“UE não pode ser cúmplice dos abusos sistemáticos do direito internacional” de Israel em Gaza, diz Gomes Cravinho

Posições extremistas de membros do Governo de Israel estão a contribuir para o “isolamento absoluto” do país no cenário internacional.

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João Cravinho (ao centro) com Josep Borrell e a ministra dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Hadja Lahbib EPA/OLIVIER HOSLET
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A União Europeia “não pode ser vista como cúmplice de abusos sistemáticos do direito internacional cometidos por Israel”, afirmou este sábado o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, sublinhando que depois de quatro meses de bombardeamentos, a operação militar em curso na Faixa de Gaza já nada tem a ver com o legítimo exercício do direito de autodefesa na sequência dos ataques terroristas do Hamas.

“Já não é aceitável culpar tudo nos massacres. Já não estamos a falar de todo do direito de autodefesa, e é fundamental que Israel seja obrigado a demarcar-se de afirmações genocidárias (sic) de alguns membros do seu Governo”, considerou o governante, em declarações aos jornalistas no final de uma reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, este sábado, em Bruxelas.

Com o arrastar da guerra entre Israel e o Hamas, e o endurecer da campanha militar sobre a Faixa de Gaza, as divergências entre os Estados-membros da UE têm vindo a esbater-se, ao ponto de vários ministros, incluindo de alguns países “considerados muito próximos de Israel”, exigirem explicações do Governo, que “está a isolar-se em absoluto no cenário internacional devido às posições que tem assumido”, assinalou Gomes Cravinho.

Durante a reunião informal, vários responsáveis lamentaram as posições defendidas por determinados ministros do Governo de Israel, que neste momento apenas “representa uma parte extrema do espectro político” e não a pluralidade de pontos de vista que existem no país. “Israel não é uma entidade homogénea. Haverá muita gente em Israel que concorda com as posições da UE que foram expressas em torno da mesa”, considerou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Como resumiu o alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell, “a posição da União Europeia é de pôr pressão sobre Israel, lembrando que tem de respeitar a lei internacional”. “E só há uma lei internacional, que todos os Estados têm que respeitar”, acrescentou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Hadja Lahbib, a anfitriã do encontro.

A expectativa de todos é que no próximo Conselho de Negócios Estrangeiros, a 19 de Fevereiro, os Estados-membros dêem luz verde a um quadro de sanções contra colonos extremistas envolvidos em acções violentas na Cisjordânia e indivíduos que estejam “activamente a procurar destruir as bases para um processo de paz e uma solução de dois Estados”, confirmou Gomes Cravinho.

Durante a reunião, os ministros abordaram as actividades militares israelitas no Sul de Gaza, onde a intensificação dos bombardeamentos, incluindo em zonas declaradas como seguras, “está a criar uma situação humanitária muito grave”, lamentou Borrell. O chefe da diplomacia europeia procurava uma posição concertada dos Estados-membros relativamente à manutenção dos apoios à agência das Nações Unidas para a assistência aos refugiados palestinianos (UNRWA) — mas, no final da reunião, reconheceu que ainda havia “diferentes posições e sensibilidades” entre os 27 sobre a forma de proceder, na sequência das acusações de que 12 funcionários da organização estiveram envolvidos nos massacres de 7 de Outubro.

Segundo Gomes Cravinho, nenhum Estado-membro defendeu o corte do financiamento à UNRWA, mas nem todos subscreveram a posição de Portugal, que decidiu avançar uma doação especial de um milhão de euros para assegurar que a organização dispõe de meios suficientes para poder prosseguir com a sua assistência aos refugiados palestinianos, não apenas em Gaza mas nos quatro países em que actua.

“O que quisemos fazer foi demonstrar, através do nosso gesto, que a assistência à população da Palestina não pode ficar refém de uma situação que por mais reprovável que seja, só corresponde ao comportamento desviante de alguns funcionários”, justificou o ministro, lembrando que e Gaza, a situação humanitária é “absolutamente desesperada”.

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