Uma das queixas contra Gérard Depardieu foi arquivada por prescrição dos factos

A actriz Hélène Darras acusava o actor de a ter apalpado e assediado durante a rodagem do filme Disco, em 2007.

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Depardieu tem sempre negado as acusações Elisabetta A. Villa/Getty Images
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O Ministério Público francês arquivou a queixa da actriz Hélène Darras contra Gérard Depardieu, 75 anos, segundo a qual ela teria sido sexualmente agredida por ele durante a rodagem do filme Disco, em 2007, em que fora figurante.

A decisão jurídica anunciada esta segunda-feira, segundo o diário francês Libération, citando o canal televisivo BFMTV, terá tido como fundamento a prescrição dos factos e terá sido comunicada à queixosa no final de Dezembro.

Darras, na altura dos factos que alegou na sua queixa, teria 26 anos. Descreveu um Depardieu "impossível de gerir" durante a rodagem: "Olha-me como se eu fosse um pedaço de carne. Estou com um vestido ultra-colante, ele puxa por mim pela cintura, de seguida passa a mão pelas minhas ancas, sobre as minhas nádegas".

Aquele que "tresandava a álcool", como o definiu na queixa, perguntou-lhe depois se ela queria ir "para o [seu] camarim". "Eu disse que não", o que não impediu que entre os planos continuasse a assediá-la, garante Darras. Figurante, sem ter ainda acabado o curso de teatro, querendo ser actriz e não desejando ser posta de lado por qualquer gesto seu, ficou petrificada.

Hélène falou de hipotéticos factos praticados há 16 anos. O prazo de prescrição, em França, para as agressões sexuais, é de seis anos. Apesar de estar consciente disso, e ainda segundo o Libération, quis "responder à defesa que minimiza as denúncias considerando-as não mais do que testemunhos. Levei um ano a passar do testemunho à queixa", disse. "Passar a porta da esquadra, dizer a um polícia que nos tocaram nas partes íntimas não é evidente, é preciso tempo para reflectir", acrescentou.

As declarações de Darras e as imagens do programa de investigação Complément d'Enquête, em que Depardieu era filmado para um documentário, que não chegou a ser acabado, durante uma viagem em 2018 à Coreia do Sul, proferindo piadas grosseiras, alusões explícitas de carácter sexual, nomeadamente referindo-se a uma rapariga de dez anos que montava a cavalo, fizeram eclodir em França no final do ano passado aquilo que muitos já designam como a nouvelle vague do movimento #metoo.

Foi no final do ano, também, que surgiu no programa do canal franco-alemão Arte uma série de humor, Icon of French Cinema, escrita, realizada e interpretada pela actriz Judith Godrèche, em que, com os traços da autoficção, os anos 80 e 90 franceses são questionados como a era em que se filmaram raparigas jovens e se foi para a cama com elas. Godrèche acabou por, durante a promoção da série, individualizar o seu caso: foi uma das "musas" do cineasta Benoît Jacquot, tinha ela 14 e ele 40 anos, uma relação de seis anos que classifica como "abusiva", para a qual ela não tinha capacidade de dar "consentimento". Exactamente como a escritora Vanessa Springora, no seu livro Consentement, entretanto adaptado ao cinema, referindo-se à sua relação com o escritor Gabriel Matneff, 36 anos mais velho.

Este #metoo à francesa está a fazer-se sentir na sociedade francesa como um sismo, colocando de um lado os que defendem que há uma velha ordem que deve ser derrubada, como acontece numa revolução — destaque para actrizes como Sophie Marceau ou para a ex-ministra da Cultura Rima Abdul-Malak, que chegou a sugerir que Depardieu pudesse ser destituído da sua Legião de Honra — e, do outro, os que consideram que o princípio da presunção de inocência está a ser destronado por uma "caça às Bruxas": posição de pessoas como Carla Bruni, ex-primeira dama, ou de Emmanuel Macron, Presidente da República, que em declarações algo desastradas ancorou a sua indignação no facto de Depardieu ser um "actor imenso" que faz a França sentir-se "orgulhosa".

Entretanto, já 13 mulheres tomaram a palavra, acusando o intérprete de Cyrano de Bergerac de comportamento sexual indevido ao longo de duas décadas: apalpões, propostas explícitas indesejadas, abuso de poder e até “grunhidos insistentes” constam das denúncias das alegadas vítimas.​ Em Fevereiro de 2001, a actriz Charlotte Arnold acusou-o de violação, acto alegadamente cometido em 2018. Darras, aliás, foi ouvida como testemunha na investigação dessa denúncia, mas decidiu avançar com o seu próprio processo. Até hoje, Depardieu tem sempre negado a práticas de actos ilícitos.

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