Prestação de cuidados paliativos nos centros de saúde pode reduzir carga de doença

Estudo demonstra que acompanhamento por médicos de família de utentes com necessidades paliativas é “possível e promissor”.

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Investigação foi desenvolvida por investigadores da Universidade de Coimbra Paulo Pimenta (Arquivo)
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A integração de cuidados paliativos nos centros de saúde pode ajudar a reduzir a carga sintomática de doença, tanto a nível físico como emocional, dos utentes com essas necessidades. Esta é a principal conclusão de um estudo publicado recentemente na revista científica Palliative Medicine, que foi dirigido por investigadores da Universidade de Coimbra. O estudo-piloto pretende demonstrar que o seguimento por médicos de família de doentes com necessidades paliativas “é possível e promissor” em períodos de menor complexidade da doença.

“Aliando a formação prévia [em cuidados paliativos] desenhada para médicos de família a este modelo de consulta, conseguimos reduzir a carga sintomática, concretamente sintomas físicos e emocionais destes doentes, de forma significativa”, explica Carlos Seiça Cardoso, um dos autores, ao PÚBLICO. Um modelo que demonstrou ter uma “magnitude importante e maior” da habitualmente alcançada nos estudos com estes doentes.

Este médico de família explica ainda que, perante “o envelhecimento da população, a carga de doenças crónicas e o conjunto crescente de pessoas com necessidades paliativas”, o modelo de consulta desenvolvido é capaz de integrar os clínicos de medicina geral e familiar em todo o processo. E isso é bom.

Já a investigadora Bárbara Gomes, também autora do estudo, considera que o método promovido “é extremamente relevante”, sobretudo numa altura em que se assiste a uma reconfiguração no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com a criação de unidades socais de Saúde (ULS), e se “preconiza que em cada ULS haja um serviço integrado de cuidados paliativos”.

Como funciona?

Este tipo de consulta foi desenvolvido com nove médicos de família da região centro do país, que incluíram 53 doentes com cancro, doença pulmonar obstrutiva crónica, insuficiência cardíaca congestiva ou doença renal crónica em estádio avançado.

Na prática, durante 12 semanas, utentes e médicos de família viam-se regularmente (de três em três semanas) e, nas consultas, era avaliada a evolução dos sintomas físicos (como dor, astenia ou obstipação), emocionais (ansiedade ou humor deprimido) e questões práticas e de comunicação.

A formação inicial em paliativos aos médicos de família envolvidos contou com o apoio da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e o método usado baseou-se num registo já conhecido pelos médicos de família, o SOAP: um acrónimo para Subjectivo, Objectivo, Avaliação e Plano.

Na vertente subjectiva, por exemplo, a qual deve incluir as queixas do doente, o clínico passou a registar também “vulnerabilidades que, por vezes, passam mais despercebidas, como questões financeiras, de domicílio, nutrição, segurança, entre outras, mas que desempenham um papel muito importante para estas pessoas”, refere Carlos Seiça Cardoso.

Alargar o modelo

Tudo isto tendo por base uma trajectória de doença que, em muitos casos, tem uma evolução não linear, com períodos de maior e menor complexidade – ou seja, “é possível que uma pessoa com necessidades paliativas possa precisar hoje de uma equipa de paliativos ou até de um internamento e, daqui a um ou dois meses, pode ter seguimento pelo seu médico de família, quando tiver a situação um bocadinho mais compensada”, elucida. “Isto ajuda a harmonizar toda a prestação de cuidados.”

E porquê fazer este processo nos cuidados de saúde primários? “São um contexto privilegiado para a assistência a doentes com necessidades paliativas na comunidade”, defende o investigador.

Os autores propõem, por isso, que se estude a relação entre o custo e a efectividade desta prestação, “de modo a preparar a futura disponibilidade deste tipo de cuidados nas ULS em Portugal, bem como noutros países”. Essa é, aliás, a intenção do grupo de trabalho, confirma, por sua vez, Bárbara Gomes. Por agora, falta o financiamento. Quando existir, a meta passa por alargar este tipo de consultas a mais unidades de saúde do país e também internacionais.

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