Elon Musk diz que X é a rede social com menos conteúdo anti-semita. Vários estudos dizem o contrário

Várias fontes indicam que o conteúdo anti-semita na plataforma aumentou desde que Elon Musk comprou o X (antigo Twitter). Estudos também indicam que a rede social retira menos conteúdo contra judeus.

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Elon Musk afirmou, esta segunda-feira, que não é realista pensar em atingir 0% de conteúdo anti-semita no X Reuters/LUKASZ GLOWALA
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A frase

As auditorias externas que fizemos mostram que o X tinha a menor quantidade de anti-semitismo (...) — Elon Musk, na conferência organizada pela Associação Judaica Europeia

O contexto

Esta segunda-feira, 22 de Janeiro, depois de visitar Auschwitz, Elon Musk afirmou, numa conferência organizada pela Associação Judaica Europeia, na Polónia, que o X, plataforma que comprou em Outubro de 2022, teria menos conteúdo anti-semita do que as outras redes sociais.

Musk reconheceu, porém, que não será realista pensar numa erradicação total do conteúdo. “[A quantidade de conteúdo anti-semita] nunca será zero se tivermos 600 milhões de pessoas na plataforma. Esperar que seja zero é muito improvável”, terá dito o dono do X, citado pela CNN. Como escreve a emissora norte-americana, Musk não apresentou dados além de mencionar “auditorias externas” realizadas na rede social.

Em Novembro de 2023, foi o próprio Elon Musk que apoiou uma publicação anti-semita na plataforma.

“As comunidades judaicas têm forçado o mesmo ódio dialéctico contra brancos que eles dizem querer que as pessoas parem de usar contra eles. Estou profundamente desinteressado em importar-me, agora que as populações judaicas ocidentais repararam que aqueles grupos minoritários que apoiam inundar o seu país não gostem assim tanto deles”, dizia um utilizador. “Isso é verdade”, respondeu Musk.

Mais tarde, o bilionário pediu desculpa e disse que aquela publicação seria, provavelmente, a “pior e mais estúpida” que já teria feito.

Os factos

A Cyberwell, uma empresa israelita sem fins lucrativos que combate o discurso anti-semita online, analisou 313 publicações com conteúdo negacionista sobre o ataque do Hamas de 7 de Outubro no Facebook, Instagram, TikTok, X e YouTube.

De todo o conteúdo, 47,3% estava no X, 22% no Facebook, 17,3% no TikTok, 7,6% no Instagram e 5,8% no YouTube. Reportaram as publicações às respectivas plataformas e verificaram se, 24 horas depois, estas continuavam disponíveis. No final, o X foi a plataforma que removeu menos conteúdos, apenas 2,03% (o Facebook removeu 10,14%, o Instagram 25%, o TikTok 7,41%). O relatório aponta que o YouTube eliminou 0% do conteúdo, mas refere que, além da quantidade de vídeos ser pequena, a maioria apresentava “manipulação de media tirada de contexto” e não uma negação directa dos acontecimentos de 7 de Outubro.

A Anti-Defamation League fez uma comparação semelhante, entre o Facebook e o X, analisando a quantidade de publicações anti-semitas na semana anterior ao ataque do 7 de Outubro e na seguinte.

Foram analisados 162.958 tweets e 15.476 publicações de Facebook. No X, o conteúdo anti-semita aumentou 919% de uma semana para a outra. No Facebook, o aumento foi de 28%. Apesar de a organização reconhecer que o aumento no Facebook, devido ao facto de a amostra ser reduzida, não tem significância estatística, sublinha a enorme diferença nos incrementos percentuais entre plataformas.

A compra do Twitter por Elon Musk — o negócio foi concluído a 24 de Outubro de 2022 — também parece ter potenciado o crescimento do discurso anti-semita na plataforma. O Instituto para o Diálogo Estratégico juntou, no período entre o 1 de Junho de 2022 e o 9 de Fevereiro de 2023, 325.739 tweets contra judeus. De Junho a 27 de Outubro, a média semanal de publicação destes conteúdos era de 6204. Depois da compra, aumentou em 105%, para 12.762 publicações por semana.

Segundo o The Washington Post, a Memetica, empresa de investigação digital, contabilizou entre 7 de Outubro e 19 de Novembro de 2023 cerca de 46 mil utilizações do hashtag #Hitlerwasright”, que em português se traduziria para “Hitler estava certo”, no X. Antes do ataque do Hamas, o hashtag era utilizado menos de 5000 vezes por mês, escreve o jornal norte-americano.

Veredicto

Vários estudos, incluindo um de 22 de Janeiro, indicam que o X não é a rede social com menos discurso anti-semita. A frase proferida por Elon Musk é, portanto, falsa.

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