Imigrantes são dos mais vulneráveis ao VIH. São 5% da população mas representaram metade dos casos de infecção

Apesar de representarem 5% da população, imigrantes representaram metade dos novos infectados com VIH em 2022, sendo que 25 a 50% se infectaram no país de destino, segundo infecciologista.

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Há associações, como o GAT - Grupo de Ativistas em Tratamento, na Mouraria, em Lisboa, que fazem testes ao VIH e que garantem resultados em 30 minutos Daniel Rocha
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O infecciologista Francisco Antunes pediu esta terça-feira medidas para os imigrantes em Portugal, que constituem das populações mais vulneráveis ao VIH. Apesar de representarem 5% da população portuguesa, os imigrantes somaram metade dos novos casos diagnosticados em 2022.

"São considerados uma das populações mais vulneráveis à infecção por VIH e a outras infecções sexualmente transmissíveis, com um risco de se infectarem muito superior à população em geral", disse o médico do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no âmbito da conferência "O VIH e a Imigração - dupla discriminação", por ocasião dos " 40 Anos de SIDA em Portugal - Sida 4.0".

Para combater este problema, considerou, é necessário aumentar a prevenção, antecipar diagnósticos e facilitar o acesso ao sistema nacional de saúde para o tratamento do VIH.

"Um dos argumentos que tem sido utilizado para denegrir a imagem dos imigrantes relativamente à infecção VIH é que eles trazem a infecção dos países de origem para Portugal", mas "isso não é bem verdade" porque "25 a 50% das pessoas infectam-se no país de destino", alertou o médico.

No total, os imigrantes representam 5% da população portuguesa, mas esta população representam metade dos novos infectados com VIH em 2022, num total de 800 infecções.

"O estigma e a discriminação são, actualmente, as principais barreiras para os objectivos de eliminação da infecção por VIH, como problema de saúde pública, no ano de 2030, muito em particular em populações mais vulneráveis, como são os imigrantes", considerou, para sustentar que os imigrantes têm "poucos conhecimentos sobre como se previne, como se trata e onde" e o serviço de saúde em Portugal, apesar de ser dos países que tratam de casos de pessoas em situação ilegal, "é muito complexo e tem muitas barreiras" para os imigrantes.

De acordo com inquéritos realizados, "em Portugal, apenas 15% dos imigrantes usaram o preservativo na última relação sexual" e 16% "conheciam o seu estado em relação à infecção por VIH", uma tendência que é semelhante no resto da Europa.

"O diagnóstico nesta população de imigrantes é muito mais tardio em relação a outras populações", alertou o médico, considerando que esta desigualdade coloca os imigrantes numa situação de vulnerabilidade semelhante a "homens que têm sexo com homens, transexuais e os utilizadores de drogas injectáveis".

A diferença é que, ao contrário destes outros grupos, os imigrantes "como não conhecem a infecção, não sabem do risco que estão a correr", a que se soma o facto de serem "populações com risco muito grande de pobreza, de ficarem sem-abrigo e de sofrerem problemas de saúde mental".

A solução passa assim por implementar medidas que "aproximem estes imigrantes do sistema de saúde, do acesso aos preservativos, acesso à PrEP (profilaxia pré-exposição) e ao diagnóstico e tratamento". Isto implicará envolver as "farmácias de rua, centros de saúde, associações de doentes ou as comunidades associadas aos doentes".

O objectivo é "facilitar o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, desburocratizando e facilitando a navegação no sistema, com prestação de cuidados de saúde de proximidade, nos centros de saúde, farmácias comunitárias e associações de doentes", acrescentou o infecciologista.