Imran Khan condenado a dez anos de prisão a uma semana das eleições no Paquistão

Ex-primeiro-ministro, derrubado por uma moção de censura em 2022, está detido desde Agosto por várias acusações e diz que todos os processos que enfrenta têm motivações políticas.

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Khan durante uma entrevista à agência Reuters, o ano passado AKHTAR SOOMRO/Reuters
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Acusações, recursos, uma detenção considerada ilegal pelo Supremo Tribunal, batalhas de 20 horas entre a polícia e os seus apoiantes... Desde que uma moção de censura fez cair o seu governo, em Abril de 2022, Imran Khan já foi detido, condenado, libertado sob fiança, de novo encarcerado, acusado de terrorismo e de desvio de fundos públicos, e viu um tribunal suspender a sua condenação a três anos de prisão por corrupção. Esta terça-feira, o ex-primeiro-ministro paquistanês foi condenado a dez anos de prisão por divulgar segredos de Estado.

A condenação mais pesada chega a menos de dez dias das eleições legislativas a que foi impedido de se apresentar, marcadas para 8 de Fevereiro. E com Khan foi condenado à mesma pena um dos seus principais aliados, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Shah Mahmood Qureshi, que assumira a liderança do Movimento pela Justiça do Paquistão (PTI) quando a antiga estrela de críquete foi detida, em 2023.

O caso em que ambos eram acusados envolve um telegrama do embaixador paquistanês nos Estados Unidos, enviado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde este teria informado que um responsável norte-americano avisou que haveria “consequências” se Khan continuasse como primeiro-ministro — isto depois da sua visita à Rússia, no dia em Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. Num comício, em Março de 2022, Khan agitou em palco uma folha de papel que disse ser a prova de uma conspiração externa para o derrubar.

Sem nunca nomear o país que estaria por trás desse plano, disse que o documento explicava que “tudo será perdoado se Imran Khan for removido do poder”. Mas quando a oposição começou a mover-se para reunir apoios suficientes para fazer passar uma moção de censura, Khan acusou-os de estarem envolvidos com os generais no plano promovido por Washington para o derrubar.

Khan já está preso, a cumprir uma pena de três anos por corrupção — a condenação foi suspensa e o tribunal permitiu que fosse libertado sob fiança, o que não aconteceu precisamente por causa das acusações de violação de segredos de Estado. No caso de corrupção, um dos 150 processos que enfrenta, foi acusado de ter lucrado mais de 400 mil euros com a venda de artigos de luxo que recebeu como presentes quando era primeiro-ministro.

Desde a queda do seu governo, Khan tem mobilizado frequentemente os seus apoiantes, ao mesmo tempo que as autoridades reprimem todas as manifestações ligadas ao PTI e têm detido inúmeros dirigentes do partido, incluindo antigos ministros e deputados. Segundo o Ministério do Interior, entre Maio (quando Khan foi inicialmente detido) e Junho de 2023, quase 5000 aliados e apoiantes do ex-primeiro-ministro foram detidos, com grupos de direitos humanos a denunciar “detenções arbitrárias e até desaparecimentos forçados”, escreveu a Reuters.

"Quem é o inimigo?"

“Toda a liderança sénior do partido está na cadeia”, disse Khan, na altura, entrevistado pela agência de notícias. “E os únicos que conseguem sair são os que dizem que renunciam a ser parte do PTI.” Acusando “o establishment militar”, Khan diz que eles agora já nem se escondem, é tudo às claras”.

O Exército, que durante décadas fez e desfez governos no Paquistão, esteve com Khan quando este chegou ao poder. Agora, os jornalistas paquistaneses queixam-se de “uma cortina de censura imposta pelos militares, especialmente quando se trata de noticiar sobre Khan e o PTI”, descreve a Al-Jazeera.

Abdul Moiz Jaferii, advogado e comentador político ouvido pelo canal de televisão, explica que a sentença implica que haja uma divulgação “deliberada e intencional” de segredos de Estado em conspiração com um inimigo, e com a consciência de que isso seria prejudicial para o Estado. “Mal posso esperar para ver como é que o tribunal resolve isto. E quem é o inimigo com quem Khan e Qureshi queriam conspirar”, comentou.

“Os nossos advogados não foram autorizados a representar Imran Khan. Eles nem sequer puderam contra-interrogar as testemunhas”, disse à Al-Jazeera Syed Zulfiqar Bukhari, um porta-voz do partido. “O que aconteceu no tribunal foi uma farsa.”

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