 35 anos. Há quem peça a criação de uma rede para repovoar o interior de professores e quem saliente a necessidade de existirem mais projectos culturais nestas zonas. Pedem uma mudança na Lei de Bases da Habitação.

As ideias vão depois ser discutidas entre os sete amigos e os 50 nomes com menos de 35 anos. No final, serão apresentadas à geração mais velha, provavelmente num evento em Julho num local a combinar.

Mas mesmo que esta troca de propostas se realize, o objectivo é que a plataforma continue a existir e receba cada vez mais ideias. Mais “isso vai depender de quantas pessoas participam com propostas, quantas pontes conseguimos fazer e qual o grau de compromisso dos decisores para fazer estas ideias”.

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