Dono da Zara aproveita queda dos preços e investe mil milhões em imobiliário

O empresário espanhol investiu mais de mil milhões de euros em imobiliário no ano passado, numa altura em que os preços estão a cair. Fundos de investimento também aumentam aposta no sector.

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Amancio Ortega, fundador da Inditex, empresa que controla marcas como a Zara e a Massimo Dutti Reuters/MIGUEL VIDAL

Numa altura em que os preços do imobiliário já começam a cair em alguns dos principais mercados deste sector, incluindo em países europeus e em algumas regiões dos Estados Unidos, os grandes investidores voltam a apostar em força nesta área. Amancio Ortega, multimilionário espanhol, não foge a esta estratégia. No ano passado, o fundador da Inditex, empresa que detém marcas como a Zara, Pull&Bear ou Massimo Dutti, investiu mais de mil milhões de euros em imobiliário comercial e residencial.

A informação é avançada pelo Financial Times, que recolheu os números envolvidos nos negócios imobiliários que foram tornados públicos por Amancio Ortega. No conjunto de 2023, a Pontegadea, empresa de investimentos imobiliários detida pelo empresário espanhol, anunciou dez aquisições de imobiliário nos segmentos de logística, escritórios e residencial, num investimento total de 1,1 mil milhões de euros.

A maioria das aquisições concentra-se na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA). Entre os negócios contam-se um complexo logístico em Dublin, onde a Amazon tem instalado um centro, por 225 milhões de euros; uma torre de apartamentos de luxo em Chicago, por mais de 200 milhões de euros; e um armazém de distribuição nos Países Baixos, que está arrendado à Primark, por 100 milhões de euros.

A justificar esta aposta esteve um cenário de liquidez acima do esperado, motivado pelos dividendos entregues pela Inditex, o que levou a que a empresa de Amancio Ortega escapasse ao impacto da subida das taxas de juro, já que, de acordo com o Financial Times, terá avançado com as aquisições sem necessidade de recorrer a crédito. A isso, junta-se a correcção dos preços do imobiliário que já se faz sentir em várias regiões. “O grupo observou um ajustamento dos preços em vários segmentos na Europa, nos últimos meses”, disse Roberto Cibeira, presidente da Potegadea, ao mesmo jornal.

A queda dos preços é já evidente. Só no mercado habitacional, os preços na zona euro caíram 2,1% no terceiro trimestre do ano passado, face a igual período de 2022, mas chegaram a registar quedas a dois dígitos na Alemanha (onde os preços das casas recuaram 10,2%) e no Luxemburgo (onde a queda foi de 13,6%), de acordo com os dados mais recentes do Eurostat.

O mesmo está a acontecer nos Estados Unidos: desde o pico atingido no final de 2022, quando o preço mediano de uma casa naquele país era de 479,5 mil dólares (cerca de 442 mil euros à cotação actual), os valores têm vindo a cair e chegaram aos 431 mil dólares no terceiro trimestre de 2023, segundo os dados oficiais do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA.

Também no imobiliário comercial se observa esta tendência. Depois de um período alargado de taxas de juro historicamente baixas, que motivou a compra de grandes complexos logísticos, comerciais e de escritórios a custos reduzidos, a inversão de política monetária e consequente subida das taxas de juro veio encarecer os empréstimos contraídos para a aquisição destes imóveis. Isto, num contexto em que o teletrabalho e o crescimento do comércio online, que dispararam com a pandemia e acabaram por se tornar hábito em várias economias, fizeram baixar a procura por grandes espaços imobiliários.

Fundos apostam em imobiliário

Neste cenário, Amancio Ortega não está sozinho na estratégia agora adoptada e o crescimento do apetite pelo imobiliário já é evidente entre os fundos de investimento.

Um estudo recente do Bank of America, divulgado esta semana, mostra que os maiores fundos de investimento do mundo estão a apontar, sobretudo, para imobiliário e matérias-primas, procurando proteger-se da esperada queda das taxas de juro, depois do ciclo de subidas.

De acordo com o mesmo estudo, fundos com activos sob gestão num valor conjunto superior a 235 mil milhões de euros antevêem que sectores como o do imobiliário e o das matérias-primas irão beneficiar de uma queda das taxas de juro e, em Janeiro, a aposta em imobiliário por parte destes fundos de investimento atingiu os níveis mais altos em 12 meses.

Em sentido contrário, estes fundos têm vindo a reverter os investimentos, sobretudo, em obrigações, banca e seguradoras.

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