À espera de armas pesadas, a Ucrânia vira-se para os “enxames” de drones para atacar a Rússia

Kiev intensifica os ataques a infra-estruturas energéticas em território russo recorrendo a drones que conseguem iludir as defesas antiaéreas e atingir os alvos com precisão.

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Um soldado ucraniano a operar um drone na região de Zaporijjia Reuters/STRINGER
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São baratos e de fácil produção em massa, conseguem evitar as defesas antiaéreas e atingem os alvos com precisão. Os drones de ataque passaram a ser a arma de eleição da Ucrânia para combater um inimigo mais bem apetrechado, num conflito de longa duração, e permitem a Kiev levar a guerra até território russo.

Nas últimas semanas, os ataques de drones ucranianos têm causado mossa nas infra-estruturas energéticas da Rússia, o último dos quais no sábado, quando atingiram uma importante refinaria de petróleo explorada pela Lukoil na região de Volgogrado, no Sudoeste do país.

Incidentes semelhantes ocorreram por toda a Rússia no mês passado, incluindo ataques à refinaria de petróleo Slavneft-Yanos, na região de Iaroslav, a mais de 700 quilómetros da fronteira com a Ucrânia; a outra refinaria em Tuapse, junto ao mar Negro; a uma instalação de armazenamento em Klintsy, na região de Bryansk; e a um terminal de gás no mar Báltico.

"Os ataques a depósitos e instalações de armazenamento de petróleo perturbam as rotas logísticas e abrandam as operações de combate", diz Olena Lapenko, especialista em segurança energética no grupo de reflexão ucraniano DiXi Group, em declarações ao New York Times.

A aposta no fabrico de drones tem sido, aliás, constantemente defendida pelo comandante das Forças Armadas ucranianas, o general Valery Zaluzhny, numa altura em que o fornecimento de armamento por parte dos Estados Unidos continua congelado por falta de apoio do Partido Republicano no Congresso.

O popular líder militar da Ucrânia, que terá sido demitido do seu cargo, e depois readmitido, pelo Presidente Volodymyr Zelensky, elegeu a produção de veículos aéreos não-tripulados como uma das prioridades do esforço de guerra ucraniano, num artigo publicado na CNN no início do mês.

Nesse ensaio, Zaluzhny disse que a Ucrânia precisa de encontrar novas formas e capacidades para ganhar vantagem sobre a Rússia numa altura em que se aproxima o segundo aniversário do início da guerra.

"O desafio para as nossas Forças Armadas não pode ser subestimado. Trata-se de criar um sistema estatal, completamente novo, de rearmamento tecnológico", escreveu Zaluzhny, acreditando que tal sistema, com os drones em destaque, pode ficar operacional em cinco meses.

Os drones de ataque apresentam ainda outra vantagem em relação aos outros meios de guerra aérea: são mais difíceis de detectar pelos sistemas de defesa antiaérea.

"A Rússia vangloriava-se das suas defesas. Os sensores, as diferentes baterias de mísseis, as baterias cinéticas, os radares", recorda Samuel Bendett, analista e especialista em sistemas militares não-tripulados e robóticos no instituto norte-americano Centro de Análises Navais, em declarações ao site Business Insider. "Só que a maior parte dessas defesas foi construída para identificar e destruir alvos maiores, como mísseis, helicópteros e aviões."

Os enxames guiados pela "rainha"

Um dos métodos utilizados pela Ucrânia tem sido o enxame de drones FPV (first-person-view, ou visão na primeira pessoa, numa tradução livre), que são liderados por "drones-rainha", que identificam o alvo e dão a ordem para atacar.

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Soldados ucranianos colocam explosivos em drones FPV na linha da frente, em Bakhmut REUTERS/Inna Varenytsia

Numa entrevista ao jornal russo Izvestia, um soldado russo descreveu um encontro com um enxame de drones liderado por uma "rainha" que transmitiu um sinal a um grupo de drones FPV mais pequenos que voavam por baixo dela.

"Vi um enxame com cerca de dez drones, com a 'rainha' algures acima, a grande altitude. Depois, o enxame desceu de repente e começou a fazer o seu trabalho", disse o soldado russo ao Izvestia.

Para neutralizar o enxame, a melhor hipótese é eliminar a "rainha", já que os drones mais pequenos dependem dela para identificar os alvos.

Um exemplo recente da eficácia dos enxames de drones aconteceu na região de Donetsk, no final de Janeiro, quando uma coluna de tanques e outros veículos blindados foi quase completamente destruída junto à localidade de Novomykhailivka.

O ataque foi captado por câmaras montadas nos drones mais pequenos e nos que sobrevoavam o local, exibindo a devastação causada à coluna russa.

As imagens, publicadas pelo jornal britânico Metro e que não foram verificadas de forma independente, mostram os drones FPV a acelerar em direcção aos tanques e veículos blindados russos, com a transmissão a ser interrompida abruptamente mesmo antes do impacto. As imagens captadas pelos "drones-rainha" oferecem uma visão panorâmica, mostrando os tanques a explodir em chamas quando os aparelhos os atingem.

"É uma guerra de projécteis contra blindados. Neste momento, os projécteis estão a ganhar", afirma, citado pelo diário britânico Guardian, Gleb Molchanov, um operador de drones ucraniano.

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