Vice-chanceler alemão acusa AfD de querer transformar Alemanha num Estado autoritário
Há vários protestos em cidades alemãs contra o partido de extrema-direita depois de alegado plano que prevê a deportação de imigrantes e até de pessoas com nacionalidade alemã.
O vice-chanceler alemão, Robert Habeck, disse, nesta quarta-feira, que o partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) pretende transformar a Alemanha num estado autoritário. O governante disse ainda que as ameaças do partido contra a democracia foram gravemente subestimadas e alertou para os riscos de um eventual falhanço da ilegalização do partido na justiça.
Numa semana marcada por protestos contra a AfD em várias cidades da Alemanha, o vice-chanceler alemão, que desempenha também as funções de ministro da Economia, disse que um eventual pedido de ilegalização do partido de extrema-direita pode comportar riscos "contraproducentes".
"Os danos que uma tentativa falhada causaria seriam enormes. É por isso que, se for apresentada uma queixa, esta terá de ser 100% aceite em tribunal. É algo que tem de ser considerado com muito cuidado", disse o político dos Verdes à revista Stern, citado pelo jornal The Guardian.
As declarações surgem depois de, na semana passada, ter sido revelado um encontro entre elementos deste partido – que nas sondagens contam com cerca de 20% das intenções de voto – e personalidades da extrema-direita violenta. Na reunião, que teve lugar num hotel em Potsdam, terá sido discutida a possibilidade de "remigração" de imigrantes, estrangeiros, mas também de pessoas com cidadania alemã. Vários partidos manifestaram-se na sequência deste caso, levantando-se novamente a hipótese de uma discussão em torno da ilegalização do partido.
Para o governante, "os partidos autoritários de direita querem transformar a Alemanha num Estado como a Rússia e estão a preparar-se para isso", disse, lamentando o facto de se ter subestimado o perigo do partido. Sem rejeitar a possibilidade da sua ilegalização, Robert Habeck diz que a decisão caberia ao Tribunal Constitucional, "e que os obstáculos são, como não podia deixar de ser, muito elevados, sendo, por isso, "as mesas de voto" a melhor forma de combate para estes casos.
Nesta quarta-feira, através das redes sociais, o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse estar "grato pelo facto de dezenas de milhares de pessoas terem saído para as ruas da Alemanha nos últimos dias para protestar contra o racismo e pela democracia liberal. Tudo isto dá-nos coragem e deixa claro: há muitos mais democratas do que aqueles que nos querem dividir.
Também a líder parlamentar dos Verdes, Katharina Dröge, reagiu contra o partido de extrema-direita. "Todos nós somos chamados agora, na nossa vida privada, no local de trabalho, no desporto, nas compras, a dizer claramente que votar no AfD é votar em extremistas de direita, que representam uma ameaça à democracia."